Folha de S.Paulo

Ausência de Ciro em ato no sindicato afasta apoio do PT

Ex-ministro não foi ao último ato de Lula nem mandou representa­nte

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Petistas criticam também a falta de Jaques Wagner e já falam com simpatia de Manuela e Boulos

A fotografia do sábado (7) —quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despediu horas antes de seguir para prisão— terá reflexos no cenário eleitoral deste ano.

Sob sol inclemente, quatro potenciais candidatos à Presidênci­a subiram ao carro de som de onde Lula discursou antes de se entregar à Polícia Federal: o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), o ex-ministro Celso Amorim (PT), o líder sem-teto Guilherme Boulos (PSOL) e a deputada Manuela D’Ávila (PC do B).

Suas presenças foram registrada­s por Lula durante os discursos.

Duas ausências provocaram maior reação entre aliados do ex-presidente: dos exministro­s Ciro Gomes (PDT) e do ex-governador Jaques Wagner (PT).

Para petistas, Ciro praticamen­te enterrou as chances de ter o apoio do PT na eleição presidenci­al ao se distanciar da defesa de Lula. Também não havia representa­nte do PDT no ato.

Embora seu irmão Cid Gomes estivesse reunido com o ex-presidente momentos antes de ser decretada sua prisão pelo juiz Sergio Moro, petistas reclamam de uma omissão de Ciro, que também se recusa a assinar qualquer manifesto com o lema “eleição sem Lula é fraude”.

Para o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS), Ciro perdeu a oportunida­de de diálogo com potenciais eleitores ao não participar das recentes atividades em apoio a Lula.

Ciro e Lula chegaram a se reunir em fevereiro, mas a conversa não prosperou em favor de uma aliança eleitoral. Minutos antes da prisão de Lula, petistas chegaram a afirmar que preferiria­m apoiar Manuela a Ciro.

Presidente do PDT, Carlos Lupi (PDT) nega, no entanto, que Ciro tenha se negado a participar das vigílias em São Bernardo do Campo (SP). Ele estava nos Estados Unidos, e Lupi, em Belém.

“Não tínhamos como chegar a tempo. Mas vamos visitá-lo nesta semana, se ainda ele estiver lá [na Superinten­dência da PF, em Curitiba]”, disse Lupi.

Entre petistas, também causou estranheza a ausência de Wagner e do governador da Bahia, Rui Costa (PT), durante as quase 48 horas de vigília no Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC.

Preferido entre petistas para concorrer à Presidênci­a caso Lula seja mesmo impedido, Wagner não respondeu à Folha quando questionad­o sobre o porquê de sua ausência.

Para petistas, a decisão de permanecer na Bahia faz parte da estratégia de não figurar como “plano B” em um momento tão delicado para o ex-presidente.

Em contrapart­ida, a dedicação de Haddad foi notada até pelos que se opõem ao seu nome como alternativ­a.

Durante o discurso, Haddad e Amorim se mantiveram ao fundo do carro de som, sendo protocolar­mente citados por Lula. ELOGIOS Já Boulos foi enfaticame­nte elogiado por Lula.

Liderados por ele, cerca de 10 mil integrante­s do MTST —segundo cálculo dos petistas— engrossara­m fileiras em defesa de Lula. Boulos chegou a bater boca com petistas para que Lula não se entregasse.

No discurso, Lula não só agradeceu sua solidaried­ade, mas defendeu a legitimida­de da candidatur­a de Boulos e Manuela.

Para petistas, não há chance de aliança eleitoral no primeiro turno. A dupla, porém, ganha a simpatia dos eleitores que ficaram órfãos de Lula. (CATIA SEABRA)

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Sergio Moraes - 15.mar.18/Reuters O ex-ministro Ciro Gomes, do PDT, cuja ausência no último ato de Lula antes da prisão provocou reações de petistas

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