Folha de S.Paulo

Competição no trânsito

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A Prefeitura de São Paulo lançou um aplicativo para táxis que permite a motoristas e usuários negociarem descontos na corrida.

Opera-se como numa espécie de leilão reverso: o cliente anuncia o percentual do abatimento desejado, entre 10% e 40%; os taxistas que estiverem nas imediações podem ou não cobrir o lance.

Trata-se de iniciativa interessan­te, ainda que surja, como se tornou praxe na gestão de João Doria (PSDB), cercada de improviso.

Por ora, o mecanismo só funciona em um sistema operaciona­l, o Android, o que deixa parte dos consumidor­es de fora. Ainda não se sabe, ademais, quando o usuário poderá fazer o pagamento diretament­e pelo aplicativo.

Por enquanto, não haverá cobrança dos motoristas pelo uso da tecnologia. Numa segunda fase, em prazo ignorado, eles terão de arcar com esses custos.

Categoria organizada e atuante, os taxistas não raro recebem atenções especiais de governante­s e candidatos. Doria —prestes a deixar o cargo para disputar o governo do estado— lançou a novidade em ato público, com representa­ntes dos profission­ais.

Ainda que não seja desinteres­sada, a medida é bem-vinda.

Aplicativo­s que permitem a consumidor­es contratar transporte in- dividual vieram para ficar. Suas vantagens são inúmeras. O compartilh­amento de veículos que em outras circunstân­cias ficariam ociosos constitui uma forma de otimização de recursos —o que, ao fim e ao cabo, enriquece a sociedade.

Sistemas como o Uber e o Cabify permitem a milhares de pessoas, muitas das quais estavam desemprega­das, trabalhar por conta própria sem grande burocracia e necessidad­e de capital.

Pelo menos até aqui, as novas tecnologia­s levaram à redução de preços, o que possibilit­a a um contingent­e cada vez maior deslocarse com mais conforto e rapidez.

Para que tais efeitos perdurem, entretanto, é fundamenta­l que haja concorrênc­ia. Monopólios e cartéis são tão nocivos nesse setor como em qualquer outro.

Nesse contexto, o aplicativo da prefeitura é estratégic­o ao fomentar a competição, em particular na tarifa cobrada dos motoristas.

Enquanto as grandes empresas privadas levam de 15% e 25% do valor das corridas, o serviço paulistano deverá, quando passar a ser cobrado, ficar com algo próximo de 3% —quanto os técnicos estimam ser suficiente para cobrir os gastos com o sistema.

É política mais inteligent­e do que algum tipo de reserva de mercado, já pleiteado pelos taxistas.

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