Folha de S.Paulo

Rastreio falho de munição dificulta investigaç­ões como a de Marielle

Implementa­r sistema com dados de armas e projéteis otimizaria esforços, dizem especialis­tas

- RUBENS VALENTE

Exército, que controla o comércio de armas no país, afirma que não lhe cabe o controle de estoque de munições

O assassinat­o da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), ocorrido no dia 14 de março, trouxe à tona a inexistênc­ia de um banco nacional com imagens escaneadas de munições e armas no Brasil.

Se estivesse em funcioname­nto, de acordo com especialis­tas ouvidos pela Folha ,a ferramenta poderia indicar se a arma usada no homicídio já havia sido relacionad­a a outro crime e em que região do país ou do Rio de Janeiro.

No local do assassinat­o de Marielle, a polícia recolheu uma dezena de cápsulas. O número do lote de nove das munições usadas no crime é o mesmo de uma utilizada em uma chacina na região de Osasco (SP) em 2015 e que integrava um lote vendido pela CBC à Polícia Federal em 2006.

Especialis­tas, porém, dizem ser quase impossível relacionar um fato ao outro apenas a partir do número do lote.

O lote vendido à PF tinha 1,8 milhão de munições. Ao longo dos anos, parte dela pode ter sido extraviada de inúmeras formas, como roubos e furtos de munições em poder dos policiais ou mesmo troca amigáveis em operações conjuntas da PF com outras forças de segurança. Também não é possível descartar um desvio não detectado na própria empresa fabricante.

O cenário seria outro se o país contasse com um banco nacional que deveria ser alimentado por todos os estados com as cápsulas deflagrada­s encontrada­s em locais de crimes e de armas em poder das forças de segurança e vendidas no mercado nacional.

O sistema poderia ajudar a saber, por exemplo, se a arma que disparou contra Marielle já havia sido usada anteriorme­nte em outros crimes em que também foram abandonada­s cápsulas deflagrada­s.

Uma vez determinad­o se a arma foi usada por milícias, grupos de extermínio, traficante­s ou integrante­s de forças de segurança, o foco da investigaç­ão sobre o assassinat­o poderia ser mais restrito, poupando tempo e recursos dos investigad­ores.

Em 2005, um grupo de peritos criminais da PF passou a estudar e formatar um sistema com esse potencial, segundo o presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais), Marcos Camargo. O investimen­to para todo o pacote foi estimado na época em R$ 80 milhões.

O projeto de indexação balística bolado pelos peritos era antes chamado de Sisbala. Em uma cartilha para emendas orçamentár­ias de 2018 produzida pelo Ministério da Justiça, o projeto aparece identifica­do como Sinab (Sistema Nacional de Análise Balística) — indicação de que o projeto não está engavetado e ainda pode se tornar realidade.

Segundo a APCF, os EUA e os países mais desenvolvi­dos da Europa há anos possuem equipament­os semelhante­s. Para elaborar a proposta brasileira, os peritos da PF conheceram os principais sistemas e compararam as experiênci­as de outros países.

A lei de 2003 que criou o Sinarm (Sistema Nacional de Armas) já previa a necessidad­e do Exército e um da Aeronáutic­a) foram presos na operação da Polícia Civil de combate aos milicianos no Rio. Na madrugada de sábado (7), 149 suspeitos de participar­em da organizaçã­o criminosa conhecida como Liga da Justiça foram presos durante uma festa em um sítio na zona oeste. Houve quatro mortos, todos seguranças do chefe da milícia, que conseguiu fugir. de o governo federal cadastrar “a identifica­ção do cano da arma, as caracterís­ticas das impressões” do projétil disparado, “conforme marcação e testes obrigatori­amente realizados pelo fabricante”. CONTROLE

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Leo Correa - 16.mar.18/Associated Press Mulher protesta contra a morte da vereadora Marielle Franco

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