Efeito placebo nos postos de saúde
No Brasil, assim como na maioria dos países do Ocidente, o diagnóstico e o tratamento de doenças são conduzidos a partir de procedimentos cientificamente comprovados. Isso implica considerar válidos para a boa assistência aos pacientes apenas os medicamentos, métodos e abordagens terapêuticas que contam com validação científica.
Ou seja, após passarem por todas as etapas da pesquisa e da experiência clínica, conseguem acumular conclusões fortes o suficiente de que seus riscos são reduzidos e de que há maiores chances de êxito após a aplicação. Tal zelo preserva o binômio segurança e eficácia, fundamental para a prática médica.
Contudo, apesar de todo esse rigor científico, o emprego das terapêuticas validadas permanece ainda suscetível às incertezas decorrentes da resposta do organismo de cada paciente. Também sofre a influência dos cenários de prática, muitas vezes desprovidos de recursos adequados.
Assim, preocupado com a qualidade dos meios oferecidos à população na promoção da saúde e na luta contra a doença, o Conselho Federal de Medicina (CFM) considera um equívoco a inclusão de práticas integrativas no rol de serviços oferecidos no Sistema Único de Saúde (SUS), atribuindo-lhes garantias de resultados que não contam com a confirmação de pesquisas científicas com metodologia comprovadamente reconhecida.
Essas práticas não apresentam resolubilidade, conforme as melhores evidências científicas disponíveis. Na melhor das hipóteses, oferecem um efeito placebo aos seus adeptos: o seu uso por um doente otimista pode gerar a percepção de efeito semelhante ao de um procedimento já testado e reconhecido pela ciência. Porém, isso não significa cura ou melhora duradoura.
Pode, em algumas circunstâncias, retardar o início de tratamentos necessários, comprometendo ainda mais o quadro de enfermidades, com a redução de chances de recuperação e, no limite, até com o aumento do risco de morte.
A oferta dessas práticas no SUS é um tema sério, pela confusão que gera na população no momento de optar entre tratamento alternativo e um realmente eficaz.
Por isso, num contexto de alerta, cabe aos médicos somente atuar na medicina com procedimentos e terapêuticas que têm validade científica. Dentre as 29 práticas integrativas no SUS anunciadas pelo governo, isso ocorre apenas com a homeopatia e a acupuntura. Ambas são especialidades médicas, que observam protocolos clínicos, compromissos e responsabilidades éticas.
Porém, o equívoco da incorpora- ção dessas práticas ao SUS não reside apenas na ausência de comprovação de sua segurança e eficácia no tratamento. Também precisa ser considerado o impacto que a medida traz para a rede pública, do ponto de vista de seu financiamento.
Evidentemente, oferecer nos postos de saúde acesso à apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos e terapia de florais, por exemplo, exigirá verbas que poderiam ser mais bem aplicadas na contratação de profissionais e compra de medicamentos, equipamentos e insumos, atualmente prejudicados.
Assim, a incorporação dessas práticas ao SUS contribui para o uso indevido de recursos públicos, agravando o quadro de um sistema já marcado por carências e faltas, e que há tempos clama por competência administrativa.
Por isso, a gestão do SUS deve agir com cautela, fazendo escolhas corretas e atentas às reais prioridades e necessidades dos profissionais e da população. Sem isso, o governo oferecerá à nação um grande placebo —que, como todos os outros, não trará a resposta definitiva para os problemas de saúde dos brasileiros. HENRIQUE BATISTA E SILVA,
Alvissareiro ler a opinião da Folha externada no editorial (“Risco de retrocesso”, 13/4). Alguns ministros do STF derretem garantias constitucionais voltadas à salvaguarda de liberdades públicas. Na mesma edição, veio ao encontro do editorial o texto de Reinaldo Azevedo (“Lula e o bolivarianismo verde-amarelo”, Poder, 13/4). Com acerto, ele chama o STF de Supremo Legislador, que arbitrariamente investe contra a estabilidade constitucional que deveria conservar.
GLAUCO GUMERATO RAMOS, Brasileira de Direito Processual
Lula Sobre a fiscalização que a Comissão de Direitos Humanos do Senado fará no “apart-cela” de Lula (“Após veto da Justiça, senadores manobram para poder visitar Lula”, 14/4), gostaria de sugerir isto: uma vez que estarão lá, que tal visitarem as celas dos outros presos? E que tal fazerem o mesmo em cadeias de outros estados?
LUCIANO NOGUEIRA MARMONTEL
Um fundador do PSDB nunca admitiria que houve perseguição política a Lula (“É ilusão acreditar em perseguição contra Lula e PT”, Poder, 13/4). O cientista político Bolívar Lamounier tenta desqualificar os erros do processo de condenação dizendo que os militantes não reconhecem que houve corrupção no governo do PT. Lula não foi condenado pelo conjunto da obra, mas por um processo no qual as provas de posse ou de propriedade do tríplex não foram apresentadas. Isso é o que deixa as pessoas inteligentes e pensantes deste país indignadas.
RENATA FREITAS
Boa a entrevista. A questão de fechar os olhos em relação aos malfeitos do PT é uma escolha consciente de fanáticos. Talvez seja até mesmo algo que façam para não se sentir tão mal em relação a votos passados.
RODRIGO CAMPOS
O foro é a grande questão de fundo de toda a impunidade que temos visto. Por isso, insistem em derrubar a prisão em segunda instância. Uma coisa é ficar recorrendo preso, gastando com advogado à toa. Outra é ir procrastinando até a prescrição. Precisamos das duas coisas: restrição do foro especial e prisão em segunda instância. Aí a impunidade levará um duro golpe
EDUARDO DE OLIVEIRA CAVALCANTI
Polícia Civil O governador Márcio França pretende inovar na área da segurança (“SP estuda tirar Polícia Civil da pasta de Segurança”, Cotidiano, 13/4). Sua ideia não parece ruim, mas está longe de ir ao cerne das causas da violência, que é a sensação de impunidade. Sem falar que, se não forem resolvidas outras questões, como salários e efetivos defasados, deficiência na formação e nas condições de trabalho dos policiais, pouco adiantará. Por fim, uma pergunta: os representantes dos policiais serão ouvidos? Seria bom...
JARIM LOPES ROSEIRA,
Liga dos Campeões A maioria dos jornalistas dava como certa a classificação do Barcelona e do Real Madrid, de uma forma tranquila, após o primeiro jogo (“Os encantos do futebol”, Esporte, 12/4). Ficou uma grande lição para todos: não existe jogo ganho, e a determinação e a raça podem reverter placares.
VINICIUS ONOFRE MOTA
Queijo Gostaria de parabenizar a Folha pela volta da página do Comida. No entanto, temos a infelicidade de ler do jornalista Marcos Nogueira que “o verdadeiro artesanal é o queijo vendido em beira de estrada —sem licença e cheio de coliformes fecais”. Aproveito a oportunidade para convidá-los a conhecer o que os “artesanais” queijeiros brasileiros têm produzido para que numa próxima oportunidade não se escreva um texto tão falacioso em algumas afirmativas em um espaço que nos é tão caro.
VERIDIANA MOTT
Mogi-Bertioga