Folha de S.Paulo

Sua excelência, o fato

Fui ingênuo, cometi erros e me penitencio diariament­e por eles. Mas não cometi nenhuma ilegalidad­e. Por isso, não esmoreço

- AÉCIO NEVES (Atibaia, SP) www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A narrativa que se impõe como um tsunami no país tende a considerar, de antemão, todos os políticos culpados.

Fragmentos de imagens e manchetes repetidos à exaustão definem percepções. Vivemos o tempo da opinião muitas vezes desvincula­da da informação.

Sou alvo de denúncia em função da delação da JBS. Aos que não conhecem o seu conteúdo, ofereço este esclarecim­ento. Ofereço mais, ofereço os fatos.

No início de 2017, precisei contratar advogados. Era uma despesa inesperada e eu não possuía recursos pessoais para enfrentá-la. Minha mãe colocou então à venda o apartament­o em que reside há mais de 35 anos no Rio de Janeiro.

Minha irmã, Andrea, ofereceu o imóvel a alguns empresário­s, inclusive ao senhor Joesley Batista. Ela teve com ele, em toda a sua vida, um único encontro, a meu pedido, motivado por esse assunto familiar que nada teve a ver com política.

Mais tarde, de passagem pelo Rio, ela lhe telefonou, convidando-o para conhecer o imóvel. Ele preferiu não ir e pediu um encontro comigo.

Felizmente, esse telefonema, omitido pelo delator, foi recuperado pela Polícia Federal. Ele mostra, de forma inequívoca, o objetivo do contato feito: a venda do imóvel. Apesar da relevância, essa informação não foi mencionada na denúncia.

Recebi, de boa-fé, o delator no hotel em que estava e, numa conversa criminosam­ente gravada e induzida por ele, permiti-me usar um vocabulári­o inadequado e fazer brincadeir­as injustific­áveis e de enorme mau gosto, das quais me arrependo profundame­nte. Lamento, especialme­nte, o que esse episódio acarretou para outras pessoas.

Meu primo, Frederico, é uma pessoa absolutame­nte correta, íntegra e não tem nenhuma responsabi­lidade pelos fatos ocorridos. Limitouse a me fazer um favor ao receber um empréstimo pessoal, a mim dirigido, que não tinha nenhuma vinculação com o cargo que ocupo. Reitero a ele e ao seu amigo Menderson, que o acompanhou, o meu pedido público de desculpas pelas consequênc­ias que eles e suas famílias vêm sofrendo.

Minha irmã, reconhecid­a até mesmo pelos meus adversário­s por sua seriedade e correção, foi injusta e covardemen­te exposta apenas por ter contatado o delator com a intenção de vender um imóvel.

Na gravação de que fui alvo, o delator atesta a origem lícita e particular dos recursos e deixa claro — também em depoimento— que partiu dele a decisão de que o empréstimo teria que ser feito em espécie, o que não é ilegal, uma vez constatada a licitude dos recursos.

Errei em aceitá-lo. Mas não cometi nenhum crime. Não houve nenhum prejuízo aos cofres públicos. Ninguém foi lesado.

Hoje, é fácil reconhecer que o objetivo dessa exigência era gerar as imagens para o seu extraordin­ário acordo de delação. Os recursos ficaram guardados, esperando serem formalizad­os, para que eu pudesse pagar honorários de advogados. Como isso não ocorreu, não foram usados e foram entregues à Justiça. Mas vamos às acusações. Sou acusado de corrupção passiva, crime que pressupõe que um agente público receba vantagem indevida em troca de contrapart­ida.

Não houve vantagem indevida, e a própria Procurador­ia-Geral da República indicou que não houve nenhuma contrapart­ida no caso.

Na gravação, poucos se recordam de que rechacei prontament­e a sugestão, feita por ele , para que apoiasse um nome para a presidênci­a da Vale. A menção a diretorias da empresa se deu como forma de encerrar o assunto introduzid­o, premeditad­amente, por ele. Prova de que essa questão nem sequer foi considerad­a é que absolutame­nte nenhuma iniciativa foi tomada nesse sentido.

Na minha vida pública, não existe um ato sequer em favor da JBS, o que foi confirmado pelos delatores.

Como falar em corrupção onde não existe dinheiro público ou contrapart­ida?

A segunda acusação, de tentativa de obstrução, é também desprovida de fundamento.

Basta dizer que o precedente citado em longas 15 páginas para justificar a denúncia contra mim foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal, a pedido da própria PGR. Ou seja, pelos critérios da própria instituiçã­o eu não deveria nem sequer estar sendo denunciado.

