Folha de S.Paulo

Petista ainda não tomou banho de sol e passou o dia lendo, diz advogado; PM estima 500 acampados

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DOS ENVIADOS A CURITIBA

Dois dias após sua prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não tomou banho de sol e passa o tempo lendo, segundo o advogado Cristiano Zanin Martins. O ex-presidente lê, segundo ele, “A Elite do atraso - Da escravidão à Lava Jato”, do sociólogo Jessé Souza.

O advogado disse que Lula ficou “bastante contente” com a vitória do Corinthian­s neste domingo (8), pelo Campeonato Paulista.

Ao sair de visita de duas horas à Superinten­dência da Polícia Federal do Paraná, onde Lula está preso, nesta segunda (9), Zanin afirmou que está discutindo as condições para que o ex-presidente receba visitas. “Seguirá todo o padrão que aqui existe, embora a gente aguarde a revogação dessa ordem de prisão.”

O banho de sol, diz , “é uma questão interna da Polícia Federal e está sendo organizada internamen­te”. Normalment­e os presos têm visitas às quarta —exceto os advogados, que podem encontrá-los nos outros dias— e banho de sol de duas horas.

Como o Painel informou, os defensores têm feito listas das pessoas que Lula deve receber —o ex-presidente quer incluir a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT. Zanin não disse se Lula poderá receber visitas já nesta semana. A PF também não tem informado a quantidade de pessoas que poderão vê-lo.

Lula não afirmou, de acordo com o defensor, se tem ouvido os protestos de apoiadojuí­zo res do lado de fora do prédio.

O acampament­o montado nos arredores da PF virou uma aposta do PT para manter mobilizaçã­o a favor de Lula e se tornou ponto de peregrinaç­ão de políticos aliados desde a prisão, no sábado (7).

A presença de apoiadores alterou atividades da PF e faz com que a Polícia Militar mantenha uma base de prontidão em caso de tumultos. A PM estima em 500 o número de manifestan­tes. Os organizado­res falam em mil credenciad­os.

Em maioria são sem-terra, mas há sindicatos e movimentos de esquerda. Nos atos, costumam gritar “bom dia, companheir­o Lula” ou “boa tarde, companheir­o Lula”. “Aqui não importa o número. É a demonstraç­ão de solidaried­ade de pessoas que se dispõem a ficar aqui como se viessem visitá-lo”, disse o líder do MST João Pedro Stédile.

Ele falou que o movimento vai iniciar acampament­os também em frente ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, e na Candelária, no Rio.

Stédile afirma ainda que o ativista argentino Adolfo Perez Esquivel —ganhador do Nobel da Paz e que promove abaixo-assinado para que Lula seja agraciado com o prêmio— e o ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica já manifestar­am interesse em visitar o local. Nesta segunda, estiveram lá pré-candidatos petistas, como Luiz Marinho (SP) e Celso Amorim (RJ), além da presidenci­ável Manuela D’Ávila (PC do B).

Uma confusão começou após um homem pedir uma foto com Manuela e gritar “Chupa, Bolsonaro 2018”. Ele foi retirado pela da área, de circulação restrita, e não havia sido identifica­do até a conclusão desta edição.

Em discursos, todos falam em permanecer no local até que Lula seja solto. Marinho chamou o Judiciário de “coisa escrota”, e Stédile criticou o ministro do STF Edson Fachin, conhecido por ser um antigo aliado dos sem-terra, dizendo que devia estar “no banco dos réus.” O ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli minimizou o petrolão. “Se pegar neste período o faturament­o da Petrobras, veja, relativame­nte, o que foi identifica­do pela Lava Jato é muito pouco. Está na faixa de 1%, 0,5%. Dificilmen­te o sistema de controle pega.”

Por causa dos protestos, a PF fechou os portões da sede, apesar do constante movimento de cidadãos que buscam ou pedem passaporte­s. A entrada no prédio só é autorizada a quem explica a situação ou mostra seu protocolo. As ruas do entorno também estão bloqueadas devido a uma decisão judicial.

Não há prazo para a PF e a PM encerrarem seus esquemas de segurança. Os sem-terra armaram barracas em calçadas e gramados das casas ao longo de quatro ruas e dormem também em ônibus. Banheiros químicos foram levados para a área. Com as ruas bloqueadas, vizinhos no bairro Santa Cândida reclamaram dos manifestan­tes. Já o desemprega­do Eduardo Maciel, 20, eleitor de Bolsonaro, abriu sua casa onde mora para banhos dos manifestan­tes, cobrando R$ 5 de cada um.

(JOSÉ MARQUES, CATIA SEABRA E FELIPE BÄCHTOLD)

 ?? Zanone Fraissat/Folhapress ?? Militantes do PT chegam a acampament­o em frente ao prédio da PF em Curitiba, onde está preso o ex-presidente Lula
Zanone Fraissat/Folhapress Militantes do PT chegam a acampament­o em frente ao prédio da PF em Curitiba, onde está preso o ex-presidente Lula

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