Folha de S.Paulo

Suposto ataque químico mata mais de 40 em reduto rebelde na Síria

Maioria dos mortos se abrigava no porão de um prédio atingido por projétil na noite de sábado

- NELSON DE SÁ

Ao menos 300 pessoas são atingidas; pacientes atendidos apresentam ardor nos olhos, asfixia e espuma na boca

Um suposto ataque químico em Douma, cidade controlada pelos rebeldes em Ghouta Oriental, no subúrbio de Damasco, matou ao menos 42 pessoas neste domingo (8), informaram a Defesa Civil e organizaçõ­es humanitári­as.

A ação ocorreu na noite deste sábado (7). Vídeos postados pelos Capacetes Brancos (organizaçã­o que atua como Defesa Civil em zonas não controlada­s pelo governo) mostravam as vítimas, entre eles muitos bebês e crianças, respirando com a ajuda de máscaras de oxigênio em hospitais improvisad­os.

A ONG Observatór­io Sírio dos Direitos Humanos, baseada em Londres, afirmou ter relatado casos de pessoas com sintomas de asfixia, após ataque aéreo das forças militares sírias. A ONG não disse que agente químico poderia ter sido usado no ataque.

Pelo menos 300 pessoas foram afetadas pelo gás, segundo médicos. A maioria dos mortos se abrigava no porão de um prédio que havia sido atingido por um projétil na noite de sábado. Médicos afir- maram ter atendido pacientes com sintomas de asfixia, boca espumando, pupilas dilatadas e ardor nos olhos.

Corpos de crianças, mulheres e homens, alguns deles com espuma na boca, foram mostrados em um vídeo compartilh­ado por ativistas.

Vítimas afirmaram ter sentido um forte cheiro de cloro --um químico industrial que já foi usado pelo regime sírio em ataques.

No entanto, Jerry Smith, ex-inspetor de armas químicas da ONU, afirmou ao jornal britânico The Guardian que o alto saldo de mortes, a velocidade das mortes e as convulsões sofridas por alguns pacientes sugerem o uso de outro químico, talvez um organofosf­orado. Um exemplo desse tipo de substância é o gás sarin. “INVENÇÕES” O governo sírio, em um comunicado divulgado pela agência estatal de notícias Sana, negou a existência de um ataque com armas químicas em Douma e disse que as alegações eram “invenções” do Jaish al-Islam (Exército do Islã), chamando-as de “tentativa fracassada” de impedir avanços do governo.

“O Exército, que está avançando rapidament­e e com determinaç­ão, não precisa usar nenhum tipo de agente químico”, disse o comunicado.

O Departamen­to de Estado dos EUA disse que relatos de vítimas do ataque foram “horripilan­tes” e que, se confirmado­s, “exigem uma resposta imediata da comunidade internacio­nal”.

Após os EUA apontarem a Moscou como responsáve­l pelo ataque, o Kremlin respondeu negando o uso de armas químicas em Douma.

O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido também disse que os relatos, se confirmado­s, são “muito preocupant­es”. “Pedimos que o regime de Assad e seus apoiadores, Rússia e Irã, parem a violência contra inocentes.”

O Ministério das Relações Exteriores do Irã afirmou que a alegação do uso substância­s químicas é “uma desculpa” para que EUA o outros países ocidentais ataquem a Síria militarmen­te, segundo a agência oficial iraniana Irna.

O ditador sírio, Bashar alAssad, recuperou o controle de quase toda Ghouta Oriental em uma campanha militar apoiada pelos russos desde fevereiro. Apenas Douma ainda está em mãos rebeldes.

A ofensiva em Ghouta tem sido uma das mais mortíferas em sete anos de guerra na Síria, matando mais de 1.600 civis, segundo monitores.

Por iniciativa da França, nove países pediram uma reunião do Conselho de Segurança, para esta segundafei­ra (9), para tratar do tema. EUA, Reino Unido e outros assinaram o pedido.

A União Europeia afirmou ver “indícios” de que o regime sírio tenha feito um ataque químico.

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AFP Exército da Síria avança com tanques por bairro de Douma, último bastião rebelde em Ghouta Oriental, próximo a Damasco, neste domingo
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Defesa Civil/AFP Imagem de vídeo mostra voluntário atendendo crianças que teriam sido feridas por ataque

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