Covas ouve mais e desacelera na prefeitura
Em primeira semana, sucessor de Doria traz alívio à equipe pela redução de cobranças vistas como excessivas
Por outro lado, membros da gestão temem fim de heranças da iniciativa privada, como metas e controle de processos
Bruno Covas (PSDB), 38, assumiu a Prefeitura de São Paulo usando gravata e exaltando a política após um ano e três meses do autointitulado “gestor” João Doria (PSDB) rejeitando ambas as coisas.
Se o novo prefeito repete que fará um governo de continuidade —“o avião segue na rota, só muda o piloto”—, as atitudes mostram uma mudança de perfil e também de marcha. Após quinze meses de um prefeito em contínua pré-campanha, seja à Presidência ou ao governo estadual, Covas desacelera.
Ele fez menos aparições públicas oficiais em toda a primeira semana —seis, no total —do que Doria no dia anterior ao da renúncia ao cargo. O bombardeio de postagens em redes sociais deu lugar a compromissos internos e burocráticos.
A maior parte da agenda foi dedicada a reuniões com os secretários. Os nomes mais ligados a Doria, como Cláudio Carvalho (Prefeituras Regionais) e Anderson Pomini (Justiça), deixaram a gestão, e outros sairão até o final do ano.
Alguns farão parte da campanha de Doria para o cargo de governador. Outros voltarão para a iniciativa privada.
Quem fica se diz aliviado pelo fim da carga de pressão e cobrança que Doria colocava nas costas dos subordinados. Por ter trabalhado no Executivo como secretário estadual do Meio Ambiente, dizem aliados, Covas está mais acostumado com o tempo da gestão pública, diferente do da iniciativa privada.
Para algumas dessas figuras oriundas do mercado empresarial, o ritmo mais cadenciado de Covas pode se tornar decepção no longo prazo diante do que viam como um novo paradigma: padrões privados na gestão pública, com metas e controle de produtividade.
Vereadores e técnicos da prefeitura já notaram que Covas ouve mais do que o antecessor. Um vereador disse que ele é mais “ouvido” do que “boca”. Para tomar as decisões, costuma levar em consideração um grupo pequeno de pessoas próximas a ele.
Uma delas é Fábio Lepique, que foi recontratado por Covas na quinta-feira (12). Ele foi exonerado por Doria em outubro de 2017 após a gestão sofrer críticas na área de zeladoria, pela qual ele respondia na época. Agora, ele será secretário-executivo do gabinete de Covas, ou seja, um dos assessores do prefeito.
A mudança de peças no escalão de secretários também teve o propósito de melhorar a desgastada relação do Executivo com a Câmara, uma das heranças do antecessor.
“Bruno é gestor e político. Deixará ainda mais aberta a relação com o Legislativo”, diz o vereador Eduardo Tuma (PSDB), que foi alçado ao cargo de secretário da Casa Civil.
Tuma e o novo secretário dos Transportes, João Octaviano Machado, antes à frente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), são próximos do presidente do Legislativo municipal, Mil- ton Leite (DEM).
A melhora da relação deve facilitar o encaminhamento e a aprovação de projetos de lei considerados prioritários e que ainda dependem do aval da Câmara. São os casos da reforma da previdência municipal, que deve voltar a ser discutida depois das eleições, e do pacote de desestatização, que depende ainda dos vereadores para repassar o complexo do Anhembi e o autódromo de Interlagos para a iniciativa privada.
No entanto, a escolha de Octaviano e a consequente saída de Sérgio Avelleda (que tornou-se chefe de gabinete do prefeito) tornou-se motivo de apreensão entre membros da administração.
Milton Leite tem relação próxima com as empresas de transportes, e a colocação de um de seus aliados na chefia da secretaria de Transportes soa como positiva apenas para esses grupos de interesse.
A movimentação é acompanhada de perto a poucos dias do lançamento do edital para licitação do transporte público, que será publicado nesta segunda (16).
Apesar da menor quantidade de compromissos externos, Covas tem mantido o expediente da manhã até a noite. Fora do trabalho, ele tenta também preservar a rotina de exercícios que o ajudou a perder 16 quilos no ano passado.
No horário de trabalho, tem como companhia frequente o filho Tomás, de 12 anos, que comparece a vários eventos públicos.
Em sua primeira entrevista como prefeito, o menino ficou ao seu lado. Em foto nas redes sociais de Covas, Tomás aparece sentado à frente da mesa do pai, na prefeitura, no viaduto do Chá. Acima dele, está um quadro com a imagem do risonho bisavô Mario Covas pendurada na parede.