Jair Bolsonaro está ‘inflado’, diz Alckmin
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pré-candidato a presidente, disse nesta segunda (9) que “a maioria da sociedade brasileira está muito desconfiada desse desequilíbrio” entre o tratamento que a Justiça dá ao ex-presidente Lula e a caciques do PSDB.
O gesto em defesa do petista foi feito após a ausência de Ciro, ou de um representante seu, no ato em São Bernardo que antecedeu a prisão de Lula. Ao mesmo tempo, o presidenciável disse discordar da tese petista de que o ex-presidente é um preso político.
Ele foi questionado sobre a fala do delegado Milton Fornazari Junior, da Polícia Federal, segundo quem, após Lula, era hora de outros líderes serem investigados e presos.
“Não gosto de delegado falando, mas a sociedade brasileira por ampla maioria, e nela eu me incluo, está muito incomodada com o fato de que parece que a mão severa da lei só funciona contra o PT e contra o Lula. Nenhum dos altíssimos dignitários do PSDB enrolados em corrupção de altíssimo volume, com somas volumosas de dinheiro demonstrado na Suíça, passou por qualquer tipo de constrangimento”, afirmou.
Ciro participou em Porto Alegre do Fórum da Liberdade, evento do IEE (Instituto de Estudos Empresariais), que prega o liberalismo, ao lado de outros presidenciáveis como Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) e João Amoêdo (Novo).
Ele indiretamente criticou a ministra Rosa Weber, do Su- premo, que diz ser contra a execução de pena em segunda instância, mas negou o habeas corpus que Lula pedia.
“É muito exótico, para falar uma palavra moderada, que havendo uma tese sub judice, ou seja, pendente de deliberação, que vale para todos, haja se optado pela apreciação de um caso concreto, na frente desse caso em tese”, disse.
Ciro disse que a prisão após condenação em segunda instância —caso de Lula— é inconstitucional, embora tenha considerado que a Constituição é esdrúxula por conta dessa previsão. “Nenhum país do mundo moderno garante quatro graus de jurisdição para crime comum. Só nós. Isso é uma aberração nossa. Em vez de resolver isso, você faz um puxadinho e bota uma solução exótica que viola frontalmente a Constituição.”
O pedetista, que afirmou esperar que Lula consiga sair da cadeia, mas acrescentou: “Quando a gente atribui palavras a situações distintas, a gente cria confusão que não ajuda especialmente o jovem, que não sabe o que foi o preso político. Você pode considerar injusta a formação da culpa do Lula, mas daí extrapolar que é um preso político me parece estranho.”
À Folha Ciro disse que continua achando improvável uma aliança com o PT no primeiro turno. Mas não descartou uma união em eventual segundo turno. “Provavelmente estaremos juntos como estivemos nos últimos 16 anos sem faltar nenhum dia.”
Marina também fez paralelo entre a situação de Lula e outros políticos, mas defendendo o fim do foro especial. “Se não colocarmos fim ao foro privilegiado, teremos uma situação de dois pesos e duas medidas, em que empresários que não têm foro e políticos que não têm foro pagarão corretamente por seus erros. Deputados, senadores, presidente da República e ministros ficarão tripudiando da sociedade”, disse. A ex-ministra disse ainda que a prisão de Lula, seu ex-aliado, “não é algo que se possa celebrar”. BRIGA Provocado, Ciro xingou e encostou a mão na nuca do blogueiro Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, ligado ao grupo de direita Movimento Brasil Livre. Val, que é précandidato a deputado estadual em SP pelo DEM, pediu para filmar uma entrevista com o pedetista. “O sequestro do Lula, como vai?”, perguntou o blogueiro. Ciro perguntou se Val era “bolsominion”. “Não, sou liberal”, respondeu. “E receber o pessoal do [juiz Sergio] Moro a bala?”, disse Val.
Ciro disse que ele era um bobão e tocou sua nuca duas vezes, antes de sair. “Foi leve, não estou me vitimizando. Mas não é uma postura de candidato a presidente”, disse Val. Segundo o pedetista, a cena foi outra. “Tu acha que, se eu tivesse batido, não tinha uma marquinha, não? Do jeito que eu sou? Eu falei deixa de ser um merda, rapaz, e saí de perto.” GABRIELA SÁ PESSOA
DE PORTO ALEGRE
Em sua primeira segunda fora do governo de São Paulo e trabalhando na pré-campanha à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB) disse que candidaturas como a do deputado Jair Bolsonaro (PSL) estão infladas pelo desconhecimento da população sobre as eleições.
O tucano disse que o número de candidaturas vai diminuir e campanhas como a de Bolsonaro “vão ter o seu tamanho devido”. “Hoje, pesquisa eleitoral não retrata nada sobre o ponto de vista político. A população nem começou a pensar no processo eleitoral”, disse Alckmin, que registrou 11% na última pesquisa Datafolha, de janeiro. No cenário sem Lula, preso no último sábado (7), a liderança das intenções de voto ficava com Bolsonaro, que chegava a 20%.
Alckmin conversou com jornalistas antes de sua participação no fórum em Porto Alegre, onde participou de conferência com outros pré-candidatos. Ele saudou a entrada de outro possível rival na política: o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, que se filiou na sexta-feira (6) ao PSB para, especula-se, também disputar a Presidência. “Não desestimulo nunca candidaturas, a pior política é a omissão”, comentou Alckmin.
O ex-governador disse que não contava com o PSB em suas costura eleitoral. A legenda é a mesma de Márcio França, vice de Alckmin que assumiu o Bandeirantes na sexta e disputará a reeleição contra João Doria (PSDB).
Alckmin negou que haja preocupação com a prisão de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, considerado operador do PSDB e que foi diretor da Dersa inclusive em seu governo, de 2005 a 2006. (TB)