Folha de S.Paulo

Disco embrião da bossa nova faz 60 anos

Show no IMS Paulista, nesta terça-feira (10), apresenta íntegra de ‘Canção do Amor Demais’, lançado em 1958

- AMANDA NOGUEIRA

Com canções de Tom e Vinicius, voz de Elizeth Cardoso e violão de João Gilberto, LP apresentou ‘Chega de Saudade’

Neste mês de abril, a gravação de “Canção do Amor Demais”, álbum que é considerad­o o prólogo da bossa nova, completa 60 anos.

São 12 composiçõe­s do início da parceria entre Vinicius de Moraes e Tom Jobim, incluindo o primeiro registro de “Chega de Saudade”, já com a caracterís­tica batida de violão de João Gilberto —também presente em “Outra Vez”.

“É um disco lindo, caprichado, precioso”, diz Paulo Jobim, músico filho de Tom Jobim. “Foi o álbum em que se juntou a parceria de meu pai e Vinicius. Logo depois João [Gilberto] gravou os discos deles, que em matéria de bossa nova são mais definitivo­s.”

As canções são embaladas pela voz potente de Elizeth Cardoso, afeita ao samba-canção. Sua interpreta­ção comprovou sua capacidade de vocalizar melodias difíceis, diz Beatriz Paes Leme, coordenado­ra do acervo de música do Instituto Moreira Salles, que mantém parte do acervo da cantora desde 2003.

“É uma grande prova pela qual ela passou com louvor, ela é exatamente ela, ela não virou uma cantora de bossa nova, ela não canta como João Gilberto faria depois”, diz Beatriz. “Elizeth foi alçada ao patamar de cantora que os músicos gostam.”

Durante os ensaios em que Tom e Vinicius passavam o repertório com Elizeth, João Gilberto bem que teria tentado escolar a experiente cantora no ritmo que ele acreditava ser o correto, sem sucesso.

Aqueles encontros seriam lembrados anos depois em “Carta ao Tom 74”, parceria de Vinicius e Toquinho (“Rua Nascimento Silva, cento e sete/ Você ensinando prá Elizete as canções de canção do amor demais/ Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidade”).

Paulo define os arranjos de seu pai como simples, mas caprichoso­s, flertados com a música de câmara. “Tem a ver com as serestas do Villa [Heitor Villa-Lobos], normalment­e tocadas ao piano, que foram arranjadas em um disco do qual meu pai era fã.”

Lançado por um selo não comercial, o Festa, “Canção do Amor Demais” não foi um sucesso imediato quando lançado, em maio daquele ano. “Não foi sequer um sucessinho”, escreve Ruy Castro, colunista da Folha, no livro “Chega de Saudade”.

“Esse disco foi um sucesso retroativo, só estourou depois que João Gilberto gravou ‘Chega de Saudade’ [em julho daquele ano]. O impacto foi tão grande que as pessoas começaram a ligar uma coisa com a outra”, completa Beatriz.

Paulo acredita ser improvável que seu pai tivesse noção, já naquela época, de que eles estavam criando algo.

“Vinicius disse que ficou completame­nte embananado pra fazer a letra de ‘Chega de Saudade’ porque sentiu que

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Acervo UH/Folhapress Tom Jobim (acima), responsáve­l pelos arranjos do álbum (à direita), em registro de 1958
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Reprodução

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