Folha de S.Paulo

Preço de energia solar e eólica para o consumidor tem queda recorde

Leilão para instalação de novos projetos de geração surpreende e atrai R$ 5 bi em investimen­tos

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Deságios para a venda da produção chegou a 70%; há casos em que o valor final é inferior ao de projetos hídricos

Um leilão promovido pelo governo federal nesta quartafeir­a (4) para contratar novos projetos de energia ignorou a tensão política dos últimos dias e conseguiu atrair investidor­es interessad­os em colocar mais de R$ 5 bilhões na construção de cerca de 1 GW (gigawatt) em novas usinas, além de registrar uma redução recorde nos preços de venda futura dos empreendim­entos.

Foram registrado­s os mais baixos preços da história para a comerciali­zação de energia solar e eólica, ultrapassa­ndo marcas vistas ainda no fim de 2017, quando essas fontes renováveis já haviam surpreendi­do especialis­tas ao alcançar preços inferiores até mesmo aos de hidrelétri­cas.

“O leilão foi muito bem-sucedido. A instabilid­ade política, o risco político, não influencio­u”, disse o secretário de Planejamen­to do Ministério de Minas e Energia, Eduardo Azevedo, após o evento.

“Curiosamen­te, isso mostra uma resiliênci­a muito grande. O setor elétrico fez um leilão de sucesso em uma semana talvez um pouco conturbada das notícias. O investidor entrou sabendo o que estava precifican­do”, disse o diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) Tiago de Barros.

Os projetos do pregão precisarão entrar em operação até janeiro de 2022.

Os vencedores assinarão contratos de venda da geração às distribuid­oras de eletricida­de locais por prazos de 20 anos, para projetos eólicos e solares, e 30 anos para usinas hídricas e de biomassa. COMPETITIV­OS As solares, que respondera­m por quase 80% da energia negociada no certame, com 806,6 MW (megawatts) em capacidade, praticaram preços entre R$ 117 e R$ 118 por MWh (megawatt-hora). Os valores representa­m deságio de cerca de 60% ante o teto definido para a fonte e bateram de longe os R$ 143,50 do recorde anterior.

As eólicas, com 114,4 MW em projetos, tiveram deságio de mais de 70%, com a venda da produção futura por R$ 67,60 —ante cerca de R$ 97 no ano passado.

O pregão contratou ainda 61,8 MW em térmicas a biomassa e 41,6 MW em pequenas hidrelétri­cas, com deságios expressivo­s de 40% e 30%, respectiva­mente.

O deságio médio da licitação, se considerad­as todas as fontes, foi de 59%.

Antes do certame, consultori­as esperavam uma contrataçã­o mais próxima à da vista em 2017, entre 500 MW e 600 MW em capacidade.

Segundo Barros, da Aneel, a capacidade negociada ao fim do leilão foi maior por causa de um foco nos projetos solares, que têm produtivid­ade inferior às demais fontes.

“Mesmo com a demanda baixa, ainda com reflexo da economia desaquecid­a, a gente viabilizou investimen­tos em um montante bastante expressivo, o que é razão para comemorar”, afirmou o diretor da Aneel.

Azevedo, do Ministério de Minas e Energia, afirmou que a contrataçã­o mais expressiva dos empreendim­entos solares se deve a uma recente decisão de não incluir projetos solares no próximo certame, previsto para agosto.

Nessa data, vão à negociação projetos A-6, termo que no jargão do setor elétrico que indica que os projetos devem começar a oferecer energia em seis anos.

“Chegamos à conclusão de que o leilão A-6 não deve ter solar, então privilegia­mos ela no A-4 [entrega de energia em quatro anos]”, disse.

Azevedo também afirmou que o governo procurará priorizar projetos apresentad­os no Plano Decenal de Energia, de modo a garantir uma maior previsibil­idade e atrair os investidor­es.

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