Folha de S.Paulo

PT reafirmará candidatur­a de Lula, mas já vive divisão

Reunião nesta segunda insistirá em lançar ex-presidente, mesmo preso

- CATIA SEABRA DANIEL CARVALHO

Correntes internas tiveram divergênci­as no processo que levou à entrega de Lula; temor é de que isso vire racha

Ainda sob impacto da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o comando do PT se reúne nesta segunda-feira (9) em Curitiba para dobrar a aposta e reafirmar sua candidatur­a à Presidênci­a da República. Mais do que a crença nas chances de Lula disputar a Presidênci­a em outubro, essa é uma estratégia de defesa.

O discurso de que Lula é alvo de um golpe para impedir sua volta ao Planalto é o principal argumento para tirá-lo da prisão.

Embora já duvidem da possibilid­ade de inserir seu nome nas urnas, aliados do expresiden­te evitam falar em plano B neste momento, pois seria reconhecer que ele não será absolvido, nem deixará as instalaçõe­s da Polícia Federal nos próximos dias.

Líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS) afirma que a reunião será exclusivam­ente dedicada a mobilizaçã­o e articulaçã­o política em apoio ao ex-presidente.

Segundo ele, deverá ser divulgado uma nota de reafirmaçã­o de sua candidatur­a.

Essa estratégia deverá ser intensific­ada até quarta-feira (11), quando o plenário do STF deverá julgar um pedido de liminar que visa a evitar prisões de condenados em segunda instância até que a corte decida se um réu pode ser preso antes que esgotados todos os recursos.

Na reunião, os petistas desenharão uma tática para que Lula continue a orientar o partido de dentro da Superinten­dência da PF.

Só nesta segunda-feira dirigentes partidário­s saberão quem estará autorizado a visitar Lula. A partir daí, destacarão emissários para ouvilo sobre estratégia de alianças e sucessão presidenci­al. Parlamenta­res petistas também pretendem se reunir na manhã de terça (10), em Brasília, para definir estratégia de atuação no Congresso.

Diante dos últimos acontecime­ntos, cresceu a pressão do PT, principalm­ente via mi- litância, por uma candidatur­a única no campo das esquerdas.

PC do B e PSOL, no entanto insistem que a união dos partidos é, ao menos por ora, apenas em defesa de Lula e da democracia.

“Neste momento, não nos parece que haja espaço para uma decisão desta natureza”, diz Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.

O partido, que lançou a pré-candidatur­a do coordenado­r nacional do MTST (Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto), Guilherme Boulos, tem discutido mais a atuação política diante da prisão de Lula.

Nesta semana, os comandos de PT, PSOL, PC do B, PDT e PSB voltam a se reunir para tentar fechar um manifesto público em defesa de três Outubro de 2016 Teria agido para favorecer a Odebrecht em contratos em Angola financiado­s pelo BNDES Dezembro de 2016 É suspeito de tentar beneficiar empresas na compra de caças pelo Brasil; seu filho teria recebido R$ 2,5 mi Dezembro de 2016 Teria recebido propina da Odebrecht por meio da compra de terreno para sede do Instituto Lula Agosto de 2017 Teria se beneficiad­o na reforma do sítio em Atibaia (SP), reformado pela Odebrecht, OAS e por Bumlai Setembro de 2017 É acusado de favorecer empresas na edição da Medida Provisória 471, de 2009 eixos fundamenta­is —a favor de eleições livres e da soberania nacional e contra a violência da extrema direita. PDT e PSB têm se negado, porém, a endossar que “eleição sem Lula é fraude”. DIVERGÊNCI­AS Petistas temem ainda o esfacelame­nto não só na esquerda, mas também dentro do partido. De quinta (5) a sábado (7), o Sindicato dos Metalúrgic­os não foi apenas palco de uma resistênci­a contra a prisão de Lula. Houve também um grave racha.

Dirigentes petistas divergiram sobre a permanênci­a de Lula nas instalaçõe­s do sindicato. Segundo aliados do expresiden­te, integrante­s da cúpula partidária e ex-ministros travaram duras discussões antes de decidir se ele se apresentar­ia à Polícia Federal.

Para perplexida­de de exministro­s, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), e o líder do partido no Senado, Lindbergh Farias (RJ), insistiam para que o ex-presidente esperasse pela chegada da polícia. Tinham apoio de Boulos e MST.

Com apoio do PC do B, exministro­s como José Eduardo Cardozo (Justiça) e o ex-prefeito Fernando Haddad alertavam para o risco de derrotas judiciais e isolamento.

A adesão do ex-ministro Paulo de Tarso Vannuchi (Direitos Humanos), um dos petistas mais próximos de Lula, à necessidad­e de se entregar foi fundamenta­l.

O medo é que, sem a presença física de Lula, essas divergênci­as ganhem corpo.

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A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, dá entrevista em frente à Superinten­dência da Polícia Federal em Curitiba

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