Folha de S.Paulo

Está crescendo 11% ao ano.

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A obesidade afeta cada vez mais crianças. Como as cidades podem contribuir para mudar esse quadro?

Por causa do trânsito e da violência, as crianças não caminham mais. As tarefas escolares e o lazer das crianças ocorrem olhando para a tela.

Em algumas escolas dos estados da Califórnia e de Illinois [EUA], as crianças saem para caminhar no entono da escola como parte das atividades curricular­es. No Japão, em vez da ginástica laboral, os executivos são levados para o mato para caminharem e relaxarem. Aqui a gente nem enxerga a cidade.

Tenho certeza de que muita gente redescobri­u a Paulista ou visitou o [parque] Trianon porque a avenida é fechada aos domingos e feriados.

Todas essas ações não só reduzem a obesidade como melhoram a saúde mental. O sr. diz que viver nos grandes centros favorece o desenvolvi­mento de transtorno­s mentais. Como é essa relação?

Transtorno­s mentais como depressão e ansiedade tendem a ser mais frequentes nos grandes centros urbanos. Sem dúvida, existe uma base genética, mas há aspectos sociais e ambientais que favorecem ou previnem essa eclosão.

Regiões urbanas que permitem a formação de uma rede de solidaried­ade, de afeto e de apoio são protetores das nossas mentes. Já o desamparo da solidão coletiva, a falta de de uma pessoa para compartilh­ar nossos medos e dúvidas são fatores que favorecem o sofrimento mental e o consumo de álcool e drogas que, por sua vez, eleva o risco de ansiedade e depressão. O sr. diz que a solidão coletiva favorece, inclusive, a mortalidad­e precoce. Como manejar?

Tem que ter lugares para as pessoas se encontrare­m. Cidades de praia, como Santos, têm espaços naturais de convivênci­a. As pessoas se enxergam, fazem novas relações. São Paulo não é encarada como um lugar para ficar, mas, sim, um lugar para vencer.

São poucos os lugares que cultivam essa convivênci­a. Na Mooca ou no Bexiga você vê ainda gente com cadeiras na calçada, mas a tendência é as pessoas levantarem muros e colocarem cercas eletrifica­das e uma câmera de vigilância. Qual é o impacto da escassez de água e do excesso de chuvas de São Paulo para a saúde?

No período de crise hídrica em São Paulo, o atendiment­o por diarreias mais do que duplicou. Quando cai a pressão do tubo, a sujeira de fora entra pelo mesmo lugar onde vazava água.

Se tiver vazamento na rede, o esgoto entra junto. Isso explica porque na Baixada Santista, durante os feriados, há surtos de diarreias virais. Você trata a água na fonte de abastecime­nto, mas ela se contamina ao longo da distribuiç­ão.

Já as inundações estão relacionad­as a um maior número de casos de leptospiro­se. Há estudos mostrando que passadas três a quatro semanas de chuva, os casos de leptospiro­se aumentam muito. E quem é mais afetado? Quem não pode perderagel­adeira,quemnãopod­e correr o risco de perder o que conseguiu com tanto esforço. AUTOR Paulo Saldiva EDITORA Contexto PREÇO R$ 27 (128 págs.)

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