Sua excelência, o fato
Fui ingênuo, cometi erros e me penitencio diariamente por eles. Mas não cometi nenhuma ilegalidade. Por isso, não esmoreço
A narrativa que se impõe como um tsunami no país tende a considerar, de antemão, todos os políticos culpados.
Fragmentos de imagens e manchetes repetidos à exaustão definem percepções. Vivemos o tempo da opinião muitas vezes desvinculada da informação.
Sou alvo de denúncia em função da delação da JBS. Aos que não conhecem o seu conteúdo, ofereço este esclarecimento. Ofereço mais, ofereço os fatos.
No início de 2017, precisei contratar advogados. Era uma despesa inesperada e eu não possuía recursos pessoais para enfrentá-la. Minha mãe colocou então à venda o apartamento em que reside há mais de 35 anos no Rio de Janeiro.
Minha irmã, Andrea, ofereceu o imóvel a alguns empresários, inclusive ao senhor Joesley Batista. Ela teve com ele, em toda a sua vida, um único encontro, a meu pedido, motivado por esse assunto familiar que nada teve a ver com política.
Mais tarde, de passagem pelo Rio, ela lhe telefonou, convidando-o para conhecer o imóvel. Ele preferiu não ir e pediu um encontro comigo.
Felizmente, esse telefonema, omitido pelo delator, foi recuperado pela Polícia Federal. Ele mostra, de forma inequívoca, o objetivo do contato feito: a venda do imóvel. Apesar da relevância, essa informação não foi mencionada na denúncia.
Recebi, de boa-fé, o delator no hotel em que estava e, numa conversa criminosamente gravada e induzida por ele, permiti-me usar um vocabulário inadequado e fazer brincadeiras injustificáveis e de enorme mau gosto, das quais me arrependo profundamente. Lamento, especialmente, o que esse episódio acarretou para outras pessoas.
Meu primo, Frederico, é uma pessoa absolutamente correta, íntegra e não tem nenhuma responsabilidade pelos fatos ocorridos. Limitouse a me fazer um favor ao receber um empréstimo pessoal, a mim dirigido, que não tinha nenhuma vinculação com o cargo que ocupo. Reitero a ele e ao seu amigo Menderson, que o acompanhou, o meu pedido público de desculpas pelas consequências que eles e suas famílias vêm sofrendo.
Minha irmã, reconhecida até mesmo pelos meus adversários por sua seriedade e correção, foi injusta e covardemente exposta apenas por ter contatado o delator com a intenção de vender um imóvel.
Na gravação de que fui alvo, o delator atesta a origem lícita e particular dos recursos e deixa claro — também em depoimento— que partiu dele a decisão de que o empréstimo teria que ser feito em espécie, o que não é ilegal, uma vez constatada a licitude dos recursos.
Errei em aceitá-lo. Mas não cometi nenhum crime. Não houve nenhum prejuízo aos cofres públicos. Ninguém foi lesado.
Hoje, é fácil reconhecer que o objetivo dessa exigência era gerar as imagens para o seu extraordinário acordo de delação. Os recursos ficaram guardados, esperando serem formalizados, para que eu pudesse pagar honorários de advogados. Como isso não ocorreu, não foram usados e foram entregues à Justiça. Mas vamos às acusações. Sou acusado de corrupção passiva, crime que pressupõe que um agente público receba vantagem indevida em troca de contrapartida.
Não houve vantagem indevida, e a própria Procuradoria-Geral da República indicou que não houve nenhuma contrapartida no caso.
Na gravação, poucos se recordam de que rechacei prontamente a sugestão, feita por ele , para que apoiasse um nome para a presidência da Vale. A menção a diretorias da empresa se deu como forma de encerrar o assunto introduzido, premeditadamente, por ele. Prova de que essa questão nem sequer foi considerada é que absolutamente nenhuma iniciativa foi tomada nesse sentido.
Na minha vida pública, não existe um ato sequer em favor da JBS, o que foi confirmado pelos delatores.
Como falar em corrupção onde não existe dinheiro público ou contrapartida?
A segunda acusação, de tentativa de obstrução, é também desprovida de fundamento.
Basta dizer que o precedente citado em longas 15 páginas para justificar a denúncia contra mim foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido da própria PGR. Ou seja, pelos critérios da própria instituição eu não deveria nem sequer estar sendo denunciado.
