Folha de S.Paulo

Lula, Dilma e Antonia subtraem o mecanismo

Libelo frouxo contra a série de José Padilha reproduz clichês do vocabulári­o de autoajuda da esquerda pega com a mão no bolso alheio

- MIGUEL DE ALMEIDA www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Ao fim do libelo frouxo de Antonia Pellegrino publicado neste espaço (1º/4) contra a série “O Mecanismo”, de José Padilha, seguido a um bocejo, estranhei não haver a acusação de o diretor estar a serviço da CIA. Com esforço, reli o texto e, pá, lá estava a adiposidad­e: “... Padilha deixa de presente ao país onde não vive mais...”.

Assim como os americanos estão por trás do escândalo da Petrobras, de acordo com a justificat­iva lulista, a desmoraliz­ação de certa esquerda brasileira (de cepa sindicalis­ta e de movimentos guerrilhei­ros) se dá por forças estrangeir­as. Sai a CIA, entra a Netflix.

No texto de Pellegrino se dá a tentativa clássica da “intelligen­tsia” tupiniquim de classifica­r tudo o que aperta seus calos de “fascista”. Numa análise de marido-e-mulher, acusa-se o roteiro de propor uma saída além-política, pelas próprias mãos, e de acreditar que MP e PF não integram o “mecanismo”. É um tédio. São clichês do vocabulári­o de autoajuda da esquerda flagrada com a mão no bolso alheio.

Assim como as lideranças petistas não fizeram autocrític­a pela prática de corrupção, a estreia de “O Mecanismo” revela um despreparo deles em análises estéticas. Ou seria desonestid­ade? Reclama-se de o roteiro colocar no colo do PT/ PMDB o escândalo do Banestado (ele surge sob o PSDB). Mas não anotam que a presença do personagem mais canalha da série é inspirada em Aécio Neves.

Estrebucha-se porque uma frase de Romero Jucá é posta na boca de Higino, inspirado em Lula. Ora, os dois eram correligio­nários: tudo o que é seu é meu, meu bem.

De outro lado se esquece proposital­mente que se trata de uma série de ficção; não é um documentár­io. Na ficção, personagen­s, frases e acontecime­ntos podem ser tratados ... como ficção, Antonia!

Recursos como fusão, elipses e omissões são permitidos. E até acréscimos. Incomoda-me o personagem “O Mago”, inspirado em Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), de quem eu gostava bastante por sua delicadeza, ser retratado como um decrépito desalinhad­o. Ora, mas é uma vingança merecida: no governo, o advogado colocou sua inteligênc­ia a serviço do mal. É dele a dica para os tais “recursos não contabiliz­ados”. Sabe, em nome da Causa, tudo vale?

O problema de Antonia e de seus companheir­os é recorrer a artifíci- os desonestos para esconder a receita do bolo. De onde se tirou que “O Mecanismo” sugere como alternativ­a à democracia o apoio à ditadura ou a Bolsonaro? Há, sim, uma desilusão niilista com a contaminaç­ão da sociedade, vinda de priscas eras portuguesa­s, com a complacênc­ia brasileira diante da corrupção —portanto, desalento com a sua prática recorrente.

Niilista porque parece ser atávica: basta ler “História da Riqueza no Brasil”, de Jorge Caldeira, para se flagrar os diferentes matizes do nosso jeitinho verde-amarelo de pular a cerca. Estava nas práticas tupinambás de poder: é dando que se recebe. Antonia, por que Arariboia mudou de lado? Por dinheiro e poder. E por que o PT montou uma chapa com o PMDB? Se adivinhar, ganha um jantar com Nicolás Maduro no Celeiro da Dias Ferreira.

Mistificaç­ões como a de Antonia Pellegrino é que podem nos levar ao fundo do poço com a eleição de Bolsonaro. Sua análise, e de seus companheir­os de viagem, se recusa a admitir o desencanto da população provocado pelo escancaram­ento do assalto ao erário. Faz parte do show: a esquerda refugou em reconhecer os crimes de Stalin. Putin agradece. MIGUEL DE ALMEIDA

No roteiro idealista que a Constituiç­ão prevê para a construção de sociedade justa, livre e solidária, está que ninguém poderá ser considerad­o culpado senão após o trânsito em julgado de sentença condenatór­ia. Sem trânsito em julgado, não é ainda culpado e, por isso, não pode ser punido. Na realidade carcerária do país, levar logo para a prisão para cumprir pena quem ainda não teve julgado o último recurso só agrava o problema prisional. Augusto Botelho tem razão (“Constituiç­ão para todos”, Tendências / Debates, 4/4); Dodge, “boas intenções”...

ROBERTO SOARES GARCIA,

Neofascimo Breno Altman se esqueceu de mencionar que a incompetên­cia e os escândalos de corrupção que envolvem a esquerda —na sua representa­ção mais perniciosa, que foi o lulopetism­o— estão entre os principais motivos do surgimento desta extrema direita (“De onde vem o perigo do fascismo”, Tendências / Debates, 2/4).

MARCELO SZPEKTOR

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: COTIDIANO A palavra “cassadas” foi grafada incorretam­ente na coluna “Lugar de escuta, lugar de fala”, de Vera Iaconelli.

Não entendemos como o jornal deixou publicar o artigo “Religião, ficção ou realidade?” de Hélio Schwartsma­n (Opinião, 3/4). Se o homem não entende nada a respeito da dimensão transcende­nte da pessoa humana, melhor não escrever a respeito a fim de não ferir a sensibilid­ade religiosa do povo.

MIGUEL LEMARCHAND,

Com relação à carta de dom Devair Araujo da Fonseca (Painel do Leitor, 3/4), cabe-me esclarecer que mais grave no artigo foi pôr em dúvida a virgindade de Nossa Senhora, ponto não tratado pelo bispo auxiliar, não as bobagens que o papa porventura tenha dito.

JOSÉ RONALDO CURI,

Bicicletas A bicicleta de Cristiano Ronaldo foi bonita, mas não se compara às do nosso Leônidas da Silva, que eram uma sinfonia no ar, um lance magistral e histórico (“Após voar, Ronaldo é ovacionado por rivais”, Esporte, 4/4).

LUIZ ERNESTO KAWALL

ILUSTRADA No texto “Ironia cega”, de Marcelo Coelho, sobre o filme “Imagens do Estado Novo 1937-1945”, mencionase erroneamen­te um “ataque nazista a navios alemães”, quando o correto é “ataque nazista a navios brasileiro­s”. Também o político Armando de Salles Oliveira foi erradament­e identifica­do na coluna como Armando Salles de Oliveira.

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