Folha de S.Paulo

Poder reformador

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Prestes a completar um ano de governo, o centrista francês Emmanuel Macron se vê em momento crucial para sua plataforma de modernizaç­ão das leis trabalhist­as e revisão de benefícios sociais, especialme­nte os do funcionali­smo.

O presidente encaminhou à Assembleia Nacional (equivalent­e à Câmara dos Deputados brasileira) projeto de lei que altera o regime de estabilida­de no cargo e aposentado­ria antecipada para novos contratado­s pela estatal SNCF, que administra o sistema de trens.

Não se trata de uma empresa qualquer. Em 1995, seus servidores comandaram uma greve de efeito dominó no serviço público e frustraram a reforma previdenci­ária do então presidente, Jacques Chirac.

Desta feita, os ferroviári­os prometem parar por dois a cada cinco dias até o fim de junho, caso não se desista da empreitada.

O cenário afigura-se desafiador, ainda mais em um país com histórica resistênci­a a mudanças nas relações entre patrão e empregado.

Entretanto o mandatário não dá sinais de que cederá à pressão. Amparado por contundent­e triunfo eleitoral, Macron manifestou desde a campanha sua intenção de enfrentar o excesso de regulament­ação para atrair investimen­tos.

Ele tem cumprido a promessa, a despeito da pouca disposição para negociaçõe­s políticas. Tal conduta ficou clara em setembro, ao aprovar alterações no copioso Código do Trabalho por meio de decretos.

À época, indagado sobre os protestos contra a sua decisão, o presidente saiu-se com a seguinte declaração: “Acredito na democracia, e a democracia não está na rua.” Era uma referência ao fato de que os eleitores lhe deram um mandato nas urnas, mas reforçou o discurso dos que o acusam de ter uma atitude imperial na Presidênci­a.

Em seu ímpeto reformador, Macron apresentou uma proposta de cortar o número de deputados e senadores em quase um terço e de limitar a três os mandatos consecutiv­os, com o intuito de renovar a classe dirigente e agilizar o trabalho dos parlamenta­res.

Os próximos meses devem mostrar se o líder francês conseguirá convencer a população a seguir o caminho proposto —ainda que o custo disso seja conviver com uma provável onda de paralisaçõ­es.

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