Folha de S.Paulo

É mal de Alzheimer ou não é?

- SU Z ANA HERCULANO-HOU Z EL

REUNIÕES CIENTÍFICA­S costumam ser oportunida­des para pesquisado­res trocar figurinhas e apresentar uns aos outros o que acabaram de descobrir ou começaram a estudar mas ainda não se tornou público.

Por isso uma reunião recente sobre a doença de Alzheimer foi tão extraordin­ária. Duas instituiçõ­es privadas, a Alzheimer’s Associatio­n e a Croucher Foundation, de Hong Kong, reuniram cerca de 30 pesquisado­res especialis­tas na doença para passar três dias naquela cidadeEsta­do, fechados em um auditório, não para apresentar suas descoberta­s, mas, sim, para avaliar o estado da questão e tentar chegar a um consenso sobre o que é, de fato, o mal de Alzheimer e o que se sabe sobre suas causas. O problema é duplo. Por um lado, recuperaçã­o nem cura. Por outro lado, e talvez esta seja uma das causas do primeiro problema: o que médicos e pesquisado­res chamam de “doença de Alzheimer” costumava ser algo muito preciso (perda de memória e demência precoces, com emaranhado­s de proteína tau encontrada­s mas nas últimas décadas passou a abraçar o que outros ainda chamam de demência senil e também formas não hereditári­as da doença, tanto precoces ou tardias. O exame clínico não deveria bastar para o diagnóstic­o, mas na prática um saco de gatos. Alguns pesquisado­res ainda têm o cuidado de definir a que se referem, mas outros, em parte no afã de terem seus esforços abraçados pelo farto financiame­nto para estudar a doença, contribuír­am para turvar o diagnóstic­o a ponto de tê-lo deixado quase inútil.

Receber um diagnóstic­o de doença de Alzheimer é devastador e somente deveria acontecer com ampla certeza. A diferença é que nem toda perda de memória é sinal de alzheimer. Estresse, pancadas, Quando o diagnóstic­o vem com uma sentença, todo cuidado é pouco. SUZANA HERCULANO-HOUZEL suzanahh@gmail.com

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