Folha de S.Paulo

Foragido no Rio representa novo perfil de milícias

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DO RIO

A Polícia do Rio segue em busca do atual chefe da principal milícia do estado, a ironicamen­te intitulada Liga da Justiça e que atua no Rio e em municípios da Baixada Fluminense e da Costa Verde.

Wellington da Silva Braga, o Ecko, conseguiu fugir da operação policial neste final de semana que prendeu 159 suspeitos de envolvimen­to com milícias, organizaçõ­es formadas principalm­ente por policiais, ex-policiais e bombeiros que controlam com violência áreas pobres e obrigam moradores a contratare­m serviços.

Ecko, também conhecido como Didil, assumiu a chefia do grupo em abril de 2017, após a morte de seu irmão, Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes. Contra ele há mandado de prisão pelo crime de homicídio. Quatro de seus seguranças morreram na operação.

Os irmãos Braga refletem uma mudança no perfil das milícias, que costumavam ser chefiadas por policiais, ex-policiais e bombeiros. São o que investigad­ores chamam de “pé-inchado”, aqueles que não são oriundos da polícia.

Segundo o Disque-Denúncia, Ecko lucra com o tráfico de drogas, coopta ex-traficante­s para a quadrilha e tem perfil violento —teria um espaço onde comete tortura.

Investigaç­ões da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizada­s) apontam que o grupo de Ecko tem aliança com traficante­s da facção TCP (Terceiro Comando Puro). Funciona assim: os milicianos deixam os traficante­s atuarem na favela, com a venda livre de drogas, mas exigem parte do lucro.

No passado, a prisão de chefes da Liga da Justiça não conseguiu acabar com o grupo, como mostram as continuada­s denúncias feitas por moradores da região controlada por ele.

A Liga da Justiça surgiu na zona oeste, nos anos 2000, e tem como símbolo o morcego do personagem de quadrinhos Batman, uma alusão ao apelido de um dos chefes da quadrilha, o ex-policial Ricardo Teixeira Cruz, hoje preso. A Liga é considerad­a a milícia mais poderosa e a que mais conseguiu ampliar o seu território, a partir da absorção de outros grupos menores.

Tem base em Campo Grande, na zona oeste, mas atua em outros bairros dessa região. Assim como outras milícias, obriga moradores de lugares pobres a contratare­m serviços urbanos.

Em 2015, a Polícia Civil estimava o lucro do grupo em R$ 1 milhão por mês com a exploração de serviços como segurança e ligações clandestin­as de internet e TV a cabo em 12 bairros. Os métodos nos últimos anos se diversific­aram —elas cobram por qualquer atividade que movimente dinheiro.

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