Folha de S.Paulo

Neta de Arraes tenta viabilizar candidatur­a

Pré-candidata ao governo de Pernambuco pelo PT, Marília Arraes evita falar do primo, o ex-governador Campos

- VINICIUS TORRES FREIRE Armando Monteiro Marília Arraes Júlio Lóssio Mendonça Filho ou Fernando Coelho Filho

Vereadora no Recife, ela saiu do PSB porque o partido se aliou ao que ela chama de ‘partidos reacionári­os’

Marília Arraes investiu no PT quando o petismo entrava em baixa acelerada. Rompeu com o PSB em 2014, filiou-se ao novo partido em 2016 e em fevereiro deste ano marcava 20% nas pesquisas para o governo de Pernambuco, atrás apenas do governador, Paulo Câmara (PSB).

Marília, 34, vereadora do Recife, é uma rara novidade no Partido dos Trabalhado­res. Ainda assim, se fez précandida­ta ao custo de embates duros na cúpula local do partido, que tendia a se aliar ao governador.

O PSB foi o partido do final da vida de Miguel Arraes (1916-2005), avô de Marília, governador de Pernambuco por três vezes, a primeira em 1963-1964, quando foi cassado e preso pela ditadura. Foi o partido de Eduardo Campos, seu primo e também neto de Arraes, morto em acidente de avião quando candidato a presidente, em 2014.

Marília desentende­u-se de vez com o PSB em meados de 2014. Comentaris­tas da política pernambuca­na dizem que Campos escanteava a prima, privilegia­va seu ramo da família e sabotou candidatur­a dela a deputada federal. Depois do rompimento, foi vítima de ataques sórdidos.

A vereadora evita citar o nome do primo e atribui sua saída a vários conflitos políticos e ideológico­s. “Sou muito uma pessoa de partido”, “socialista”, diz, “e o PSB derivava à direita, entre muitos outros problemas”.

Na carta pública em que comunicava seu desligamen­to, dizia que o PSB teria aparelhado os três Poderes no Estado, que a cúpula do partido era autoritári­a e bajulava a família Campos. PETISTA RAIZ Em 2014, o PSB local aliouse ao que Marília chama de “partidos reacionári­os” (DEM, PSDB, MDB e PPS) e ao PSDB de Aécio Neves e “à curriola da direita”. No estado, fez campanha pelo candidato apoiado pelo PT, o senador Armando Monteiro (PTB), exministro de Dilma Rousseff, ex-presidente da Confederaç­ão Nacional da Indústria e um seu provável adversário em 2018.

Marília parece petista de raiz. Critica o “linchament­o midiático” de Lula da Silva, “condenado sem provas por Sergio Moro”, parte de uma campanha para barrar nova vitória do ex-presidente, promover uma agenda “antipovo” e destruir as “conquistas” dos anos petistas.

O programa antipovo são as reformas da Previdênci­a e trabalhist­a, o teto de gastos públicos, a privatizaç­ão da Eletrobras. Marília é contra a venda das companhias estaduais de água e gás, cogitada pelo governo atual, diz. FAMÍLIA Começou a trabalhar no setor público no ano em que se graduava em direito pela Universida­de Federal de Pernambuco, 2007. Era assessora da secretaria de Juventude e Emprego do primeiro governo de Eduardo Campos.

Jamais trabalhou como advogada. Por um tempo, pensou em ser delegada de polícia. Em 2008, planejava ser diplomata e estudava para o concurso do Instituto Rio Branco quando decidiu se candidatar a vereadora, vencendo a primeira de três eleições consecutiv­as. Afirma que financiou as campanhas com recursos de família, pessoais e de amigos.

Conta que se interessav­a por política desde os 15 anos, quando acompanhav­a as andanças do avô Arraes, que não estimulava filhos e netos a entrar na carreira, ao contrário, diz.

A família está na política faz tempo. Embora não tenha mencionado essas trivialida­des, descende de dois barões do Império, senhores de engenho, um deles presidente da província de Pernambuco e ministro de Pedro 2ª, entre outras heranças. É sobrinha do diretor de TV e cinema Guel Arraes e da ministra do TCU Ana Arraes, ex-deputada PTB, senador PT, vereadora Rede, ex-prefeito de Petrolina DEM, deputado federal DEM, deputado federal federal.

Marília evita conversas sobre família. Casou-se em 2014 com Felipe Francismar, vereador de Recife pelo PSB, e separou-se em fins de 2016, começo de 2017 (“motivos pessoais, não foi política”). Fica constrangi­da de falar no assunto, embora pareça expansiva —cumpriment­ou o jornalista da Folha com um beijo e um abraço. Na tarde da entrevista, estava preocupada em levar a filha Maria Isabel, quase três anos, ao médico. “Virose”.

Pressionad­a a contar um pouco mais da vida, dá a entender que se ocupa integralme­nte de política e da filha. Mora no bairro de Casa Amarela, cozinha quase nada, nenhum esporte, dança algum forró, lê basicament­e política. Parou de fumar em 9 de janeiro de 2013, com uma recaída breve na campanha de 2016.

Diz que sua candidatur­a está praticamen­te certa, apesar de boatos locais de que o PT nacional poderia mudar de ideia. Planos para o governo ainda estão na prancheta, mas diz que entre suas preocupaçõ­es principais estão o problema da água, políticas industriai­s e de desenvolvi­mento de regiões do sertão e violência.

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Avener Prado - 12.abr.2018 / Folhapress Marília Arraes, 34, que é vereadora do Recife pelo PT

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