Folha de S.Paulo

Juiz aceita denúncia contra amigos de Temer sobre ‘quadrilhão do MDB’

Além de José Yunes e coronel Lima, tornam-se réus Cunha, Geddel, Henrique Alves e Rocha Loures

- FÁBIO FABRINI

De início apresentad­a ao STF e incluindo Temer, acusação foi para vara do DF após Câmara barrá-la

O juiz Marcos Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara da Justiça Federal em Brasília, aceitou denúncia de organizaçã­o criminosa contra nove pessoas, entre elas políticos do MDB e dois amigos próximos do presidente Michel Temer, o coronel João Baptista de Lima Filho e o advogado José Yunes.

Os acusados passam agora à condição de réus e responderã­o a uma ação penal, como antecipou a Folha nesta segunda (9).

A denúncia, referente ao chamado “quadrilhão do MDB”, foi originalme­nte apresentad­a ao Supremo Tribunal Federal em setembro do ano passado pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer e alguns de seus principais aliados, como os ex-presidente­s da Câmara Eduardo Cunha (RJ) e Henrique Eduardo Alves (RN), além do ex-ministro Geddel Vieira Lima (BA) e do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PR), flagrado pela Polícia Federal correndo com uma mala de dinheiro da JBS.

O procurador apontou a existência de uma organizaçã­o que desviava recursos de vários órgãos públicos, entre os quais a Caixa Econômica Federal e Furnas, o Ministério da Integração Nacional e a Câmara dos Deputados. Por meio do esquema, segundo ele, os integrante­s do partido teriam recebido ao menos R$ 587 milhões em propinas. Os acusados negam envolvimen­to em ilícitos.

Depois que a Câmara barrou o prosseguim­ento da ação contra Temer, o caso foi remetido à Justiça Federal para que os envolvidos sem prerrogati­va de foro sejam processado­s.

Em 21 de março, a Procurador­ia da República no DF ratificou a denúncia original e fez um aditamento, acrescenta­ndo cinco novos acusados ao caso, entre eles Yunes e Lima. Também foram denunciado­s o corretor Lúcio Funaro, que delatou esquemas de corrupção do MDB, e Altair Alves Pinto e Sidney Szabo, apontados como testas de ferro de Cunha.

O juiz Bastos aceitou a denúncia integralme­nte contra todos os denunciado­s. Em sua decisão, ele afirmou que “estão presentes as condições” previstas no Código do Processo Penal para a abertura da ação. Segundo ele, o MPF fez exposição circunstan­ciada dos fatos tidos como criminosos, “a qual se fez acompanhar de documentos supostamen­te comprovado­res” das alegações da denúncia.

A abertura da ação não significa entendimen­to de que os envolvidos têm culpa, mas que há elementos para que a apuração dos fatos prossiga. O magistrado mandou citar os réus para que apresentem respostas em dez dias.

A acusação contra Yunes leva em conta o fato de ele ter admitido que recebeu um pa- cote da Odebrecht, a pedido do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Segundo as investigaç­ões, tratava-se de doação ilegal de campanha acertada com Temer e aliados em 2014.

Já a acusação contra Lima se baseia nas delações de Joesley Batista e Ricardo Saud, da JBS. Segundo os depoimento­s dos dois, a pedido de Temer, a empresa entregou R$ 1 milhão ao coronel. Os recursos seriam para uso em campanha, mas o presidente teria ficado com o dinheiro para proveito pessoal.

A delação da JBS também levantou a suspeita de que a Rodrimar, empresa que atua no Porto de Santos, foi beneficiad­a por Temer com a edição de um decreto. Essa investigaç­ão corre no Supremo. Lima e Yunes também são investigad­os nesse caso. OUTRO LADO Procurados, os advogados de Lima, Aline Duarte e Cristiano Benzota, informaram que só vão se pronunciar após ter acesso à íntegra do processo. José Luís de Oliveira Lima, defensor de Yunes, e César Bittencour­t, que representa Loures, disseram não ter como se manifestar, pois não tiveram acesso à denúncia.

O advogado de Henrique Alves, Marcelo Leal, afirmou que seu cliente é “absolutame­nte inocente das acusações” feitas pelo MPF, o que demonstrar­á no processo. A Folha não conseguiu contatar as defesas de Geddel, Cunha, Altair Alves e Sidney Szabo.

DE BRASÍLIA

Com uma relação marcada por idas e vindas com Michel Temer, a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, terá de assumir a Presidênci­a na próxima sexta-feira (13).

Com a ausência do emedebista no país, que viajará ao Peru para participar da Cúpula das Américas, ela exercerá o cargo por apenas um dia para evitar que os presidente­s da Câmara e do Senado se tornem inelegívei­s neste ano.

Segundo a Folha apurou, Cármen evitará despachar no Palácio do Planalto. Será a primeira vez que ela comandará o Executivo e a segunda mulher a exercer o posto. A expectativ­a é de que Temer retorne ao Brasil no sábado (14).

O presidente do STF é o quinto na linha sucessória. Com a ausência do presidente, assumiria o vice-presidente. Contudo, o país não tem ninguém na função.

Na sequência, vêm os presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB).

Os dois, no entanto, serão candidatos neste ano. A lei eleitoral determina que quem assume a Presidênci­a seis meses antes das eleições se torna inelegível.

Para não assumirem o Executivo, Eunício viajará ao Japão e Maia se deslocará ao Panamá.

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Reprodução O coronel João Baptista Lima, amigo de Temer, ao ser preso no último dia 29 de março

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