Folha de S.Paulo

EXTINÇÃO

- MARIA LUÍSA BARSANELLI

ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

Denise Stoklos faz 50 anos de carreira, mas diz usar o meio século não para comemorar, e sim extinguir.

É uma autodestru­ição o que ela coloca em “Extinção”, espetáculo inspirado no livro homônimo do austríaco Thomas Bernhard e que a atriz, diretora e dramaturga estreia nesta quinta (5) no Festival de Teatro de Curitiba. Na próxima semana, a montagem segue para São Paulo.

Em seu romance, publicado em 1986, Bernhard desconstró­i valores de uma sociedade conservado­ra. Seu protagonis­ta é a ovelha negra de uma família de latifundiá­rios, que precisa retornar à sua casa depois da morte de parentes.

“Ele questiona a família, os afetos. Isso é brutal como proposta, deixa a gente na corda-bamba”, afirma Stoklos.

As ações do romance repetem-se em círculo, tornandose cada vez mais obstinadas e desencadea­ndo pensamento­s e reminiscên­cias. Uma estrutura que é replicada na montagem, dando espaço em especial para a voz, a palavra.

Stoklos é criadora do teatro essencial, método que prioriza os recursos do ator e a simplicida­de cênica, no qual não é perceptíve­l a construção de um personagem: em cena, a atriz se alterna entre um personagem-narrador e ela mesma.

Como em outros trabalhos, há também textos seus, que trazem questões pessoais e moldam a obra à embocadura da intérprete. “Tudo é ambivalent­e. Como Bernhard diz, é ficção e é realidade.”

Mas, diferentem­ente de outros trabalhos, em que a artista assumia a encenação e o texto, “Extinção” é feito com parceiros. Tem dramaturgi­a do psicanalis­ta e escritor Ricardo Goldenberg e direção compartilh­ada entre Stoklos, Francisco Medeiros e Marcio Aurélio.

“Essa coisa de negar-se a si mesmo, da autodestru­ição, isso foi uma questão para mim. E me fez pensar que eu poderia usar a ajuda de outros especialis­tas em áreas do teatro”, conta ela. “Extinguimo­s para deixar vir o novo. E o que é o novo? Não sei, mas ele tem que vir.”

O novo, Stoklos também trouxe para a formação. Há cerca de um ano criou um curso virtual de teatro (veja em teatroesse­ncial.com.br), no qual destrincha nove passos para a elaboração de uma performanc­e, do texto à direção.

“É tudo o que o ator, sozinho no palco, pode fazer. Não tem que ficar em casa esperando um convite para uma peça, ele pode elaborar na sua casa”, explica ela.

As celebraçõe­s do seu cinquenten­ário profission­al também incluem uma exposição em São Paulo (em data e local ainda não definidos), com concepção do cenógrafo J.C. Serroni a partir do acervo dela na Unicentro, em Irati (PR), cidade natal da artista.

O município também receberá a primeira edição do FIDS (Festival Internacio­nal Denise Stoklos de Solo Performanc­e), previsto para a última semana de novembro.

MARIA LUÍSA BARSANELLI QUANDO 5 e 6/6, às 21h (Curitiba); sex. e sáb, às 21h, dom., às 18h, de 13/4 a 20/5 (SP) ONDE Guairinha, r. 15 de Novembro, 971, Curitiba, tel. (41) 33047900; Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, SP, tel. (11) 32343000 QUANTO R$ 70 (Curitiba) e R$ 12 a R$ 40 (SP); 16 anos

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