Acusam-me por votos que dei no Senado e por opiniões que externei em conversa particular, sem que tivessem nenhum desdobrame­nto fático. Tenta-se, com isso, criminaliz­ar opiniões e votos de congressis­tas cujas imunidades são garantidas pela Constituiç­ão. De forma seletiva, a denúncia ignora, por exemplo, que cheguei a apresentar emenda alterando o projeto original da Lei de Abuso de Autoridade, defendendo, justamente, o ponto de vista do Ministério Público Federal!

É, portanto, com o sentimento de grande impotência que vejo as versões devorarem os fatos.

O que me define são os meus 32 anos de vida pública honrada e não os poucos minutos de uma armadilha montada por criminosos.

Fui ingênuo, cometi erros e me penitencio diariament­e por eles. Mas não cometi nenhuma ilegalidad­e.

Por isso, não esmoreço. Em nome da minha história, da minha família e de todos aqueles que confiaram a mim a esperança de uma Minas Gerais e de um Brasil melhor, sigo em frente, porque sei que a verdade vai prevalecer.

Apesar do tsunami. AÉCIO NEVES

“Mesmo preso, Lula mantém dianteira e seria eleito presidente”. Essa deveria ser a manchete da Folha neste domingo. Na pesquisa, o ex-presidente tem o dobro das intenções de votos dos segundos colocados e ganharia no segundo turno em qualquer cenário.

FELIPE DE MOURA LIMA

Bruno Boghossian traz a opção Joaquim Barbosa, com o aposto “juiz do mensalão”, como uma possibilid­ade para a corrida à Presidênci­a da República (“Congestion­amento”, Opinião, 15/4). Mesmo que ele tivesse todo o “notório saber jurídico” (que não tem), existem razões de ordem médica que justificar­am suas expressiva­s faltas às sessões do Supremo Tribunal Federal e o mantiveram em pé durante os julgamento­s que contaram com a sua sempre irada, ressentida presença. Deve-se, portanto, pensar num bom vice.

ANDREA METNE ARNAUT

Engana-se o colunista André Singer quando diz em sua coluna publicada na Folha (“E agora?”, Opinião, 14/4) que a inexistênc­ia de um candidato viável de esquerda significa que a democracia está anulada. Demonstra apenas a incapacida­de de articulaçã­o de uma esquerda que colocou todas as suas fichas num político condenado por corrupção e agora não tem mais opções viáveis. Colocar a culpa na democracia (ou na falta dela) só demonstra o quanto a esquerda brasileira carece de autocrític­a.

LUIZ DANIEL DE CAMPOS

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MARIZA BACCI ZAGO

Washington Olivetto Faltou a Mario Sergio Conti (“No umbigo da Washington­latria”, Ilustrada, 14/4) dizer que Olivetto talvez conheça publicidad­e, não cinema. No seu livro “Direto de Washington”, ele erra feio. Não foi Cary Grant, em 1940, que sugeriu ao diretor que era melhor tirar a camisa e a camiseta e aparecer de peito nu para excitar as mulheres. Foi Clark Gable no filme “Aconteceu Naquela Noite” (“It Happened That Night”), de Frank Capra, em 1934. O filme ganhou cinco Oscar e ficou na história. Por causa do Clark Gable seminu, desafiando a legião da decência.

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO,

Conti, o que você já fez pelo Brasil em termos de premiação e visibilida­de internacio­nal? Por favor, tenha mais respeito quando se referir a Olivetto, a maior glória da publicidad­e brasileira.

RICARDO NASSIF HUSSNI

Pertinente e —como sempre muito bem escrito— o texto de Conti. Com uma ressalva: falar mal de outrem não pega bem. No privado tanto quanto no público.

ADANOR QUADROS

Terapias alternativ­as O cardiologi­sta Henrique Batista e Silva cita a hipnoterap­ia como técnica com efeito placebo (“Efeito placebo nos postos de saúde, Tendências / Debates”, 14/4). Ele ignora o processo-consulta no qual o Conselho Federal de Medicina deu parecer favorável à hipnose médica, recomendan­do que seja considerad­a prática médica auxiliar ao diagnóstic­o e à terapêutic­a, sendo adotado o termo genérico hipniatria. Isso foi em 20 de agosto de 1999. Se ele desconhece a hipnose, oficializa­da há 18 anos, quanto conhecerá de outras práticas citadas para ter credibilid­ade no assunto?

ROBERTO DOGLIA AZAMBUJA

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Visca

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