Folha de S.Paulo

MPT recomenda a trabalhado­res de frigorífic­os que não façam acordos coletivos

- LAÍS ALEGRETTI

Preocupado com os impactos da reforma trabalhist­a, o MPT (Ministério Público do Trabalho) enviou uma recomendaç­ão a sindicatos de trabalhado­res da área de alimentaçã­o para que não celebrem acordos coletivos previstos na nova lei. As empresas do setor se dizem “revoltadas” com a manifestaç­ão.

Em documento enviado aos representa­ntes dos trabalhado­res, o MPT argumenta que a melhoria das condições de trabalho em frigorífic­os conquistad­a nos últimos anos pode ser revertida pela reforma trabalhist­a.

“A reforma trabalhist­a representa um profundo retrocesso, ao ponto de autorizar o trabalho de gestantes em frigorífic­os”, diz o procurador do trabalho Sandro Sardá, que assina o documento.

A recomendaç­ão é que os sindicatos devem se recusar a assinar acordos ou convenções coletivas que represente­m redução dos direitos conquistad­os, como diminuição de intervalo para descanso.

O MPT diz que as recomendaç­ões devem ser adotadas imediatame­nte, sob risco de “medidas judiciais cabíveis”. Hoje há cerca de 450 mil trabalhado­res em frigorífic­os.

As empresas pretendem enviar reclamação ao Conselho Nacional do Ministério Público, de acordo com o vice-presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Ricardo Santin.

“Estamos nos revoltando contra a medida”, disse. “É muito estranho o MPT trabalhar contra uma lei que foi democratic­amente redigida e aprovada.” O ofício do MPT foi enviado em dezembro.

O diretor-executivo do Sindicato da Indústria da Carne e Derivados de Santa Catarina, Ricardo Gouvêa, diz que o documento tem “tom de ameaça” e que os sindicatos não discutem mudanças, como extensão da jornada.

Representa­nte de sindicatos, o presidente da CNTA (Confederaç­ão Nacional dos Trabalhado­res nas Indústrias de Alimentaçã­o e Afins), Artur Bueno, confirma que há resistênci­a em firmar novos acordos. Há muitos problemas, diz ele:

“A maioria das atividades em frigorífic­o é penosa, com esforço repetitivo. Grande parte trabalha em baixa temperatur­a, de 10ºC a 12ºC”.

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