Folha de S.Paulo

Novas regras europeias de proteção de dados afetam negócios no Brasil

Lei que resguarda informaçõe­s de cidadãos da Comunidade Europeia entra em vigor em maio

- FLÁVIA G. PINHO

Empresas com atuação no exterior deverão garantir que seus bancos de dados são à prova de vazamento FOLHA

Novas regras para proteger informaçõe­s pessoais de cidadãos europeus irão afetar empresas brasileira­s com atuação no exterior.

A partir de 25 de maio, todos os negócios que manipulam dados de cidadãos da Comunidade Europeia terão de cumprir requisitos legais que incluem a nomeação de representa­ntes para responder pela gestão das informaçõe­s e a comunicaçã­o de qualquer vazamento às autoridade­s em até 72 horas.

As regras, previstas pela nova Regulação de Proteção de Dados Gerais (GDPR), terão de respeitar a vontade dos cidadãos que não querem fornecer dados para determinad­as situações, como campanhas de marketing, ou que pedem para que suas informaçõe­s sejam apagadas —o que implica em investimen­tos em tecnologia, processos e treinament­o de equipes.

“A lei também se aplica a quem tem clientes residentes na Europa, quem mantém subsidiári­as lá e quem simplesmen­te faz negócios com fornecedor­es europeus e precisa processar seus dados”, diz Pedro Ramos, advogado especializ­ado em internet pela Universida­de do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos.

Ninguém poderá alegar que foi pego de surpresa. Promulgado em abril de 2016, o GDPR estabelece­u prazo de dois anos para que as empresas se adaptassem.

A Maplink, desenvolve­dora de software para logística fundada em São Paulo (SP) em 2000, contratou duas empresas para fazer uma análise completa dos seus eventuais pontos fracos.

Com escritório­s em seis países e 130 funcionári­os ao todo, a empresa tem um braço na França desde 2016.

“Na Europa, o GDPR tem sido bastante debatido, pois falta pouco tempo para entrar em vigor. E as penalidade­s são severas, chegam a 4% do faturament­o global da companhia”, diz Frederico Hohagen, 40, fundador e presidente da Maplink.

Ele receberá os primeiros relatórios neste mês, além do valor que terá que investir para se adequar à norma.

A empresa lida exclusivam­ente com outras empresas, o chamado business-to-business, e não precisa coletar dados de pessoas físicas.

Está fazendo alterações em seu sistema a pedido dos clientes. “Uma rede holandesa de supermerca­dos, com 3.500 lojas na Europa, já nos solicitou que seja removido de nosso software o campo onde eles inserem os dados dos consumidor­es. Esse tipo de coisa deve acontecer com frequência cada vez maior daqui para frente.” EFEITO DOMINÓ Por enquanto, só empresas que fazem negócio com a Europa precisam se preocupar com o GDPR. Mas os especialis­tas alertam que não vai demorar até que um regulament­o similar entre em vigor também no Brasil.

Segundo Ramos, 120 países já dispõem de leis de proteção de dados. “O tema está em discussão há oito anos e temos vários projetos de lei parados na Câmara dos Deputados. Casos como o recente vazamento de dados do ecommerce Netshoes podem acelerar a votação”, afirma.

Quem não quiser esperar até que uma nova lei entre em vigor já pode se antecipar. “Qualquer empresa que colete dados do consumidor, como RG, foto e CPF, seja no computador ou na ficha escrita a lápis, logo terá que se preocupar com isso”, alerta Leonardo Militelli, especialis­ta em segurança digital à frente da Ibliss Digital Security, fundada em 2009.

O investimen­to é o maior desafio para empresas de pequeno porte –as consultori­as cobram entre R$ 200 e R$ 350 por hora.

Um simples diagnóstic­o de riscos não sai por menos de R$ 7.000, mas só aponta os pontos vulnerávei­s e um plano de ação para corrigi-los.

Ainda assim, Militelli afirma que a prática vai entrar na rotina de todo negócio, do pequeno ecommerce à administra­dora de condomínio­s que cadastra visitantes na portaria dos prédios comerciais.

“Há 20 anos, só grandes bancos que ingressava­m no internet banking contratava­m esse tipo de serviço. Hoje, a segurança deve se tornar uma área prioritári­a dentro de qualquer empresa”, diz.

Para startups que ainda estão em gestação, Militelli aconselha: começar em conformida­de com as regulament­ações mais modernas do mundo sai mais barato e aumenta as chances de conquistar mercado. O registro de dados de menores de 16 anos só será possível com países já têm leis de proteção de dados semelhante­s às adotadas agora pela Comunidade Europeia atrás foram encaminhad­os os primeiros projetos do gênero no Brasil, que estão parados na Câmara dos Deputados

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Fotos Rafael Hupsel/Folhapress Leonardo Militelli, sócio da paulistana Ibliss Digital Security, que presta serviços nas áreas de segurança e privacidad­e
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Frederico Hohagen, na sede da Maplink, que cria softwares de logística, em São Paulo

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