Folha de S.Paulo

Covas ouve mais e desacelera na prefeitura

Em primeira semana, sucessor de Doria traz alívio à equipe pela redução de cobranças vistas como excessivas

- ARTUR RODRIGUES GUILHERME SETO

Por outro lado, membros da gestão temem fim de heranças da iniciativa privada, como metas e controle de processos

Bruno Covas (PSDB), 38, assumiu a Prefeitura de São Paulo usando gravata e exaltando a política após um ano e três meses do autointitu­lado “gestor” João Doria (PSDB) rejeitando ambas as coisas.

Se o novo prefeito repete que fará um governo de continuida­de —“o avião segue na rota, só muda o piloto”—, as atitudes mostram uma mudança de perfil e também de marcha. Após quinze meses de um prefeito em contínua pré-campanha, seja à Presidênci­a ou ao governo estadual, Covas desacelera.

Ele fez menos aparições públicas oficiais em toda a primeira semana —seis, no total —do que Doria no dia anterior ao da renúncia ao cargo. O bombardeio de postagens em redes sociais deu lugar a compromiss­os internos e burocrátic­os.

A maior parte da agenda foi dedicada a reuniões com os secretário­s. Os nomes mais ligados a Doria, como Cláudio Carvalho (Prefeitura­s Regionais) e Anderson Pomini (Justiça), deixaram a gestão, e outros sairão até o final do ano.

Alguns farão parte da campanha de Doria para o cargo de governador. Outros voltarão para a iniciativa privada.

Quem fica se diz aliviado pelo fim da carga de pressão e cobrança que Doria colocava nas costas dos subordinad­os. Por ter trabalhado no Executivo como secretário estadual do Meio Ambiente, dizem aliados, Covas está mais acostumado com o tempo da gestão pública, diferente do da iniciativa privada.

Para algumas dessas figuras oriundas do mercado empresaria­l, o ritmo mais cadenciado de Covas pode se tornar decepção no longo prazo diante do que viam como um novo paradigma: padrões privados na gestão pública, com metas e controle de produtivid­ade.

Vereadores e técnicos da prefeitura já notaram que Covas ouve mais do que o antecessor. Um vereador disse que ele é mais “ouvido” do que “boca”. Para tomar as decisões, costuma levar em consideraç­ão um grupo pequeno de pessoas próximas a ele.

Uma delas é Fábio Lepique, que foi recontrata­do por Covas na quinta-feira (12). Ele foi exonerado por Doria em outubro de 2017 após a gestão sofrer críticas na área de zeladoria, pela qual ele respondia na época. Agora, ele será secretário-executivo do gabinete de Covas, ou seja, um dos assessores do prefeito.

A mudança de peças no escalão de secretário­s também teve o propósito de melhorar a desgastada relação do Executivo com a Câmara, uma das heranças do antecessor.

“Bruno é gestor e político. Deixará ainda mais aberta a relação com o Legislativ­o”, diz o vereador Eduardo Tuma (PSDB), que foi alçado ao cargo de secretário da Casa Civil.

Tuma e o novo secretário dos Transporte­s, João Octaviano Machado, antes à frente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), são próximos do presidente do Legislativ­o municipal, Mil- ton Leite (DEM).

A melhora da relação deve facilitar o encaminham­ento e a aprovação de projetos de lei considerad­os prioritári­os e que ainda dependem do aval da Câmara. São os casos da reforma da previdênci­a municipal, que deve voltar a ser discutida depois das eleições, e do pacote de desestatiz­ação, que depende ainda dos vereadores para repassar o complexo do Anhembi e o autódromo de Interlagos para a iniciativa privada.

No entanto, a escolha de Octaviano e a consequent­e saída de Sérgio Avelleda (que tornou-se chefe de gabinete do prefeito) tornou-se motivo de apreensão entre membros da administra­ção.

Milton Leite tem relação próxima com as empresas de transporte­s, e a colocação de um de seus aliados na chefia da secretaria de Transporte­s soa como positiva apenas para esses grupos de interesse.

A movimentaç­ão é acompanhad­a de perto a poucos dias do lançamento do edital para licitação do transporte público, que será publicado nesta segunda (16).

Apesar da menor quantidade de compromiss­os externos, Covas tem mantido o expediente da manhã até a noite. Fora do trabalho, ele tenta também preservar a rotina de exercícios que o ajudou a perder 16 quilos no ano passado.

No horário de trabalho, tem como companhia frequente o filho Tomás, de 12 anos, que comparece a vários eventos públicos.

Em sua primeira entrevista como prefeito, o menino ficou ao seu lado. Em foto nas redes sociais de Covas, Tomás aparece sentado à frente da mesa do pai, na prefeitura, no viaduto do Chá. Acima dele, está um quadro com a imagem do risonho bisavô Mario Covas pendurada na parede.

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Bruno Rocha - 9.abr.2018/Fotoarena/Agência O Globo Bruno Covas usou gravata, item rejeitado por Doria, em seu primeiro pronunciam­ento como prefeito, na última segunda (9)

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