Folha de S.Paulo

PT vê Lula como preso político e diz temer por sua segurança

Resolução do partido diz que candidatur­a será protocolad­a em 15 de agosto

- CATIA SEABRA JOSÉ MARQUES FELIPE BÄCHTOLD

Sigla definiu mudança para Curitiba; aliados veem ex-presidente em risco, citando áudios feitos durante voo

O comando do PT afirmou nesta segunda (9), dois dias depois de sua prisão, que a candidatur­a do ex-presidente Lula será registrada em 15 de agosto. Em nota, a cúpula petista afirma que ele é preso político, vítima de violenta prisão —ele foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.

“Lula é inocente! Lula é um preso político! Por tudo isso, por toda sua história, Lula continua sendo nosso candidato à Presidênci­a da República e sua candidatur­a será registrada no dia 15 de agosto, conforme a legislação eleitoral”, diz a resolução da Executiva Nacional do PT.

Apesar do texto, o partido discute nos bastidores planos alternativ­os, como o ex-governador baiano Jaques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Também se cogita apoio aos presidenci­áveis de PSOL e PC do B, Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila. Menos provável é fechar com Ciro Gomes (PDT), que tem evitado defender Lula enfaticame­nte.

A nota diz também que caberá à presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (PR), o papel de porta-voz do ex-presidente, além de articulado­ra com partidos e movimento de esquerda. A resolução do PT foi anunciada pelo senador Lindbergh Farias (RJ) no acampament­o dos movimentos próLula em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba. Ele disse que “sob qualquer circunstân­cia” a candidatur­a do ex-presidente será registrada.

Foi anunciado que o comando político do PT ficará instalado na capital do Paraná, como antecipou o Painel.

Os petistas estão desesperan­çosos quanto a possibilid­ade de libertação de Lula em uma eventual votação nesta quarta (11) de um pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal para impedir a prisão de condenados em segunda instância. Aliados de Lula admitem a possibilid­ade de o pedido nem ir a voto.

Assim, petistas traçaram um plano de longo prazo pa- Jair Bolsonaro (PSL) “Eu comemoro o resultado não pela derrota do Lula, mas pela vitória da Justiça. Afinal de contas, esse cidadão cansou de errar e colocar o Brasil nesta situação em que nos encontramo­s no momento, no tocante à economia, ao desgaste dos valores familiares, à uma política externa com viés ideológico, à violência crescente, ao desemprego assustador” Marina Silva (Rede) “A prisão de um ex-presidente é um acontecime­nto triste em qualquer país. No entanto, numa democracia, as decisões da Justiça devem ser respeitada­s por todos e aplicadas igualmente para todos. Os que ainda não foram alcançados pela Justiça é porque estão escondidos sob o manto da impunidade do foro privilegia­do” Ciro Gomes (PDT) Alvaro Dias (Podemos) “A prisão do líder popular que presidiu o Brasil é triste, mas a decisão é histórica. A impunidade perdeu; o Estado de Direito prevaleceu. As leis estão governando os homens. É assim que se constrói uma grande nação” “É urgente a construção de uma unidade democrátic­a contra a prisão arbitrária de Lula e a escalada da intolerânc­ia política. Não deixaremos as ruas e a luta. Para além das eleições, é o futuro do Brasil que está em jogo. Enfrentare­mos as injustiças, de toga ou de farda. Lula livre!” Manuela D’Ávila (PCdoB) “Consumou-se mais uma etapa do golpe de agosto de 2016. O maior líder político do país, o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva, está arbitrária e injustamen­te preso. É um preso político. Está no cárcere por força de vereditos encomendad­os, previament­e tramados. Nenhuma prova foi apresentad­a contra ele” ra acompanham­ento do expresiden­te. Temendo seu isolamento, o PT definiu uma escala para permanênci­a de dirigentes partidário­s e parlamenta­res na cidade. O partido também tenta criar uma programaçã­o com atividades culturais no acampament­o.

Dirigentes pediram ajuda ao ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) na tentativa de transferi-lo para São Paulo, sob argumento de que a segurança e a saúde do expresiden­te correm riscos em Curitiba. Disseram temer que ele entre em depressão.

O PT vai pedir a Jungmann que atue para permitir que Lula conte com a presença de um segurança da sua equipe, além de uma comida especialme­nte preparada para ele. Petistas chagaram a dizer que temem seu envenename­nto em doses homeopátic­as.

Para justificar a apreensão, enviaram às autoridade­s a gravação de comentário­s ofensivos feitos contra Lula durante o transporte dele de São Paulo a Curitiba. A Força Aérea Brasileira confirmou a autenticid­ade dos áudios.

Em uma das mensagens, uma voz masculina, que não se identifica, afirma “manda esse lixo janela abaixo”. Na sequência, uma voz feminina alerta que a frequência é gravada. Segundo a FAB, os comentário­s ocorreram na frequência da Torre de Congonhas, e da Torre Bacacheri, em Curitiba, e não foram emitidos por controlado­res de voo.

A FAB esclarece que as frequência­s são abertas, para garantir que todos na escuta tenham conhecimen­to do que acontece no tráfego aéreo. Os conectados podem ouvir e falar. “Lamentavel­mente, as frequência­s foram utilizadas de modo inadequado por alguns usuários que se valeram do anonimato”, declara a FAB.

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Reunião da Executiva Nacional do PT em hotel de Curitiba; de pé, a presidente da sigla, senadora Gleisi Hoffmann (PR)

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