Masp vende cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi
A primeira mulher a presidir a organização que concede o Prêmio Nobel de literatura foi forçada a deixar o posto na quinta (12), na esteira de acusações de assédio sexual que ameaçam uma das mais prestigiosas honrarias do mundo.
Sara Danius, estudiosa da literatura que se tornou a primeira mulher a presidir este comitê, era secretária permanente daAcademiaSuecadesde2015. Ela defendia a apuração das acusações e o afastamento dos supostos envolvidos.
A saída é parte de uma disputa que causou divisões amargas no conselho da instituição. O escândalo ecoou nos escalões mais altos do governo. “Cabe à academia restaurar a fé e o respeito”, disse o primeiro-ministro Stefan Löfven.
O caso surgiu em novembro, quando o jornal Dagens Nyheter noticiou que pelo menos 18 mulheres acusavam JeanClaude Arnault, importante figura no meio cultural sueco, de assédio e agressão sexual.
Arnault é casado com a poeta Katarina Frostenson, membro da academia. Os dois dirigem um clube cultural privado chamado Fórum, que recebia verbas da Academia.
Segundo o jornal, Arnault vazou informações sobre o ganhador do Nobel de Literatura sete vezes, desde 1996.
A polícia sueca investiga as acusações de abuso. Arnault nega. Sua mulher concordou em se afastar da Academia.
Depois que surgiram essas acusações, Danius, 56, rompeu as relações da Academia com Arnault e contratou um escritório de advocacia para conduzir uma investigação sobre a conexão entre a instituição e o clube privado.
Foram identificadas supostas irregularidades financeiras e recomendou que a Academia prestasse queixa à polícia, o que a organização não fez.
Em assembleia na semana passada, seis membros votaram a favor da expulsão de Katarina Frostenson e oito, contra. Em protesto, três membros renunciaram às cadeiras. Danius defende a punição.
Do lado oposto da disputa estão dois ex-secretários permanentes, Sture Allén e Horace Engdahl, que nos últimos dias fizeram declarações agressivas, acusando a Academia de reagir exageradamente às acusações e criticando Danius pela fraca liderança.
Para complicar as coisas, não existe mecanismo formal para que os membros da Academia, que tem 18 integrantes, renunciem. Eles são eleitos para mandatos vitalícios e, se optarem por deixar de participar, seus assentos ficam vagos até sua morte.
Antes mesmo do escândalo, jáhaviadoisassentosvagospor membros inativos. Com os cinco afastamentos recentes, a Academia terá 11 membros ativos —um a menos que o quórum para eleger membros quando cadeiras vagam.
O rei sueco Carlos Gustavo 16 sinalizou que poderia resolver o problema recorrendo à sua autoridade para alterar as regras da academia, e assim permitir que membros renunciem e sejam substituídos.
Ebba Witt-Brattström, professora de literatura nórdica na Universidade de Helsinque, disse em que a derrubada de Danius se deve ao reacionarismo dos homens.
“O que eles fizeram foi orquestrar uma revolução palaciana, um golpe para se livrar dela, porque ela era muito teimosa”, disse Witt-Braström.
Svetlana Aleksiévitch, que recebeu o Nobel de Literatura em 2015, disse ao jornal Svenska Dagbladet que “aqueles que violaram as regras deveriam ser investigados”. Ela disse ter aprendido com Dostoiévski que “os seres humanos são criaturas indignas de confiança, e por isso leis e regras são necessárias para garantir que isso não se repita”. PAULO MIGLIACCI
Formados por uma base de concreto e uma chapa de vidro transparente, os cavaletes desenhados pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1912) junto ao Masp na avenida Paulista, tornaramse ícones do projeto da instituição, inaugurada em 1968.
Retiradas do espaço expositivo em 1996, as peças voltaram ao museu em 2015 —e agora, prestes a completar 50 anos, podem ganhar espaço também em coleções particulares.
Para celebrar a efeméride, o Masp, em parceria com o Instituto Bardi, produziu e pôs à venda uma edição limitada de cem cavaletes de cristal. As peças foram adaptadas pelo escritório Metro Arquiteto Associados conforme o projeto original de Lina. É a primeira vez que o museu faz algo do tipo.
“A ideia surgiu do desejo de oferecer à sociedade um dos objetos mais simbólicos do museu com os quais as pessoas sempre nos disseram ter uma relação afetiva”, explica Lucas Pessôa, diretor de operações do Masp.
O lançamento dos produtos ocorreu na última quarta-feira (11), na abertura da SP-Arte. Até o fechamento desta edição, foram vendidas 22 obras, cada uma no valor de R$ 10 mil.
A renda arrecadada pela venda dos dispositivos será revertida para as atividades e projetos do Masp. Uma porcentagem será direcionada ao Instituto Bardi.
As peças podem ser adquiridas até este domingo (15) na SP-Arte —as remanescentes irão para a loja do museu. Não há previsão de lançamento de novas peças. QUANDO sáb. (14), das 13h às 21h, dom. (15), das 11h às 19h ONDE pavilhão da Bienal (parque Ibirapuera, av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, portão 3) QUANTO R$ 45 para um dia ou R$ 80 para dois