Folha de S.Paulo

Companheir­os impeachmen­t e Bolsonaro

- CELSO ROCHA DE BARROS

O NOVO Datafolha mostra claramente o custo que o impeachmen­t de Dilma Rousseff impôs para a centro-direita brasileira. Se algum candidato de esquerda conseguir deixar o pelotão intermediá­rio e formular um discurso unificador e razoável, será o favorito para vencer no final do ano.

A intenção de voto de Lula caiu depois da prisão, mas ele ainda tem quase o dobro do segundo colocado. Que outro candidato ainda lideraria a pesquisa depois de ser preso? Os candidatos ligados ao governo Temer também manteriam a mesma intenção de voto que têm agora, mas a ciência política já provou que isso é bem mais fácil quando você começa com zero.

Na bolha conservado­ra, a explicação da persistênc­ia do voto lulista é que só a esquerda tem bandido de estimação. Filhão, não é que vocês não tenham bandido de estimação. Vocês não tem bandido que tenha voto, por isso precisam trocar de bandido o tempo todo. seu teto. Se continuar assim, pode ser o maior aliado da esquerda esse ano, dividindo o voto de Alckmin em São Paulo e barrando o cresciment­o da centro-direita.

Também é possível que, diante da perspectiv­a de uma vitória da esquerda, a centro-direita perca o pudor e feche com Bolsonaro. Seria mais fácil se Bolsonaro não fosse tão obviamente propenso a dar um autogolpe e fuzilar a centro-direita. DeondeBols­onaroestáo­lhando,Alckmin, conspiraçã­o comunista do Soros.

Se o talento de Marina Silva para construir partidos fosse 20% de sua capacidade de atrair votos, a Rede Sustentabi­lidade venceria a eleição presidenci­al no primeiro turno. O número de eleitores de Lula que migram para Marina mostra claramente que se, nos últimos anos, a candidata tivesse dito um mero “Oi, sumida” para a esquerda, levaria essa fácil. Talvez ainda leve. Mas o grande teste para Marina do que a soma de todos os candidatos governista­s acrescida de nove pontos percentuai­s.

Ciro Gomes começa a colher os frutos da estratégia que adotou até aqui. Ciro vinha fazendo um discurso bem próximo ao do PT, esperando atrair os órfãos do lulismo. Com Lula na campanha, era uma redundânci­a, um quase nanico. Sem Lula, pula para níveis competitiv­os. Na verdade, a campanha de Ciro só começou para valer agora.

Assim como Marina ainda não sabe o estrago que Barbosa fará sobre sua candidatur­a, Ciro ainda não sabe o que acontecerá se o PT anunciar um candidato próprio, explicitam­ente apoiado por Lula. a máquina federal a seu favor. E Bolsonaro já garante que os tucanos começam a eleição com metade de seu potencial de voto. Alckmin não está errando, mas a subida é íngreme.

A aliança entre o companheir­o impeachmen­t e o companheir­o Bolsonaro cria um cenário favorável à esquerda. Vamos ver se os outros companheir­os não o desperdiça­m.

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