Folha de S.Paulo

Frente ampla pela democracia

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A frustração com a política, a polarizaçã­o extremada e a intolerânc­ia são ingredient­es para a emergência de regimes autoritári­os. Ainda mais se alimentado­s por uma crise econômica prolongada, pelo desemprego e pelo medo.

É o Brasil nos últimos quatro anos. A cada novo acontecime­nto, fica mais claro o risco de um retrocesso. Regimes autoritári­os surgem em circunstân­cias como a brasileira. Muitas vezes, por vias eleitorais.

O partido nazista cresceu em eleições, com apoio popular. Hitler chegou ao poder em 1933, graças à frustração com a República de Weimar, que não enfrentou a devastação pós-Primeira Guerra.

Nas Filipinas, o autoritári­o presidente Duterte foi eleito em 2016, com a decepção popular com a elite governante, incapaz de combater a pobreza e a violência. Na campanha, afirmou querer matar os 3 milhões de tóxico-dependente­s.

Na Turquia, Erdogan, reeleito em 2014, usa o estado de emergência, criado após uma tentativa de golpe, para reprimir a oposição. Cerca de 150 mil pessoas foram demitidas e 50 mil foram detidas por supostos vínculos com o golpe.

No Brasil, cresce o descrédito com as instituiçõ­es democrátic­as, partidos, Legislativ­o, Executivo e Judiciário, alimentado pela polarizaçã­o política, abrindo um perigoso espaço para o autoritari­smo.

O governo Temer, cuja legitimida­de é contestada, tem apenas 6% de aprovação. Seu programa, neoliberal, não eleito, é impopular, mas vários candidatos disputam esse campo político (centro ou centro-direita) sem entusiasma­r o eleitor.

As polêmicas decisões judiciais que levaram à prisão de Lula elevaram o descrédito no Judiciário. Sua provável exclusão das eleições, em que figura com 37% das intenções de voto, que dificilmen­te serão transferid­os, resultará na ampliação da frustração popular.

Enquanto grupos organizado­s de direita, antilulist­as, festejam até em bordéis com cerveja grátis, parte significat­iva da população sente-se órfã e descrente nas instituiçõ­es.

Nesse contexto, Bolsonaro, com um forte viés autoritári­o, lidera quando Lula é excluído. Ele vocaliza o descrédito no sistema democrátic­o e a ideologia da segurança, de apelo popular. Porta-voz de um segmento, os agentes policiais, capilariza­do em todo o país, tem uma base popular de direita, que saiu do armário.

É fundamenta­l a formação de uma ampla frente democrátic­a, antifascis­ta. O país precisa debater e pactuar, em um ambiente democrátic­o, saídas para a crise.

O golpe contra Dilma e o impeachmen­t preventivo de Lula foram planejados para viabilizar um programa neoliberal. Mas, de fato, vem abrindo o espaço para uma alternativ­a autoritári­a e populista, que custará caríssimo para o país.

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