Acusam-me por votos que dei no Senado e por opiniões que externei em conversa particular, sem que tivessem nenhum desdobramento fático. Tenta-se, com isso, criminalizar opiniões e votos de congressistas cujas imunidades são garantidas pela Constituição. De forma seletiva, a denúncia ignora, por exemplo, que cheguei a apresentar emenda alterando o projeto original da Lei de Abuso de Autoridade, defendendo, justamente, o ponto de vista do Ministério Público Federal!
É, portanto, com o sentimento de grande impotência que vejo as versões devorarem os fatos.
O que me define são os meus 32 anos de vida pública honrada e não os poucos minutos de uma armadilha montada por criminosos.
Fui ingênuo, cometi erros e me penitencio diariamente por eles. Mas não cometi nenhuma ilegalidade.
Por isso, não esmoreço. Em nome da minha história, da minha família e de todos aqueles que confiaram a mim a esperança de uma Minas Gerais e de um Brasil melhor, sigo em frente, porque sei que a verdade vai prevalecer.
Apesar do tsunami. AÉCIO NEVES
“Mesmo preso, Lula mantém dianteira e seria eleito presidente”. Essa deveria ser a manchete da Folha neste domingo. Na pesquisa, o ex-presidente tem o dobro das intenções de votos dos segundos colocados e ganharia no segundo turno em qualquer cenário.
FELIPE DE MOURA LIMA
Bruno Boghossian traz a opção Joaquim Barbosa, com o aposto “juiz do mensalão”, como uma possibilidade para a corrida à Presidência da República (“Congestionamento”, Opinião, 15/4). Mesmo que ele tivesse todo o “notório saber jurídico” (que não tem), existem razões de ordem médica que justificaram suas expressivas faltas às sessões do Supremo Tribunal Federal e o mantiveram em pé durante os julgamentos que contaram com a sua sempre irada, ressentida presença. Deve-se, portanto, pensar num bom vice.
ANDREA METNE ARNAUT
Engana-se o colunista André Singer quando diz em sua coluna publicada na Folha (“E agora?”, Opinião, 14/4) que a inexistência de um candidato viável de esquerda significa que a democracia está anulada. Demonstra apenas a incapacidade de articulação de uma esquerda que colocou todas as suas fichas num político condenado por corrupção e agora não tem mais opções viáveis. Colocar a culpa na democracia (ou na falta dela) só demonstra o quanto a esquerda brasileira carece de autocrítica.
LUIZ DANIEL DE CAMPOS
SERVIÇOS DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: OMBUDSMAN:
MARIZA BACCI ZAGO
Washington Olivetto Faltou a Mario Sergio Conti (“No umbigo da Washingtonlatria”, Ilustrada, 14/4) dizer que Olivetto talvez conheça publicidade, não cinema. No seu livro “Direto de Washington”, ele erra feio. Não foi Cary Grant, em 1940, que sugeriu ao diretor que era melhor tirar a camisa e a camiseta e aparecer de peito nu para excitar as mulheres. Foi Clark Gable no filme “Aconteceu Naquela Noite” (“It Happened That Night”), de Frank Capra, em 1934. O filme ganhou cinco Oscar e ficou na história. Por causa do Clark Gable seminu, desafiando a legião da decência.
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO,
Conti, o que você já fez pelo Brasil em termos de premiação e visibilidade internacional? Por favor, tenha mais respeito quando se referir a Olivetto, a maior glória da publicidade brasileira.
RICARDO NASSIF HUSSNI
Pertinente e —como sempre muito bem escrito— o texto de Conti. Com uma ressalva: falar mal de outrem não pega bem. No privado tanto quanto no público.
ADANOR QUADROS
Terapias alternativas O cardiologista Henrique Batista e Silva cita a hipnoterapia como técnica com efeito placebo (“Efeito placebo nos postos de saúde, Tendências / Debates”, 14/4). Ele ignora o processo-consulta no qual o Conselho Federal de Medicina deu parecer favorável à hipnose médica, recomendando que seja considerada prática médica auxiliar ao diagnóstico e à terapêutica, sendo adotado o termo genérico hipniatria. Isso foi em 20 de agosto de 1999. Se ele desconhece a hipnose, oficializada há 18 anos, quanto conhecerá de outras práticas citadas para ter credibilidade no assunto?
ROBERTO DOGLIA AZAMBUJA