PM não planejou chegada de Lula a Curitiba
Os vizinhos do acampamento formado pelos apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no entorno da sede da Polícia Federal, em Curitiba, estão apreensivos.
Cerca de quatro quadras ao redor da PF já estão tomadas por manifestantes. Mais uma leva chegou na manhã de domingo (8), se somando aos que já estavam no local. Os militantes carregavam materiais dos diversos tipos, como suprimentos e colchões.
“Temos receio porque não é uma situação normal, não sabemos o que o pessoal é capaz de fazer, bagunça, invasão”, disse o motorista Sérgio Moises Alves de Souza.
“Eles bloquearam acesso à rua, sendo que deveria caber à PF fazer isso. Já falamos com a polícia e só falaram que iam tentar conseguir mais uma viatura”, conta o aposentado Ataide da Silveira Júnior.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann disse, no microfone, que os apoiadores de Lula que estão acampados no entorno da PF “não pediram” para estar no local e que a responsabilidade é da Justiça.
“Espero que não tenha violência [da polícia]. Se tiver, vamos ficar”, afirmou a petista.
Os coordenadores do movimento, no entanto, prometem convivência pacífica com os vizinhos, respeitando os horários de silêncio e o acesso aos moradores.
“Só vamos usar o som e fazer falas em caso de necessidade, para organizar”, declarou Regina Cruz, integrante da CUT.
Porém, depois de divididas as tarefas do grupo, seguranças dos manifestantes passaram a abordar inclusive jornalistas que trabalham no local, pedindo identificação para que eles possam circular no acampamento.
O desejo do PT é ampliar a aglomeração no local, o bairro residencial Santa Cândida.
Durante a manhã de domingo cerca de dez ônibus com manifestantes pró-Lula se juntaram aos que já acampavam lá. A expectativa é de que ao menos 40 ônibus com manifestantes se dirijam para Curitiba integrar o movimento. DIVISÃO DE TAREFAS No acampamento, apelidado de “Lula Livre”, as tarefas de cozinha, limpeza e segurança, por exemplo, são divididas entre os manifestantes, definidos por assembleia.
Por volta das 10h, em reunião, os coordenadores do movimento declararam que devem manter o acampamento de forma permanente até que o ex-presidente da República seja solto.
“Se o Lula ficar 11 anos aqui (na PF), eu virei todos os dias. Ele é meu ídolo. Abaixo do céu, ele é meu Deus, e é inocente”, declarou a aposentada Angela Maria Pereira de Oliveira, que chegou ao local por volta das 8h.
Perto das 12h, políticos do PT visitaram o acampamento. A cantora Ana Cañas fez um show para os militantes.
DE CURITIBA
Apesar de a prisão do expresidente Lula ter sido decretada na quinta (5), a PM do Paraná não preparou um plano para evitar conflitos entre manifestantes nos arredores da Polícia Federal em Curitiba, para onde o petista foi levado no sábado (7). O dia terminou com apoiadores do expresidente sendo dispersados por bombas de efeito moral e tiros de borracha.
A falta de planejamento surpreendeu diante do forte esquema articulado, por exemplo, em maio de 2017, quando Lula foi depor ao juiz Sergio Moro.
Ao longo do sábado, a tensão na área era permanente, com hostilidades a jornalistas e risco de enfrentamento entre grupos pró e contra Lula.
A PM só chegou à região no início da tarde, após as primeiras confusões. Havia reforço policial apenas dentro do prédio da PF, com agentes da unidade Grupo de Pronta Intervenção.
No meio da tarde, a polícia formou um setor de isolamento e destinou uma área ao grupo pró-Lula e outra, em frente ao prédio, aos opositores.
Às 22h, quando o helicóptero com o ex-presidente pousava no terraço do prédio, uma ação da PF provocou tumulto. Policiais dispersaram apoiadores do petista com bombas de gás lacrimogêneo, e a PM atirou balas de borracha em direção ao grupo.
Um policial e ao menos sete manifestantes, entre eles três crianças, ficaram feridos —o Hospital Evangélico atendeu sete pessoas, incluindo uma criança de dois anos.
Segundo o tenente-coronel da PM Mario do Carmo, policiais viram duas explosões de bombas entre o grupo pró-Lula e decidiram reagir. Ele também diz que manifestantes avançaram contra um dos portões da superintendência. A reportagem da Folha estava próxima ao local onde começou a intervenção dos policiais e não observou nenhum tumulto antes da deflagração da ação.
Após a confusão, a maioria dos manifestantes foi embora, mas alguns simpatizantes de Lula se reuniram em ponto mais afastado do prédio.
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, cobrou explicações de representantes da PF e disse que o grupo fará vigília no local até que o petista seja solto. (FB E JM) MATTOSO, JOSÉ MARQUES E FELIPE BACHTOLD)