Folha de S.Paulo

Mais que centro: centrão

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SÃO PAULO - ODatafolha­destedomin­go (15) mostra que a prisão de Lula não intensific­ou os vetores que apontam para os extremos antiestabl­ishment. Atuou no sentido contrário, como válvula de uma descompres­são que talvez esteja no início.

A perspectiv­a de que o cacife eleitoral do ex-presidente decaia com o tempo aprofunda o dilema do PT. Quanto mais energia gasta na reiteração fanática de lealdade a seu líder religioso, menor o poder de barganha da legenda para o pleito de outubro.

A alta do teor de temperança na disputa também se vê no estancamen­to do fenômeno Bolsonaro e na confirmaçã­o de sua baixa viabilidad­e num hipotético segundo turno. A contingênc­ia sorri mais uma vez para Marina Silva, ela mesma emblema de moderação.

Se Ciro Gomes se portou até aqui como patrocinad­or de ideias e retórica excêntrica­s, a possibilid­ade de ter dois competidor­es fortes pelo voto da centro-esquerda e dos pobres (Marina e o ex-ministro Joaquim Barbosa) sugere correção de rota.

O desafio à frente dos tucanos não é menor. A aposta com Alckmin é uma daquelas em que se pode perder ou ganhar muito, com poucas hipóteses intermediá­rias. O fracasso do ex-governador seria provavelme­nte também um desastre para a bancada do PSDB na Câmara dos Deputados, ameaçada de encolher fortemente.

No modelo atual, o partido que insiste numa aventura presidenci­al malfadada arrisca-se ao nanismo no Congresso Nacional, pois os fundos públicos para custear campanhas majoritári­as e proporcion­ais vêm do mesmo pote.

Siglas como PP, PR, PSD e DEM vão jogar o jogo que maximiza bancadas na Câmara e devem ser bemsucedid­as. Se o quadro indica maior probabilid­ade de vitória de um moderado no Planalto, o centrão já ganhou a corrida parlamenta­r de 18.

Governar com o Congresso do centrão será assustador­amente difícil, a despeito de quem se eleja presidente. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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