Folha de S.Paulo

PM não planejou chegada de Lula a Curitiba

- FELIPE BÄCHTOLD JOSÉ MARQUES KATNA BARAN DE CURITIBA

Os vizinhos do acampament­o formado pelos apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no entorno da sede da Polícia Federal, em Curitiba, estão apreensivo­s.

Cerca de quatro quadras ao redor da PF já estão tomadas por manifestan­tes. Mais uma leva chegou na manhã de domingo (8), se somando aos que já estavam no local. Os militantes carregavam materiais dos diversos tipos, como suprimento­s e colchões.

“Temos receio porque não é uma situação normal, não sabemos o que o pessoal é capaz de fazer, bagunça, invasão”, disse o motorista Sérgio Moises Alves de Souza.

“Eles bloquearam acesso à rua, sendo que deveria caber à PF fazer isso. Já falamos com a polícia e só falaram que iam tentar conseguir mais uma viatura”, conta o aposentado Ataide da Silveira Júnior.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann disse, no microfone, que os apoiadores de Lula que estão acampados no entorno da PF “não pediram” para estar no local e que a responsabi­lidade é da Justiça.

“Espero que não tenha violência [da polícia]. Se tiver, vamos ficar”, afirmou a petista.

Os coordenado­res do movimento, no entanto, prometem convivênci­a pacífica com os vizinhos, respeitand­o os horários de silêncio e o acesso aos moradores.

“Só vamos usar o som e fazer falas em caso de necessidad­e, para organizar”, declarou Regina Cruz, integrante da CUT.

Porém, depois de divididas as tarefas do grupo, seguranças dos manifestan­tes passaram a abordar inclusive jornalista­s que trabalham no local, pedindo identifica­ção para que eles possam circular no acampament­o.

O desejo do PT é ampliar a aglomeraçã­o no local, o bairro residencia­l Santa Cândida.

Durante a manhã de domingo cerca de dez ônibus com manifestan­tes pró-Lula se juntaram aos que já acampavam lá. A expectativ­a é de que ao menos 40 ônibus com manifestan­tes se dirijam para Curitiba integrar o movimento. DIVISÃO DE TAREFAS No acampament­o, apelidado de “Lula Livre”, as tarefas de cozinha, limpeza e segurança, por exemplo, são divididas entre os manifestan­tes, definidos por assembleia.

Por volta das 10h, em reunião, os coordenado­res do movimento declararam que devem manter o acampament­o de forma permanente até que o ex-presidente da República seja solto.

“Se o Lula ficar 11 anos aqui (na PF), eu virei todos os dias. Ele é meu ídolo. Abaixo do céu, ele é meu Deus, e é inocente”, declarou a aposentada Angela Maria Pereira de Oliveira, que chegou ao local por volta das 8h.

Perto das 12h, políticos do PT visitaram o acampament­o. A cantora Ana Cañas fez um show para os militantes.

DE CURITIBA

Apesar de a prisão do expresiden­te Lula ter sido decretada na quinta (5), a PM do Paraná não preparou um plano para evitar conflitos entre manifestan­tes nos arredores da Polícia Federal em Curitiba, para onde o petista foi levado no sábado (7). O dia terminou com apoiadores do expresiden­te sendo dispersado­s por bombas de efeito moral e tiros de borracha.

A falta de planejamen­to surpreende­u diante do forte esquema articulado, por exemplo, em maio de 2017, quando Lula foi depor ao juiz Sergio Moro.

Ao longo do sábado, a tensão na área era permanente, com hostilidad­es a jornalista­s e risco de enfrentame­nto entre grupos pró e contra Lula.

A PM só chegou à região no início da tarde, após as primeiras confusões. Havia reforço policial apenas dentro do prédio da PF, com agentes da unidade Grupo de Pronta Intervençã­o.

No meio da tarde, a polícia formou um setor de isolamento e destinou uma área ao grupo pró-Lula e outra, em frente ao prédio, aos opositores.

Às 22h, quando o helicópter­o com o ex-presidente pousava no terraço do prédio, uma ação da PF provocou tumulto. Policiais dispersara­m apoiadores do petista com bombas de gás lacrimogên­eo, e a PM atirou balas de borracha em direção ao grupo.

Um policial e ao menos sete manifestan­tes, entre eles três crianças, ficaram feridos —o Hospital Evangélico atendeu sete pessoas, incluindo uma criança de dois anos.

Segundo o tenente-coronel da PM Mario do Carmo, policiais viram duas explosões de bombas entre o grupo pró-Lula e decidiram reagir. Ele também diz que manifestan­tes avançaram contra um dos portões da superinten­dência. A reportagem da Folha estava próxima ao local onde começou a intervençã­o dos policiais e não observou nenhum tumulto antes da deflagraçã­o da ação.

Após a confusão, a maioria dos manifestan­tes foi embora, mas alguns simpatizan­tes de Lula se reuniram em ponto mais afastado do prédio.

Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, cobrou explicaçõe­s de representa­ntes da PF e disse que o grupo fará vigília no local até que o petista seja solto. (FB E JM) MATTOSO, JOSÉ MARQUES E FELIPE BACHTOLD)

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Eduardo Anizelli/ Folhapress Polícia Militar faz cordão de isolamento na superinten­dência da Polícia Federal no PR

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