Folha de S.Paulo

‘Saudoso Teori’ vira mote para advogados, juízes e promotores

Ministro do Supremo morto em janeiro de 2017 é citado tanto por Sergio Moro como por defensores de Lula

- JOSÉ MARQUES

Teori, porém, fazia críticas à operação e disse que advogados do ex-presidente queriam embaraçar apurações

Depois de explicar por que tornou públicos autos da delação da Odebrecht, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), arrematou: “Com esse pensamento, aliás, o saudoso ministro Teori Zavascki, meu antecessor (…), já determinou o levantamen­to de sigilo em autos de colaboraçõ­es premiadas”.

Essa frase, repetida em todas as quebras de sigilo das delações da empreiteir­a, tem sido seguida nos processos por elogios e exaltações de advogados às decisões tomadas pelo ex-relator da Lava Jato, morto em janeiro de 2017.

Eles tentam emplacar precedente­s de Teori às causas que defendem. As citações positivas ao ministro também se repetem tanto nos autos de outros processos como em declaraçõe­s públicas de magistrado­s, advogados e membros do Ministério Público — inclusive aqueles a quem Teori criticava ou alfinetou.

Em vida, o ministro era um defensor da operação, mas se posicionav­a contra o que considerav­a exageros. Ele se opôs, por exemplo, à coletiva de imprensa em que o procurador Deltan Dallagnol exibiu o Power Point que colocava Lula como chefe do esquema de corrupção da Petrobras.

Em junho do ano passado, o próprio Deltan fez elogios a Teori. Quando o TSE absolveu a chapa Dilma RousseffMi­chel Temer, o procurador criticou a decisão nas redes sociais, mas ressalvou que há ministros “comprometi­dos em bem servir a sociedade, de que são exemplos o saudoso Teori, Fachin e [Luís Roberto] Barroso”.

Teori também teve discordânc­ias com o juiz Sergio Moro, sobretudo em relação à divulgação do áudio do “Bessias”, entre Lula e Dilma —esta tinha foro especial no STF por ser presidente. Teori anulou o áudio como prova, mas manteve o resto da investigaç­ão.

Em outra ocasião, fez críticas em plenário a argumentaç­ões do juiz.

“Gostaria de fazer uma pausa aqui para dizer que estou reproduzin­do os argumentos do juiz de primeiro grau. Não significa que concordo com todos eles, porque há vários fundamento­s aqui, como, por exemplo, decretar prisão para não obter mandato parlamenta­r futurament­e... Obviamente não tem o menor sentido. Ou para impedir que atue na vida pública, enfim”, disse, ao analisar prisões preventiva­s de deputados, que ele decidiu por manter.

Quando Teori morreu, Moro afirmou que, sem o ministro, não haveria Lava Jato.

Defensor da execução de prisões após decisão de segunda instância, Moro tem citado Teori sempre que determina cumpriment­o de pena na operação. “A execução da condenação em segunda instância parte de seu legado jurisprude­ncial, a fim de reduzir a impunidade de condutas de corrupção”, diz sobre Teori.

A defesa de Lula também cita “o eminente ministro da Suprema Corte, o saudoso Teori Zavascki” em petições que pedem a retirada de possíveis investigaç­ões contra ele das varas de Curitiba.

Teori já criticou os advogados do petista pelo mesmo motivo. Chegou a dizer que a defesa fazia “mais uma das diversas tentativas de embaraçar as apurações” —depois determinou a retirada das críticas da decisão.

Em 24 de janeiro, um ano depois de morrer, o discreto Teori foi citado no julgamento de maior repercussã­o da Lava Jato: a análise do caso tríplex pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), que aumentou a pena aplicada por Moro a Lula.

Ao analisar os episódios iniciais da Lava Jato, o presidente da turma julgadora, juiz federal Leandro Paulsen, comentou: “Dizia o saudoso Teori: ‘puxa-se uma pena e vem uma galinha’. Não se tinha ideia de onde isso chegaria.”

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Jales Vaquer - Xinhua O ministro do Supremo Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em janeiro de 2017

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