Folha de S.Paulo

Marfrig faz negócio nos EUA e vira a 2ª maior do mundo

Empresa adquire a National Beef por US$ 969 mi e fica atrás só da JBS em carne

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Compra será financiada por banco privado, sem suporte do BNDES e a política de campeões nacionaisd­osanosPT

A Marfrig anunciou nesta segunda-feira (9) um acordo para a compra de 51% das ações da americana National Beef por US$ 969 milhões (R$ 3,3 bilhões).

Com a aquisição, a companhia ultrapassa a americana Tyson Foods e se torna a segunda maior do mundo no setor de carnes, atrás apenas da também brasileira JBS, da família Batista.

O faturament­o da Marfrig vai ultrapassa­r os R$ 43 bilhões e a capacidade de abate vai aumentar para cerca de 35 mil cabeças ao dia após a incorporaç­ão dos negócios.

Com sede no Missouri, a National Beef responde por cerca de 13% da capacidade de abate no mercado americano e traz uma experiênci­a de sociedade com produtores que não existe no Brasil.

Após a operação, 15% da National Beef permanecer­á nas mãos da associação de produtores US Premium Beef, num modelo que produtores brasileiro­s têm interesse em copiar.

O negócio ocorre em um momento em que a indústria de carnes brasileira tenta se reerguer da crise de imagem provocada pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em 2017.

Embora a Marfrig não tenha sido na operação, o escândalo que atingiu os concorrent­es BRF e JBS prejudicou a imagem do mercado brasileiro como um todo, segundo Martín Secco, presidente da Marfrig.

“A Carne Fraca e eventos posteriore­s são coisas de que nós cuidamos com muita atenção. A Marfrig não se envolveu, mas se preocupa como país”, afirmou Secco.

A National Beef exporta para 40 países, incluindo Japão e Coreia do Sul, mercados hoje fechados às exportaçõe­s de carne brasileira.

O Brasil segue enfrentan- do algumas barreiras considerad­as técnicas para exportar carne bovina in natura para os Estados Unidos, por causa de problemas sanitários do ano passado.

“Temos desafios grandes de voltar a exportar carne para os Estados Unidos. Quando falo de acesso ao mercado dos EUA, 80% da comerciali­zação da National Beef é mercado local, além de a National Beef ser o principal exportador de carne americano”, afirmou o executivo. BANCO PRIVADO A compra da National Beef será financiada por um banco privado, o Rabobank. Ao BNDES —que na década passada, nos governos petistas, proporcion­ou a expansão da Marfrig e outros frigorífic­os brasileiro­s na política dos campeões nacionais— caberá apenas aprovar a operação.

Na condição de acionista da Marfrig com 33,74%, o banco tem um prazo de 30 dias para assinar o acordo.

A operação também precisa passar por órgãos de defesa da concorrênc­ia.

Um dos principais objetivos do negócio é reduzir o grau de endividame­nto da Marfrig, cuja dívida total correspond­ia a 4,55 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o) no ano passado. Esse indicador cai da para 3,35 vezes com a aquisição.

A ideia, porém, é levar esse número para 2,5 vezes até o fim de 2018.

Para isso, a Marfrig tomou a decisão de vender a Keystone, gigante do mercado de carnes processada­s que adquiriu em 2010.

“Depois da conclusão da venda da Keystone, queremos seraempres­acomamelho­r saúde financeira do setor e reforçar que essa transação não muda nossa disciplina financeira e nosso caminho de desalavanc­agem”, disse o presidente da empresa.

Em relatório, analistas do BTG Pactual consideram que a operação, à primeira vista, surpreende, consideran­do as metas agressivas de desalavanc­agem que são apresentad­as pela Marfrig. (JOANA CUNHA E DANIELE BRANT)

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