Folha de S.Paulo

Piloto automático

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BRASÍLIA - A troca de comando no Ministério da Fazenda deve ampliar os embates entre a equipe econômica do governo e a ala política do Palácio do Planalto. Embora Michel Temer manifeste compromiss­o com o controle de despesas, o novo chefe da área terá mais dificuldad­es que o antecessor para conter as pressões pelo aumento de gastos.

Nos quase dois anos em que esteve à frente da pasta, Henrique Meirelles foi derrotado com frequência pelo núcleo palaciano. Foi obrigado a ceder na ampliação dos déficits fiscais de 2017 e 2018 e na concessão de regras mais generosas para a renegociaç­ão de dívidas tributária­s.

Diante de um governo sustentado por pilares políticos e baseado em uma engrenagem de barganhas com o Congresso, o ministro só teve êxito em um punhado de batalhas —graças a seu prestígio pessoal. Meirelles era um articulado­r fraco, mas impôs algumas de suas vontades a Temer porque sabia que o presidente precisava se beneficiar de sua grife.

O secretário-executivo da Fazenda, Eduardo Guardia, toma posse nesta terça (10) na chefia do ministério sob o olhar receoso de aliados de Temer. De perfil conservado­r, ele chegou a ser apelidado de “Satânico Dr. No” por negar qualquer aumento de despesa —pesadelo de políticos que querem explorar o poder da máquina pública em ano eleitoral.

O presidente disse aos aliados mais preocupado­s que a responsabi­lidade fiscal está mantida como meta do governo, mas assegurou que Guardia foi orientado a ser um pouco mais flexível. Ele não será um zagueiro inarredáve­l diante do cofre, segundo um auxiliar de Temer.

Sem força no Congresso para aprovar o restante do ajuste das contas, o presidente precisará agir como árbitro para que essa agenda não desande. A ascensão de Guardia pode colocar a economia em piloto automático, no caminho traçado por Meirelles, ou fazer com que o país enfrente turbulênci­as e amplie as incertezas já delineadas pelas eleições deste ano.

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