Folha de S.Paulo

Professora ‘de voz brava’, nova primeira-dama se diz feminista e critica Doria

Lúcia, mulher do governador Márcio França, assume função que era de Lu Alckmin, presidindo o Fundo Social de Solidaried­ade

- JOELMIR TAVARES

A costureira teve que esperar. Na tarde em que decidiria a roupa para a posse do marido como governador, Lúcia França precisou ir a uma formatura no Palácio dos Bandeirant­es e dar entrevista à Folha, a primeira como primeira-dama do estado.

O figurino nem é novidade tão grande na vida da professora de 56 anos, há 31 casada com Márcio França (PSB), 54.

Usando vestido salmão com estampa de flores e laço na cintura, a educadora esteve ao lado do marido na chegada dele ao comando do estado, na sexta (6). Ele herdou o cargo com a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB) para disputar a Presidênci­a.

No posto de primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidaried­ade (FSS), foi uma mudança de Lu para Lu: saiu Maria Lúcia Alckmin, a Lu Alckmin, e entrou a professora Lúcia, como gosta de ser chamada a nova responsáve­l pelo braço assistenci­al do governo do estado.

“Esse jeitinho doce da dona Lu eu não prometo”, diz a educadora, mais agitada e falante que a mulher do tucano. “Não sou brava, mas a mi- nha voz é”, segue ela, em sala de aula desde os 17 anos e há 36 dirigindo sua própria escola, um colégio em Praia Grande que tem 700 alunos.

Lúcia nasceu na capital e foi criada em São Vicente, cidade onde o marido foi prefeito por dois mandatos (de 1997 a 2004). Também filiada ao PSB, mas sem tanto envolvimen­to na vida partidária, acompanhou Márcio nas campanhas eleitorais, gesto que deve repetir na busca dele pela reeleição como governador.

Pedro Gouvêa (MDB), irmão dela, foi eleito prefeito de São Vicente em 2016 pelas mãos de Márcio França. Lúcia nunca se candidatou, apesar dos pedidos dentro de casa.

A professora diz que levará para o palácio um pouco da disciplina que cobra dos estudantes, mas também sua paciência de alfabetiza­dora.

No FSS, tradiciona­lmente encabeçado pelas primeirasd­amas, assume papel semelhante ao que ocupou em São Vicente. Por não se ver “dando cesta básica para as pessoas” no município, afirma que priorizou ampliação e melhoria de creches da prefeitura.

“Aquele fundo social assistenci­alista ficou para trás. Os fundos sociais hoje querem dar para as pessoas formação, oportunida­de de mudar alguma coisa”, diz Lúcia.

A nova presidente, que grudou em Lu para fazer a transição (a função é voluntária), quer manter os cursos de costura, panificaçã­o, beleza e construção civil do FSS.

“Não tenho o perfil de dar peixe para ninguém. Nem para meus filhos. Quer uma coisa a mais? Faz um trabalho aí que a gente troca”, diz a mãe do deputado estadual Caio França (PSB), candidato à reeleição, e de Helena, que trabalha no colégio da família. FEMINISTA Dizendo-se “bastante feminista”, mas sem radicalism­os, a nova primeira-dama prega equidade entre gêneros. “Não quero igualdade, porque a gente não vai ser igual nunca. Quero oportunida­de igual.”

Na vida conjugal, afirma, nunca houve diferenças. “Sempre fui muito ouvida pelo Márcio. E também sempre mantive minha trajetória.”

Os dois estão afinados também nas críticas ao ex-prefeito João Doria (PSDB), que saiu do cargo para disputar o governo estadual. O governador diz que o tucano mostrou não ter palavra ao abandonar o mandato com 15 meses.

“Nós participam­os da campanha do Doria ativamente”, lembra Lúcia. “Nossa esperança era que ele fizesse um governo diferencia­do. A gente fica decepciona­do”, diz, ecoando o tom que o marido adotará contra o oponente.

O casal França só não fala a mesma língua, diz a esposa, quando o assunto é temperamen­to. O novo governador, que tem fama de conciliado­r, nunca altera o tom de voz, segundo ela. “Estamos juntos há 38 anos e todas as vezes nesse tempo eu briguei sozinha.”

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Keiny Andrade/Folhapress Primeira-dama Lúcia França no Palácio dos Bandeirant­es

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