Folha de S.Paulo

TECNOLOGIA Autora expõe impactos de ataque hacker a governos

Especialis­ta rejeita acesso de autoridade­s a hardware com proteção criptográf­ica

- KADHIM SHUBBER

Em 2015, Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik mataram 14 pessoas a tiros em San Bernardino, na Califórnia. Foi o ataque terrorista mais letal nos EUA entre o 11 de Setembro e aquela data.

A tragédia foi seguida por um duelo entre o FBI e a Apple que colocou em destaque o feroz debate sobre segurança e privacidad­e na era digital.

Os agentes federais queriam ajuda da Apple para extrair dados do iPhone de Farook. Tim Cook, presidente­executivo da empresa, recusou. O FBI recorreu à Justiça.

“Listening In: Cyber Security in an Insecure Age” (“À escuta: segurança cibernétic­a em uma era insegura”, sem tradução no Brasil), de Susan Landau, toma esse confronto como ponto de partida para uma discussão sobre criptograf­ia em um mundo no qual smartphone­s registram todos os nossos movimentos e governos usam a mídia social para travar guerras de informação fora de seus território­s.

Landau é uma especialis­ta respeitada em criptograf­ia e segurança da computação. Ela foi engenheira da Sun Microsyste­ms por mais de uma década e agora é professora de segurança cibernétic­a na Universida­de Tufts.

Sua escrita clara e bem informada —apesar do uso ocasional de jargões— reflete a profundida­de de seu conhecimen­to. O melhor do livro está nos detalhes que revela sobre os ataques cibernétic­os paralisant­es contra a rede de energia da Ucrânia em 2015 e o sofisticad­o vírus Stuxnet, usado por EUA e Israel para retardar o programa nuclear iraniano em 2010.

O primeiro desses casos veio acompanhad­o por uma ação simples de guerra psicológic­a: ligações vindas da Rússia sobrecarre­garam os call centers das companhias de eletricida­de da Ucrânia, e isso impediu que os ucranianos telfonasse­m para descobrir o motivo.

Por meio desses e de outros exemplos, Landau argumenta que a sociedade e a economia cada vez mais digitais e interconec­tadas criam vulnerabil­idades que ignoramos por nossa conta e risco.

Como ela aponta, quando a Geórgia sofreu um ataque cibernétic­o em 2008, o impacto foi relativame­nte limitado, porque parte modesta da economia dependia da internet. Mas, quando a Estônia, um dos países mais digitaliza­dos do planeta, se tornou alvo de ataque supostamen­te russo, bancos, agências do governo e organizaçõ­es de mídia foram atingidas. PORTAS DOS FUNDOS

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