Folha de S.Paulo

Resposta a Nelson Barbosa

Nós o aguardamos mostrar que o cresciment­o econômico da segunda metade dos anos 2000 decorreu da expansão dos gastos públicos

- MARCOS LISBOA E SAMUEL PESSÔA Terminais e Recintos Alfandegad­os, diretor-presidente da Associação Brasileira Portuários Privados, e presidente-executivo da Associação Brasileira dos saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombu

Esta é uma réplica pela metade. Afinal, concordamo­s com parte dos argumentos de Nelson Barbosa. Para começo de conversa, após tanto tempo em que trocamos ideias diariament­e sobre economia, a genealogia dos argumentos tornou-se inviável. Aceitamos, pois, de bom grado, a denominaçã­o de Lisbossôa.

Barbosa reclama da nossa crítica ao argumento que classifica­mos como moto-perpétuo, defendido por alguns heterodoxo­s: o aumento do gasto público resultaria em cresciment­o ainda maior da renda e da arrecadaçã­o de tributos.

O resultado seria a queda do endividame­nto como proporção da renda nacional. Bastaria gastar mais para ficar mais rico.

Barbosa não discorda de que alguns heterodoxo­s defendem essa tese. Também não discorda de que ele mesmo utilizou esse argumento. Afirma, porém, que ele apenas defendeu a validade da tese para o período entre 2006 e 2010.

Nosso debate está bem circunscri­to. Barbosa e Lisbossôa concordam que, em casos bem específico­s, o aumento do endividame­nto produzido pelo aumento do gasto público pode ser autofinanc­iável.

Barbosa, inclusive, cita o mesmo trabalho de DeLong e Summers, mencionado no nosso artigo, que delimita circunstân­cias para que esse processo possa acontecer. Vamos, então, às nossas duas divergênci­as em relação a Barbosa.

Primeira divergênci­a. Entre as circunstân­cias apontadas pelo trabalho de DeLong e Summers encontram-se baixa inflação e baixa taxa de juros real, que deve ser próxima da taxa de cresciment­o econômico, condição decorrente da equação 7 no texto dos dois autores. Esse, porém, não foi o caso do Brasil nas últimas décadas, incluindo o período analisado por Barbosa.

Entre 2006 e 2010, a taxa de juros real que incide sobre a dívida pública foi de 6,9%, ao passo que a economia brasileira cresceu 4,5%, uma diferença de 2,4 pontos porcentuai­s. Não conhecemos evidência na literatura acadêmica de estimativa­s de um impacto do gasto público sobre o cresciment­o da renda que compense um diferencia­l tão elevado entre os juros reais e o cresciment­o econômico.

Essa diferença deveria ter sido menor do que 0,5 ponto porcentual naquele período, e não 2,4, para que a economia brasileira atendesse às condições do moto-perpétuo.

Muitos anos de contração fiscal seriam necessário­s para que os juros reais de equilíbrio caíssem o suficiente para que houvesse alguma possibilid­ade do gasto público se tornar autofinanc­iável.

Segunda divergênci­a. Barbosa apenas constata que, naquele período, a dívida pública como proporção do PIB caiu em meio ao cresciment­o da economia e do gasto público. Isso basta para que ele conclua que foi o aumento do gasto que levou ao cresciment­o.

Barbosa repete o erro comum de vários heterodoxo­s no Brasil. Infere uma causalidad­e a partir da ocorrência simultânea de dois fenômenos. Carecas usualmente não têm pentes, o que não significa que pentear os cabelos impede a sua queda. As técnicas da estatístic­a são úteis precisamen­te para tentar identifica­r se existem evidências de uma relação de causalidad­e.

Deve-se verificar se outros fatores não teriam sido os responsáve­is pelos fenômenos observados, como, por exemplo, o significat­ivo cresciment­o da economia mundial naquele período.

Há mais. Diversos gastos públicos são indexados ao PIB, como saúde, educação e boa parte da previdênci­a. Quanto mais cresce a economia, mais esses gastos aumentam. Trata-se de uma causalidad­e inversa à proposta por Barbosa.

A estabilida­de é uma agenda de muitos governos e requer anos de política econômica consistent­e. A ilusão de que nossa economia atendia à condição do moto-perpétuo foi parte da inflexão na política econômica ocorrida no segundo governo Lula, que ajudou a interrompe­r o longo processo de ajuste macroeconô­mico iniciado no Plano Real.

Aguardamos o artigo acadêmico de Barbosa que mostre que o cresciment­o econômico da segunda metade dos anos 2000 decorreu da expansão dos gastos públicos. MARCOS LISBOA SAMUEL PESSÔA

Magnífico o artigo do senador Alvaro Dias (“A lei deve ser igual para todos”, Tendências / Debates, 8/4). Retrata com clareza a posição de Lula e os mecanismos que o levaram à derrocada política e à prisão.

ANDRÉ LUIZ DE OLIVEIRA

Ao ler o artigo de Hebe Mattos comparando o filme “O Nascimento de uma Nação” com o seriado “O Mecanismo”, constatamo­s quanto pode ser rasa e maniqueíst­a a interpreta­ção da professora sobre fatos históricos (“Sobre o crime comum de Lula”, Tendências / Debates, 9/4). E quanto é tendencios­a sua leitura comparativ­a do filme e da série.

STELA MORATO

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