Folha de S.Paulo

Deputado do PT defende fechar o Supremo

- DE SÃO PAULO

A Polícia Civil indiciou nesta sexta (13) o terceiro suspeito de agredir o administra­dor Carlos Alberto Bettoni, 56, em frente ao Instituto Lula, em São Paulo, há uma semana.

Paulo Cayres, vice-diretor do Sindicato dos Metalúrgic­os do ABC, foi indiciado por suspeita de lesão corporal dolosa de natureza grave (há intenção de ferir).

Os demais suspeitos pela agressão são o ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho do PT, e seu filho Leandro Eduardo Marinho, indiciados pelo mesmo crime na segunda (9). Se condenados podem responder a pena de um a cinco anos de prisão.

Procurado pela Folha, Cayres disse que não fez nada e não vai se manifestar. Nas imagens, ele aparece chutando Bettoni, que segue internado com traumatism­o craniano sem previsão de alta. O IML classifico­u como grave a lesão do manifestan­te antipetist­a.

O administra­dor foi empurrado durante uma confusão após a ordem de prisão de Lula ser expedida pelo juiz Sergio Moro na quinta-feira (5).

Imagens mostram um gru- po de manifestan­tes do qual Bettoni fazia parte xingando petistas em frente ao instituto. Um deles diz: “Vai ser reeleito, filho da puta do caralho?”. “Volta aqui para apanhar, vagabundo”, diz outro. “Vai, seu canalha”, diz mais um.

Não fica claro se as provocaçõe­s foram direcionad­as ao líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), que dava entrevista no momento da confusão, ou ao ex-vereador, que aparece em seguida confrontan­do o administra­dor de empresa. “Sai daqui, seu merda, você ainda vai apanhar”, disse o ex-vereador, antes de empurrá-lo.

Bettoni tenta fugir em direção à rua. Ele é perseguido por Maninho do PT, Leandro e Cayres, que cai ao tentar chutá-lo. “Sai, canalha, isso, aí, pula fora. Canalhão filho da puta”, diz. “Bolsonaro filho da puta”, diz outro homem não identifica­do nas imagens.

Em seguida, Bettoni é empurrado, bate a cabeça no para-choque de um caminhão que passava na rua e cai desacordad­o.

Pessoas começam a pedir aos gritos para chamar uma ambulância ao ver o rastro de sangue no asfalto.

De acordo com o delegado Wilson Zampieri, responsáve­l pelas investigaç­ões, um exame complement­ar de corpo de delito será feito em 30 dias para atestar se a vítima sofrerá algum tipo de sequela.

Um dos principais interlocut­ores do PT junto ao Judiciário, o deputado federal Wadih Damous (RJ) disse nesta sexta-feira (13) que é preciso “fechar o Supremo Tribunal Federal”.

Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro, Damous gravou um vídeo em que diz que é necessário “enquadrar essa turma”, em referência aos ministros do STF.

“Temos que redesenhar o Poder Judiciário e o papel do Supremo Tribunal Federal. Tem que fechar o Supremo Tribunal Federal. Temos que criar uma corte constituci­onal de guarda exclusiva da Constituiç­ão, com seus membros detentores de mandato.”

Na gravação, ele concentra as críticas em Luís Roberto Barroso, ministro nomeado no governo de Dilma Rousseff e que deu o mais contundent­e voto a favor da prisão de condenados em segunda instância no julgamento que negou um habeas corpus ao ex-presidente Lula, semana passada.

Barroso também deu de- claração nesta semana afirmando que o país está conseguind­o “separar o joio do trigo”, mas que “o problema é a quantidade de gente que ainda prefere o joio”.

Entre outras coisas, Damous chamou o magistrado de “mal para a democracia” e capaz de produzir “idiotices”. “Não foi para isso que essa turma foi colocada lá”, disse. E continuou: “Ou nós enquadramo­s essa turma ou essa turma vai enterrar de vez a democracia.”

Procurado, o deputado afirmou que a declaração está sendo tratada de maneira leviana. Ele disse discordar das críticas de que a fala teria tom autoritári­o ao pedir o fechamento do Supremo. “Eu repudio totalmente, até porque a minhas trajetória não condiz com o autoritari­smo”, disse à Folha.

“[A criação da corte constituci­onal] É objeto de PEC na Câmara, e é uma discussão permanente do meio jurídico acadêmico, não estou vendo por que esse cavalo de batalha”, disse.

A declaração foi dada na semana seguinte à prisão de Lula, que ocorreu no último sábado (7). Procurado, Barroso informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não fez referência depreciati­va ao ex-presidente Lula. A ministra Cármen Lúcia não se pronunciou.

 ?? Leonardo Benassatto - 5.abr.2018/Reuters ?? O administra­dor Carlos Alberto Bettoni fica desacordad­o em frente ao Instituto Lula
Leonardo Benassatto - 5.abr.2018/Reuters O administra­dor Carlos Alberto Bettoni fica desacordad­o em frente ao Instituto Lula

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil