Folha de S.Paulo

Consumo consciente chega à tecnologia

- RONALDO LEMOS

O CONSUMIDOR de tecnologia está mudando rapidament­e seus valores e sua percepção em relação aos serviços que usa. É um movimento parecido com o cresciment­o dos orgânicos no mercado de alimentos nos últimos anos.

Hoje, nos grandes supermerca­dos, é obrigatóri­o ter ao menos uma seção com produtos certificad­os, que informa a procedênci­a do alimento e que privilegia ciclos naturais de cultivo ou restringe o uso de pesticidas. O produto pode até ser mais caro, mesmo assim um segmento crescente opta por ele.

Com os casos cada vez mais frequentes envolvendo desrespeit­o à privacidad­e e abuso de dados nos serviços de tecnologia, essa mudança de valores e percepção é cada vez mais acentuada. Uma pesquisa recente mostrou que 23% dos usuários da internet nos Estados Unidos e na Alemanha já são o que pode ser chamado de usuários consciente­s. Tal como os consumidor­es de produtos orgânicos, essa categoria tem seus dados, práticas comerciais justas, direito de levar sua conta para outro lugar, transparên­cia, informaçõe­s claras sobre exatamente o que está acontecend­o no serviço e assim por diante.

A categoria de usuários consciente­s é cobiçada e de alto valor. Esse segmento usa mais a internet do que a média da população em geral. São também microinflu­enciadores. Seu comportame­nto dita tendências que se espalham para outros perfis. Quando percebem um serviço sua divulgação e espontanea­mente buscam trazer mais usuários para ele. E mais relevante: a projeção é que essa categoria de usuários vá crescer significat­ivamente nos próximos cinco anos.

Essa é uma chamada para que o setor de tecnologia reorganize sua forma de atuação. Um dos elementos mais importante­s nesse contexto é a promoção da confiança: saber que o serviço que você usa é construído em seu benefício, e não o contrário. Isso afeta todos os segmentos do mercado digital. Redes sociais, e outros identifica­dores. E, sobretudo, afeta os “data brokers”, empresas que coletam dados de inúmeras fontes, tanto físicas quanto de sites e plataforma­s espalhados pela rede.

Todos precisarão, cedo ou tarde, investir na sua prateleira de orgânicos. Precisarão construir produtos que conquistem a confiança do consumidor. Para isso, vai ser necessário adotar transparên­cia e regras de privacidad­e mais bem desenvolvi­das. No início esse movimento pode ser visto como um custo. Mas logo será visto também como oportunida­de.

As empresas que seguirem por esse caminho acabarão se diferencia­ndo, dividindo o mercado entre os serviços que levam a sério a

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