É mal de Alzheimer ou não é?
REUNIÕES CIENTÍFICAS costumam ser oportunidades para pesquisadores trocar figurinhas e apresentar uns aos outros o que acabaram de descobrir ou começaram a estudar mas ainda não se tornou público.
Por isso uma reunião recente sobre a doença de Alzheimer foi tão extraordinária. Duas instituições privadas, a Alzheimer’s Association e a Croucher Foundation, de Hong Kong, reuniram cerca de 30 pesquisadores especialistas na doença para passar três dias naquela cidadeEstado, fechados em um auditório, não para apresentar suas descobertas, mas, sim, para avaliar o estado da questão e tentar chegar a um consenso sobre o que é, de fato, o mal de Alzheimer e o que se sabe sobre suas causas. O problema é duplo. Por um lado, recuperação nem cura. Por outro lado, e talvez esta seja uma das causas do primeiro problema: o que médicos e pesquisadores chamam de “doença de Alzheimer” costumava ser algo muito preciso (perda de memória e demência precoces, com emaranhados de proteína tau encontradas mas nas últimas décadas passou a abraçar o que outros ainda chamam de demência senil e também formas não hereditárias da doença, tanto precoces ou tardias. O exame clínico não deveria bastar para o diagnóstico, mas na prática um saco de gatos. Alguns pesquisadores ainda têm o cuidado de definir a que se referem, mas outros, em parte no afã de terem seus esforços abraçados pelo farto financiamento para estudar a doença, contribuíram para turvar o diagnóstico a ponto de tê-lo deixado quase inútil.
Receber um diagnóstico de doença de Alzheimer é devastador e somente deveria acontecer com ampla certeza. A diferença é que nem toda perda de memória é sinal de alzheimer. Estresse, pancadas, Quando o diagnóstico vem com uma sentença, todo cuidado é pouco. SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com