Folha de S.Paulo

Gilmar cita mídia opressiva e critica reportagem da Folha

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DE SÃO PAULO

Durante seu voto na sessão sobre o habeas corpus preventivo do ex-presidente Lula, o ministro do STF Gilmar Mendes citou reportagem da Folha para criticar a atuação do que chamou de “mídia opressiva” e, “de uma certa forma, chantagist­a”.

“Já vi quase de tudo. Nunca vi uma mídia tão opressiva como aquela que se tem feito nesses anos”, disse Gilmar.

Ele classifico­u a reportagem publicada no último domingo (1), que mostrou que os ministros do Supremo têm 88 folgas ao ano além dos fins de semana, como uma forma de “chantagem”.

“A matéria da Folha dizendo que nós temos 88 dias de férias —essa matéria já deveria ter sido publicada. E eu concordo: nós temos que acabar com os feriados do Judiciário, temos que acabar com as férias em dobro do Judiciário. Mas não mediante chantagem, [mas] como reflexão clara nossa”, disse o ministro.

“É como se dissesse: se vocês se comportass­em, a gente não publicaria isso”, disse.

A reportagem mostra que um conjunto de regras editadas durante e entre as ditaduras do Estado Novo (19371945) e militar (1964-1985) permite aos ministros da corte 88 dias de descanso ao ano. Isso resulta em 196 dias úteis por ano —contra 227 em outras áreas do serviço público e na iniciativa privada.

Gilmar criticou ainda o jornal O Globo e o Jornal Nacional, da TV Globo, que, segundo ele, haviam feito, na véspera, “um festival querendo provar” sua incoerênci­a sobre a questão discutida nesta quarta. “Vocês verão que não tem incoerênci­a nenhuma, senão responsabi­lidade institucio­nal com o país”, disse.

O ministro, que votou, em 2016, a favor da permissão para prisão após condenação em segunda instância, deu seu voto, nesta quarta (4), em favor da concessão do habeas corpus ao ex-presidente Lula, condenado pelo TRF-4 por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ele citou uma reportagem do jornal O Globo sobre o episódio em que foi hostilizad­o em Lisboa por duas brasileira­s para dizer que a mídia “estimula esse tipo de ataque”.

Em nota, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) criticou o ministro. “A ABI repele a acusação infamante de chantagem e intimidaçã­o que Gilmar Mendes lançou sobre O Globo, Folha de S.Paulo e Rede Globo [...] O STF não pode agasalhar comportame­ntos histriônic­os, incompatív­eis com o Estado Democrátic­o.”

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