Lula, Dilma e Antonia subtraem o mecanismo
Libelo frouxo contra a série de José Padilha reproduz clichês do vocabulário de autoajuda da esquerda pega com a mão no bolso alheio
Ao fim do libelo frouxo de Antonia Pellegrino publicado neste espaço (1º/4) contra a série “O Mecanismo”, de José Padilha, seguido a um bocejo, estranhei não haver a acusação de o diretor estar a serviço da CIA. Com esforço, reli o texto e, pá, lá estava a adiposidade: “... Padilha deixa de presente ao país onde não vive mais...”.
Assim como os americanos estão por trás do escândalo da Petrobras, de acordo com a justificativa lulista, a desmoralização de certa esquerda brasileira (de cepa sindicalista e de movimentos guerrilheiros) se dá por forças estrangeiras. Sai a CIA, entra a Netflix.
No texto de Pellegrino se dá a tentativa clássica da “intelligentsia” tupiniquim de classificar tudo o que aperta seus calos de “fascista”. Numa análise de marido-e-mulher, acusa-se o roteiro de propor uma saída além-política, pelas próprias mãos, e de acreditar que MP e PF não integram o “mecanismo”. É um tédio. São clichês do vocabulário de autoajuda da esquerda flagrada com a mão no bolso alheio.
Assim como as lideranças petistas não fizeram autocrítica pela prática de corrupção, a estreia de “O Mecanismo” revela um despreparo deles em análises estéticas. Ou seria desonestidade? Reclama-se de o roteiro colocar no colo do PT/ PMDB o escândalo do Banestado (ele surge sob o PSDB). Mas não anotam que a presença do personagem mais canalha da série é inspirada em Aécio Neves.
Estrebucha-se porque uma frase de Romero Jucá é posta na boca de Higino, inspirado em Lula. Ora, os dois eram correligionários: tudo o que é seu é meu, meu bem.
De outro lado se esquece propositalmente que se trata de uma série de ficção; não é um documentário. Na ficção, personagens, frases e acontecimentos podem ser tratados ... como ficção, Antonia!
Recursos como fusão, elipses e omissões são permitidos. E até acréscimos. Incomoda-me o personagem “O Mago”, inspirado em Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), de quem eu gostava bastante por sua delicadeza, ser retratado como um decrépito desalinhado. Ora, mas é uma vingança merecida: no governo, o advogado colocou sua inteligência a serviço do mal. É dele a dica para os tais “recursos não contabilizados”. Sabe, em nome da Causa, tudo vale?
O problema de Antonia e de seus companheiros é recorrer a artifíci- os desonestos para esconder a receita do bolo. De onde se tirou que “O Mecanismo” sugere como alternativa à democracia o apoio à ditadura ou a Bolsonaro? Há, sim, uma desilusão niilista com a contaminação da sociedade, vinda de priscas eras portuguesas, com a complacência brasileira diante da corrupção —portanto, desalento com a sua prática recorrente.
Niilista porque parece ser atávica: basta ler “História da Riqueza no Brasil”, de Jorge Caldeira, para se flagrar os diferentes matizes do nosso jeitinho verde-amarelo de pular a cerca. Estava nas práticas tupinambás de poder: é dando que se recebe. Antonia, por que Arariboia mudou de lado? Por dinheiro e poder. E por que o PT montou uma chapa com o PMDB? Se adivinhar, ganha um jantar com Nicolás Maduro no Celeiro da Dias Ferreira.
Mistificações como a de Antonia Pellegrino é que podem nos levar ao fundo do poço com a eleição de Bolsonaro. Sua análise, e de seus companheiros de viagem, se recusa a admitir o desencanto da população provocado pelo escancaramento do assalto ao erário. Faz parte do show: a esquerda refugou em reconhecer os crimes de Stalin. Putin agradece. MIGUEL DE ALMEIDA
No roteiro idealista que a Constituição prevê para a construção de sociedade justa, livre e solidária, está que ninguém poderá ser considerado culpado senão após o trânsito em julgado de sentença condenatória. Sem trânsito em julgado, não é ainda culpado e, por isso, não pode ser punido. Na realidade carcerária do país, levar logo para a prisão para cumprir pena quem ainda não teve julgado o último recurso só agrava o problema prisional. Augusto Botelho tem razão (“Constituição para todos”, Tendências / Debates, 4/4); Dodge, “boas intenções”...
ROBERTO SOARES GARCIA,
Neofascimo Breno Altman se esqueceu de mencionar que a incompetência e os escândalos de corrupção que envolvem a esquerda —na sua representação mais perniciosa, que foi o lulopetismo— estão entre os principais motivos do surgimento desta extrema direita (“De onde vem o perigo do fascismo”, Tendências / Debates, 2/4).
MARCELO SZPEKTOR
LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: COTIDIANO A palavra “cassadas” foi grafada incorretamente na coluna “Lugar de escuta, lugar de fala”, de Vera Iaconelli.
Não entendemos como o jornal deixou publicar o artigo “Religião, ficção ou realidade?” de Hélio Schwartsman (Opinião, 3/4). Se o homem não entende nada a respeito da dimensão transcendente da pessoa humana, melhor não escrever a respeito a fim de não ferir a sensibilidade religiosa do povo.
MIGUEL LEMARCHAND,
Com relação à carta de dom Devair Araujo da Fonseca (Painel do Leitor, 3/4), cabe-me esclarecer que mais grave no artigo foi pôr em dúvida a virgindade de Nossa Senhora, ponto não tratado pelo bispo auxiliar, não as bobagens que o papa porventura tenha dito.
JOSÉ RONALDO CURI,
Bicicletas A bicicleta de Cristiano Ronaldo foi bonita, mas não se compara às do nosso Leônidas da Silva, que eram uma sinfonia no ar, um lance magistral e histórico (“Após voar, Ronaldo é ovacionado por rivais”, Esporte, 4/4).
LUIZ ERNESTO KAWALL
ILUSTRADA No texto “Ironia cega”, de Marcelo Coelho, sobre o filme “Imagens do Estado Novo 1937-1945”, mencionase erroneamente um “ataque nazista a navios alemães”, quando o correto é “ataque nazista a navios brasileiros”. Também o político Armando de Salles Oliveira foi erradamente identificado na coluna como Armando Salles de Oliveira.