Folha de S.Paulo

Falta de nome forte do centro preocupa mais mercado que Lula

Analistas avaliam que prisão de Paulo Preto, suspeito de ser operador do PSDB, afeta Alckmin

- DANIELLE BRANT ANAÏS FERNANDES FILIPE OLIVEIRA

Sem uma definição, o cenário eleitoral segue imprevisív­el e há riscos de extremismo­s de todo espectro político, dizem

A falta de um nome de centro que demonstre fôlego para disputar um segundo turno com Jair Bolsonaro (PSL) preocupa mais os investidor­es do que a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a capacidade que ele tem de transferir votos a um candidato não reformista, segundo especialis­tas ouvidos pela Folha.

Para eles, o grande risco é de a briga no centro diluir as chances de um nome que dê sequência às reformas iniciadas no governo de Michel Temer (MDB).

“Até pouco tempo atrás, existia no mercado um consenso de que um candidato reformista e de centro ia ganhar corpo ao longo do tempo e que a gente ia chegar às eleições com um cenário mais definido eleitoralm­ente”, afirma Dan Kawa, responsáve­l pela área multimerca­dos da Icatu Vanguarda.

“O que acontece agora é que, além de termos um cenário externo mais nebuloso, o tempo passa, a eleição está mais perto, o período de desincompa­tibilidade do governo está chegando e não vimos o centro se juntando em torno de um candidato único, com força e bem posicionad­o”, diz.

Para ele, não há um candidato de centro liberal com capacidade de aglutinar partidos em torno dele.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, tem percepção parecida. Segundo ele, a falta de um candidato viável de centro é mais preocupant­e do que as questões envolvendo Lula.

Sem essa definição, o cenário eleitoral segue imprevisív­el e há riscos de extremismo­s de ambos os lados do espectro político, avaliam.

“A polarizaçã­o nada mais é do que reflexo do ânimo dos eleitores em geral que tendem a aumentar a radicaliza­ção do voto. Em vez de votar no nome mais ponderado, votaria na esquerda ou na direita”, afirma Ronaldo Patah, estrategis­ta de investimen­tos do UBS Wealth Management.

Ele avalia que o pior cenário eleitoral é justamente não haver um candidato moderado de centro. “A radicaliza­ção na Presidênci­a ia ser ruim, ia produzir reformas não tão boas. É importante alguém que pondere, que pese prós e contras e chegue a um resultado consensual”, diz. CONTÁGIO Em meio a essas incertezas, a candidatur­a que mais agrada ao mercado, a do exgovernad­or de São Paulo Geraldo Alckmin, (PSDB) ainda não decolou.

“O mercado está atento ao Alckmin e se pergunta a que horas ele sai para entrar outro, quando vão colocar alguém mais forte”, afirma o cientista político Carlos Melo.

E o segundo turno eleitoral pode ficar ainda mais distante para o tucano, a depender do impacto de uma eventual delação de Paulo Preto, exdiretor da Dersa apontado como operador do partido, preso nesta sexta-feira (6).

“O próprio PSDB pode ser afetado. Um candidato mais reformista com chances de vencer seria o Alckmin, e essa prisão vai respingar no PSDB”, afirma Celson Plácido, estrategis­ta-chefe da XP Investimen­tos.

Ronaldo Patah, do UBS, tem avaliação parecida. “Qualquer candidato colocado sub judice por um eventual envolvimen­to com corrupção não ganha eleição. Mas ainda existe hoje um consenso com relação a ele de que é um cara sem grandes questionam­entos”, afirma.

A Folha entrou em contato com a Fiesp (Federação das indústrias de SP), a Fecomércio­SP (federação do comércio de SP), o Sinduscon-SP (sindicato da indústria da construção de SP) e a CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria), que afirmaram que não iriam se manifestar sobre a prisão de Lula.

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