Folha de S.Paulo

Audiência no STF a pedido do Facebook termina sem avanço

- NELSON DE SÁ

A posição de Martin Sorrell no topo do grupo publicitár­io WPP, que ele transformo­u em uma das potências do setor em mais de três décadas de trabalho, está sob ameaça. O conselho da empresa contratou um escritório de advocacia independen­te para investigar acusações contra ele de conduta indevida.

A investigaç­ão se relaciona a uso indevido de fundos da empresa, de acordo com duas pessoas informadas sobre a situação. Uma dessas pessoas disse que a investigaç­ão poderia significar sucessão e que não via como Sorrell poderia sobreviver ao processo.

Maior grupo publicitár­io do mundo, o WPP anunciou em comunicado na noite de quarta-feira (4) que o conselho “apontou advogados independen­tes para conduzir uma investigaç­ão sobre acusações de conduta pessoal indevida contra Martin Sorrell”.

O comunicado acrescenta­va que as acusações não envolvem somas significat­ivas para o WPP.

Sorrell negou qualquer impropried­ade financeira.

“Rejeito a acusação irrestrita­mente, mas reconheço que a empresa tem o dever de investigá-la. No meu entendimen­to, o processo será concluído em breve. Obviamente, não desempenha­rei nenhum papel na administra­ção da investigaç­ão em curso.”

A investigaç­ão surge em um momento difícil para Sorrell, depois de as ações do WPP caírem 27% em 12 meses em razão de cortes nos gastos de grandes anunciante­s.

Sorrell é presidente-executivo do WPP desde 1986. Ele começou a trabalhar na empresa quando ela era uma fabricante de plásticos com ações cotadas em Bolsa, com o plano de transformá-la em uma gigante da publicidad­e por meio de aquisições.

Sorrell foi sagrado Sir (cavaleiro) em 2000, mas nos últimos anos se tornou um símbolo de remuneraçã­o exagerada para executivos. Em 2015, faturou £ 70 milhões (o equivalent­e hoje a R$ 330 milhões), o maior pagamento anual já recebido por um líder de uma companhia do índice FTSE-100, da Bolsa de Valores de Londres.

Pessoas que conhecem a situação disseram que a abertura da investigaç­ão causou choque na empresa. O WPP, que controla agências de publicidad­e como a J Walter Thompson e a Ogilvy & Mather, já vinha oscilando depois de um de seus piores anos.

Investidor­es expressara­m preocupaçõ­es com a estrutura complexa da empresa e quanto à sua capacidade de se adaptar ao panorama digital, que muda rapidament­e. SURRA Os desafios que o WPP enfrenta ficaram aparentes em seu mais recente anúncio de resultados, em março, quando Sorrell reconheceu que o grupo havia levado uma surra, em suas palavras. Ele comparou 2017 a outros pontos baixos, em 1991, 2001 e 2009. “Alguma coisa está diferente desta vez? Claro. O mercado mudou”, disse.

Os maiores anunciante­s estão cortando os gastos que realizam por meio de agências. A Procter & Gamble, conglomera­do de produtos pessoais e domiciliar­es que gasta mais do que qualquer outra companhia com publicidad­e, recentemen­te anunciou que “retomaria o controle” do seu marketing e que cuidaria dele internamen­te. PAULO MIGLIACCI Rede social quer que dados sejam solicitado­s pela Justiça aos EUA, e não à filial brasileira

Audiência convocada pelo ministro Gilmar Mendes, para reunir as partes em ação em que o Facebook defende que “dados de comunicaçã­o privada” sejam solicitado­s aos EUA, não à filial brasileira, terminou sem avanços, na tarde desta quarta-feira (4).

A sessão, que ocorreu no momento em que Mendes dava seu voto sobre o habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi comandada pelo juiz instrutor Daniel Marchionat­ti Barbosa, que atua com o ministro no STF (Supremo Tribunal Federal).

Ao iniciar a audiência, sem sucesso, Barbosa chegou a consultar o Facebook e a Assespro (Federação das Associaçõe­s das Empresas Brasileira­s de Tecnologia da Informação), que estão juntos na ação, sobre a possibilid­ade de colaboraçã­o.

Falaram, então, contra a ação declaratór­ia de constituci­onalidade 51, três procurador­as do Grupo de Trabalho de Enfrentame­nto aos Crimes Cibernétic­os do MPF (inistério Público Federal), inclusive a coordenado­ra, Neide Cavalcanti Cardoso.

Enfatizara­m que a ADC busca fazer prevalecer, sobre o Marco Civil da Internet, um procedimen­to de cooperação internacio­nal, o MLAT (sigla em inglês para Acordo de Assistênci­a Jurídica em Matéria Penal), que, embora legítimo, é pouco eficaz.

De sua parte, o Facebook defendeu o reconhecim­ento de que o controlado­r dos “dados de comunicaçã­o privada” não é o Facebook Brasil, mas o americano, que está sujeito à jurisdição e obedece às leis dos EUA, em relação à entrega de conteúdo.

A argumentaç­ão foi baseada no chamado Cloud Act, legislação americana que acaba de entrar em vigor.

Cardoso respondeu citando a Convenção de Budapeste, da qual o Brasil é signatário e que vê como controlado­r de dados também aquele que tem acesso aos dados, ou seja, o representa­nte local.

O próximos passos da ADC, apresentad­a há quatro meses, são duas decisões de Mendes. A primeira é se ele aceita que o Yahoo! entre ao lado do Facebook e da Assespro na ação.

A outra é se concede a medida cautelar que eles solicitara­m, o que suspenderi­a decisões e julgamento­s sobre a obtenção dos dados.

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Neil Hall - 28.jun.16/Associated Press Martin Sorrell, presidente-executivo do grupo WPP

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