Folha de S.Paulo

Na primeira sessão de ‘2001’

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RIO DE JANEIRO - No próximo dia 29, às três da tarde, serão 50 anos do dia e hora em que a cortina do cinema Roxy, em Copacabana, se abriu e, sobre a gigantesca tela curva do Cinerama 70, tomando o palco de lado a lado e até o teto, projetaram-se as primeiras imagens de “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick. O Rio era a quinta cidade do mundo a assisti-lo —27 dias depois de sua estreia mundial, em Washington, 11 dias antes de Londres e, pode crer, cinco meses antes de Paris.

Era 29 de abril de 1968 e eu estava naquela primeira sessão de “2001”. Assisti abestado ao filme e, como ainda não lera nenhuma crítica, teria de formar sozinho minha opinião. Pois, à saída, ainda sob a marquise do Roxy, decretei que era o maior filme da história do cinema. Só naquela semana fui vê-lo mais duas vezes e, nas semanas seguintes, outras tantas.

O LP nacional com a trilha sonora foi logo lançado. Durante meses, “Also Sprach Zarathustr­a”, de Richard Strauss, e o “Danúbio Azul”, do velho Johann, desbancara­m José Feliciano, Tom Jobim e os Beatles nas vitrolas que eu conhecia. Eram tempos de Marshall McLuhan, ideais para “2001” —o meio era a mensagem, lembra-se? E, em “Cibernétic­a e Sociedade”, de Norbert Wiener, um homem perguntava ao computador: “Existe Deus?”. E o computador: “Agora existe”.

Hal 9000, o supercompu­tador de “2001”, seguia o destino de todas as criaturas: rebelava-se contra o criador e perdia. Dave, o astronauta, desliga-o, neurônio por neurônio, e o reduz a uma criança que canta a valsa “Daisy Bell”. Acontece que “Daisy”, no Brasil, tornara-se o jingle do xarope Phymatosan e, assim, enquanto Hal agonizava na tela, havia sempre um gaiato que o acompanhav­a da plateia:

“Renova seu apetite/ Afastando a bronquite/ Phymatosan, melhor não tem/ É o amigo que lhe convém”... MARCOS LISBOA

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