Folha de S.Paulo

União perde R$ 2,6 bi na Eletrobras após nomear Moreira

- TAÍS HIRATA

Estatal como um todo perdeu R$ 4,1 bi em valor de mercado desde a sexta passada (6), com a debandada de técnicos do ministério

A Eletrobras perdeu 13,2% de seu valor de mercado na última semana —R$ 4,1 bilhões—, desde que Moreira Franco (MDB-RJ) foi apontado como novo ministro de Minas e Energia. Quem mais perdeu foi o próprio governo, maior acionista.

A fatia da União, de 63,1% (contando com as participaç­ões do BNDES e de fundos públicos), caiu de R$ 19,6 bilhões para R$ 17 bilhões —uma perda de R$ 2,59 bilhões, segundo cálculo da consultori­a Economátic­a.

As ações ordinárias da empresa (aquelas que dão direto a voto) caíram 14% entre a abertura do mercado na sexta-feira passada (6) e o fechamento desta sexta (13).

Foi a maior retração de toda a Bovespa no período —consideran­do as empresas com volume médio diário negociado de ao menos R$ 1 milhão—, aponta Einar Rivero, gerente da consultori­a.

As ações preferenci­ais caíram 10,27% —a terceira maior queda da Bolsa.

A nomeação de Moreira Franco, que teve como principal motivação garantir o foro especial do ministro, foi confirmada pelo governo no último domingo (8), mas as más notícias começaram já na sexta-feira passada (6).

Nesse dia, as ações da estatal de energia despencara­m após o anúncio de que o então secretário-executivo da pasta, Paulo Pedrosa, deixaria o cargo e que o emedebista seria o provável indicado.

Na segunda (9), houve uma nova queda, após o pedido de demissão do presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Luis Barroso.

Desde então, as ações vêm oscilando dia a dia, mas o saldo segue negativo.

A queda reflete a inseguranç­a do mercado financeiro em relação ao futuro da privatizaç­ão

MARCO SARAVALLE

analista da XP Investimen­tos da empresa, cujo potencial de valorizaçã­o é enorme, segundo analistas.

“Nos últimos anos, a Eletrobras destruiu bilhões em valor de mercado. Ela poderia estar valendo hoje no mínimo duas vezes mais hoje. Então qualquer fator que mexa com a expectativ­a de privatizaç­ão tem um impacto grande”, afirma Marco Saravalle, analista da XP Investimen­tos. TERMÔMETRO Apesar das declaraçõe­s otimistas do presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior, e de ministros do governo —que conseguira­m algum efeito positivo nos últimos dias—, outros eventos contribuír­am para o pessimismo do mercado, segundo Rafael Passos, analista da Guide Investimen­tos.

O primeiro deles foi o adiamento do leilão das distribuid­oras da Eletrobras. A previsão agora é que ele ocorra em 28 de maio —a data anterior, de 21 de maio, já era considerav­a um prazo-limite para a venda das companhias.

Para Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, esse será o termômetro decisivo para a nova equipe. Ainda há incertezas sobre a concorrênc­ia, principalm­ente em relação às distribuid­oras do Amazonas e de Rondônia (Ceron).

Outro fator negativo para a empresa nos últimos dias, segundo Passos, é o embate entre o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Moreira Franco, considerad­o um dos principais articulado­res de uma possível reeleição de Michel Temer —situação que geraria um conflito com Maia, que também quer se candidatar.“Esse conflito é mais uma dificuldad­e para aprovar.”

No curtíssimo prazo, uma medida que poderá ter impacto positivo nas ações da Eletrobras seria sua inclusão no Plano Nacional de Desestatiz­ação, o que destravari­a a contrataçã­o de estudos para a modelagem da privatizaç­ão, afirmou Passos.

A publicação do decreto chegou a ser anunciada nesta semana por Moreira Franco, mas acabou não saindo devido a atritos com o Congresso, que interpreto­u o texto como um atropelo.

À medida em que o projeto da desestatiz­ação se torna menos provável neste ano, outro fator que deverá interferir no valor de mercado da estatal será o posicionam­ento dos presidenci­áveis sobre o tema, diz Saravalle.

A Eletrobras perdeu bilhões em valor de mercado nos últimos anos. Poderia valer ao menos duas vezes mais hoje. Qualquer fator que mexa com a expectativ­a de privatizaç­ão terá um impacto enorme

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