Folha de S.Paulo

Boa parte das ações no Brasil e retirando dinheiro do país.

- DANIELLE BRANT DE SÃO PAULO ALEXA SALOMÃO

EDITORA DE MERCADO

O primeiro dia útil no mercado financeiro após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreende­u analistas e economista­s. Enquanto a maioria previa acomodação nos indicadore­s ou mesmo uma melhora, o que se viu foi instabilid­ade.

O dólar fechou em R$ 3,42 nesta segunda-feira (9), o maior valor desde dezembro de 2016. A Bolsa recuou 1,8%, para 83.307 pontos.

Segundo o economista­chefe da Rio Bravo Investimen­tos, Evandro Buccini, o que chama a atenção é o fato de que o dia foi calmo nas Bolsas do mundo e apenas dois emergentes sofreram: O Brasil, após a prisão de Lula, e a Rússia, por ser aliada de Bashar Al-Assad, na Síria. Acusado de promover um novo ataque químico a civis, o regime pode ser retaliado pelos Estados Unidos.

O rublo russo foi a moeda que mais se desvaloriz­ou, comquedade­4,1%.Orealfoi a segunda. “Vamos ter de esperar alguns dias para entender que movimento foi esse no Brasil, mas está claro que os investidor­es estrangeir­os identifica­ram algum proble- 4.jan.16 Dólar ma aqui”, disse Buccini.

Entre as primeiras interpreta­ções, ganha força a análise de que, contrarian­do o senso comum, a saída de Lula da disputa eleitoral deixa o cenário mais incerto.

“Alguns identifica­m que a equação eleitoral é mais complexa, pois a saída de Lula pode fortalecer os extremos e abrir espaço para outsiders”, disse Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimen­tos.

O dia foi marcado por especulaçõ­es. Nas mesas de operações circulou a história de que um grande fundo multimerca­dos estaria vendendo VERSÕES A justificat­iva para o malestar com o cenário eleitoral ganhou várias versões.

Em uma, os investidor­es estariam reagindo à decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello de levar ao plenário da corte um pedido de liminar que suspenderi­a a prisão em segunda instância, o que poderia beneficiar réus da Lava Jato, incluindo Lula.

Em outra perspectiv­a, haveria a preocupaçã­o com o im- ponderável sem o petista.

Em relatório, o banco Votorantim fez a avaliação de que pode aumentar a demanda popular por mudanças, o que incentivar­ia discursos populistas.

“O risco é que a eficiência eleitoral desses discursos não necessaria­mente implica agendas econômicas bem definidas e ou a capacidade de construção de coalizões estáveis no Congresso”, afirmou o texto. “Portanto, não apenas o processo eleitoral pode ser mais incerto mas a próxima gestão econômica pode trazer dúvidas importante­s.”

Muito se falou também sobre a crescente incerteza em relação à vitória de um candidato de centro, capaz de preservar a agenda reformista.

Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a falta desse nome forte de centro piora o sentimento dos investidor­es.

“Tirou o Lula da campanha, e daí? Aparenteme­nte você exclui da campanha alguém à esquerda que sinalize alguma coisa antimercad­o, mas não tem a menor ideia do que vem: esse cara de centro ainda não existe”, afirmou Gonçalves.

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