Prédio onde Lula está preso foi construído no governo dele
O prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde o ex-presidente Lula está preso desde sábado (7), foi inaugurado durante sua gestão no governo federal sob promessas de auxiliar no combate à lavagem de dinheiro, crime que levou o petista à prisão.
Embora o nome de Lula esteja em placa no saguão do edifício, datada de fevereiro de 2007, o ex-presidente cumpria agenda em Campinas (SP) no dia da inauguração e não foi ao evento. Coube ao então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), falar em nome do governo.
Thomaz Bastos disse que o local ajudaria na integração das polícias e no combate à lavagem de dinheiro —um dos crimes a que Lula foi condenado. “É esse exemplo que o Paraná dá que permite ações mais eficazes no combate à lavagem de dinheiro, às quadrilhas e ao crime financeiro”, disse, segundo nota do governo do Paraná à época.
O prédio, de 18 mil metros quadrados, custou R$ 25 milhões do governo. As obras começaram em 2002. Outra placa informa que a construção foi da Schahim Engenharia, acusada na Lava Jato de ter pago propina à campanha do PT e cujos sócios fecharam acordo de delação premiada.
No dia do evento em Curitiba, Lula inaugurou uma estação de tratamento de água em Campinas. Não citou no discurso o que acontecia no Paraná. Um dia antes, ele havia elogiado medidas que aceleraram trâmites judiciais.
“Qualquer pessoa que já enfrentou um processo na Justiça sabe da demora e das dificuldades em ter seus direitos reconhecidos, suas pretensões atendidas e seu litígio solucionado. São muitos gargalos que transformam o processo, como diz o ministro Márcio Thomaz Bastos, em uma verdadeira corrida de obstáculos sem fim”, disse Lula, preso em um processo da Lava Jato que tramitou mais rápido que o comum.
Diretor-geral da PF à época, Paulo Lacerda contou à Folha que Lula autorizou a destinação de recursos para o programa de modernização da polícia apesar da resistência do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que não concordava com a ideia de tomar empréstimo com bancos estrangeiros.
Até então, diz Lacerda, a superintendência funcionava em uma casa no centro de Curitiba. “Era um estado importante em termos operacionais em um espaço acanhado.”
Segundo Lacerda, o Senado autorizou, na gestão FHC, empréstimo junto a dois bancos estrangeiros, mas a área econômica do governo não avalizou o financiamento.
“Não foi só o empréstimo. O orçamento da PF foi melhorado. Comprou-se o que havia de melhor em equipamentos”, diz Lacerda. (CS, FB E JM)