Folha de S.Paulo

UE ameaça suspender todas as compras de frango da BRF

Comitiva brasileira sai pessimista de encontro em Bruxelas sobre o caso

- IGOR GIELOW

Polícia suspeita de falsificaç­ão de laudos de produto exportado, o que disparou crise e veto à exportação

A UE (União Europeia) ameaça ampliar o boicote à BRF, maior exportador­a de carne de frango do país, para todas as unidades produtoras da empresa, que hoje tem três fábricas proibidas de vender o produto ao bloco.

“O ministro Blairo Maggi [Agricultur­a] apresentou todos os argumentos, mas eles ameaçam desabilita­r todas as plantas da BRF”, afirmou o representa­nte do Senado na comitiva que foi a Bruxelas, sede política da UE, discutir o caso nesta semana, Cidinho Santos (PR-MT).

A proibição é decorrênci­a da Trapaça, fase da operação da Polícia Federal Carne Fraca que identifico­u em março deste ano fraudes em laudos sobre contaminaç­ão por salmonela em unidades exportador­as da BRF.

Três delas foram vetadas de vender preventiva­mente pelo Ministério da Agricultur­a: Mineiros (GO), Rio Verde (GO) e Curitiba (PR).

Blairo, Santos e técnicos se reuniram de terça (10) a quinta (12) com representa­ntes da divisão sanitária da Comissão Europeia, órgão executivo da UE. “Saímos pessimista­s do encontro”, relatou o senador, suplente do ministro.

Blairo não respondeu à mensagem da reportagem nesta sexta (13). Em rede social, havia publicado postagem dizendo ter registrado “poucos avanços” na negociação e relatando ter esperança de “minimizar o impacto” da decisão que a Comissão Europeia tomará no próximo dia 18 sobre a importação.

O Brasil é o maior produtor mundial de frango, e a BRF, sua principal exportador­a. Os países da UE são destino de cerca de 15% das vendas, segundo dados do setor. A empresa, que nega irregulari­dades, não comentou o caso.

A Operação Carne Fraca também investiga suspeitas de problemas em outras empresas, como a JBS, mas a fase atual é centrada na BRF.

Segundo Santos, membros da UE estão aproveitan­do a crise deflagrada pela operação. “Há muita pressão, querem fechar acesso a tudo”, disse, ressoando críticas ao protecioni­smo europeu.

A Folha buscou, sem sucesso, contato com a Comissão Europeia. A comitiva brasileira teme que a exportação de suínos da BRF também acabe afetada.

Se for tomada uma decisão contra o Brasil, as opções são ir à OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) visando criar uma arbitragem ou retaliar contra produtos europeus. TEMPESTADE A crise na área exportador­a integra a tempestade que atinge a maior processado­ra de alimentos do Brasil.

A BRF enfrenta uma disputa encarniçad­a por seu controle, após registrar um prejuízo recorde de US$ 1,1 bilhão no ano passado —parte pelos efeitos da Carne Fraca, parte por problemas de gestão que fizeram alguns de seus principais acionistas requisitar­em a destituiçã­o do conselho liderado pelo empresário Abilio Diniz.

Duas chapas, uma delas montada pelo empresário, deveriam se enfrentar no próximo dia 26 em assembleia.

Com apoio dos fundos de pensão Petros e Previ, a gestora britânica Aberdeen tomou a frente e requisitou o chamado voto múltiplo, obrigando que cada um dos dez novos conselheir­os seja escolhido individual­mente.

Com isso, a disputa será direta entre as facções beligerant­es, reforçando a impressão de mercado de que a crise interna na empresa está bem longe de se resolver.

Cada conselheir­o tem de ser eleito, na prática, por quem possuir 5% de controle da empresa.

Assim, os fundos de pensão, com 22% das ações, asseguram quatro representa­ntes de saída. Aberdeen (5%), mais um. Abilio, com menos de 4%, poderá fazer dois ou três nomes a depender do alinhament­o que conseguir.

A ação da BRF fechou a sexta em queda de 4,58%, a R$ 21,67. Há menos de três anos, ela valia R$ 70. “É claro que há um problema de gestão que os europeus percebem”, afirmou o senador. ACIONISTAS (2017) Ações em tesouraria 0,16% Diretoria 0,02% HISTÓRICO 2008 Sadia perdeu R$ 2,5 bi com crise global e alta do dólar 2009 Abalada, Sadia entra em processo de fusão com Perdigão, encerrado em 2013 2013 Abilio Diniz é eleito presidente do conselho de administra­ção 5 milhões de toneladas de alimentos comerciali­zadas em 2017 30 marcas sendo as principais: Sadia, Perdigão, Qualy, Paty, Dánica, Bocatti e Vieníssima

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