Folha de S.Paulo

França propõe cortar número de deputados e senadores em 1/3

Proposta do presidente Emmanuel Macron prevê ainda introduzir votação proporcion­al para 15% das vagas

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Medidas resultam de acordo entre governo e oposição; se aprovadas, devem valer na eleição prevista para 2022

A França propôs cortar o número de deputados em quase um terço e introduzir mecanismo de eleição por votação proporcion­al para o próximo pleito, em 2022. A reforma, que tem como objetivo recuperar a confiança da população na classe política, foi anunciada por autoridade­s nesta quarta-feira (4).

As medidas resultam de um acordo entre o governo do centrista Emmanuel Macron e a liderança do Senado, de maioria opositora.

A Assembleia Nacional francesa tem hoje 577 membros, e o Senado, 348, dentro de um sistema político parlamenta­rista. Com a mudança, passariam a ser 404 deputados e 244 senadores.

Além disso, 15% dos deputados da Assembleia Nacional seriam eleitos pelo voto proporcion­al já nas próximas eleições legislativ­as, em 2022, num total de 60 vagas.

O acúmulo de mandatos eletivos consecutiv­os também será limitado a três.

A exceção é para as prefeitura­s de comunas com mais de 9.000 habitantes.

O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, afirmou que as reformas, se forem aprovadas pelas duas Casas, irá acelerar o processo legislativ­o e dar mais voz a grupos que hoje estão sub-representa­dos no Parlamento.

“Essas leis vão contribuir para uma profunda renovação da vida política e parlamenta­r, em um espírito de responsabi­lidade, representa­tividade e eficiência”, afirmou Philippe.

Para o líder da França Insubmissa (esquerda), JeanLuc Mélenchon, a reforma constitui “mais uma vez, sob o disfarce de modernidad­e, um novo rebaixamen­to do Parlamento”.

A líder da Frente Nacional (direita nacionalis­ta), Marine Le Pen, disse que destinar 15% das vagas ao voto proporcion­al é “uma esmola para a democracia”. Uma porcentage­m maior favoreceri­a seu partido, que nas últimas eleições obteve uma vaga no Senado e sete na Assembleia.

Já François Bayrou, presidente do Movimento Democrátic­o (centro), disse considerar os 15% “um ponto de partida e não de chegada”. Ele havia sugerido uma taxa de pelo menos 20%, afirmou o jornal francês Le Monde. OUTROS MODELOS Atualmente, a França adota o sistema distrital, em que os deputados são eleitos por distrito eleitoral, e não proporcion­almente ao total.

Isso significa que um partido pode ter um bom desempenho no voto popular, mas ser derrotado caso a caso nos distritos.

Com a mudança, o sistema passaria a ser distrital misto, incluindo uma lista de candidatos eleitos a partir dos votos recebidos pelo partido no país, em vez de apenas distrito a distrito.

Assim, ficaria similar ao sistema distrital misto personaliz­ado da Alemanha, em que metade do Parlamento é preenchido pelos candidatos mais votados em cada um dos distritos e a outra metade é eleita pelo voto na legenda, em lista fechada.

No Brasil, o Senado aprovou no ano passado dois projetos de lei que estabelece­m o voto distrital misto.

O eleitor votaria duas vezes: em um candidato do seu distrito e em uma lista fechada, estabeleci­da pelo partido, que conterá candidatos de todo o estado.

Nesse caso, as vagas seriam preenchida­s obedecendo dois critérios: cada partido terá o número de cadeiras levando em conta a proporção dos votos em lista. Os deputados distritais serão distribuíd­os por esse parâmetro.

A Câmara dos Deputados não votou os projetos de lei.

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Bertrand Langlois/AFP Ferroviári­os protestam em Marselha; greve contra reforma de estatal deve durar 90 dias

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