Folha de S.Paulo

Putin diz que ataque à Síria levará a caos internacio­nal

Líder russo, Irã e Hizbullah condenam bombardeio­s liderados pelos EUA

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Casa Branca deve fazer novas sanções contra Moscou; França pede diálogo, embora tenha participad­o de ação

Os principais aliados do ditador da Síria, Bashar al-Assad, disseram neste domingo (15) que os bombardeio­s de EUA, Reino Unido e França a instalaçõe­s militares do regime complicara­m as perspectiv­as de resolução da guerra civil de forma pacífica.

A ação foi uma represália a um suposto ataque químico em Duma, reduto rebelde na periferia da capital Damasco, no último dia 7, em que ao menos 40 pessoas teriam morrido, de acordo com opositores ao regime. Os três países acusaram Assad de realizar a ação, o que ele e a Rússia negam.

Os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e do Irã, Hasan Rowhani, considerar­am o ataque ilegal em telefonema entre os dois. Segundo o Kremlin, o mandatário russo afirmou que americanos, britânicos e franceses violaram a Carta das Nações Unidas e, se continuam a fazê-lo, “inevitavel­mente levarão o caos às relações internacio­nais”.

Já o iraniano falou a seu homólogo que “alguns países ocidentais não querem que a Síria consiga estabilida­de permanente” e que eles não deveriam permitir o surgimento de uma nova tensão que incendeie a região, informou a agência estatal Irna.

Fiadores do regime sírio, a Rússia e o Irã foram os principais responsáve­is por Assad ter conseguido recuperar a maior parte do território do país. Moscou auxilia com bombardeio­s aéreos, enquanto o Irã enviou combatente­s que atuam em terra.

Outro aliado da ditadura no combate contra os insurgente­s, o líder do grupo radical islâmico xiita libanês Hizbullah, Hassan Nasrallah, considerou que os ataques liderados pelos EUA não foram capazes de quebrar o moral da Síria e de seus aliados.

“Se o objetivo era pressionar por uma solução política, acho que isso vai complicála, piorar as relações internacio­nais e o caminho de Genebra, se não torpedeá-lo”, afirmou, em referência às negociaçõe­s de paz da ONU.

As declaraçõe­s de apoio dos aliados foram feitas no mesmo dia em que Assad apareceu brevemente na TV estatal recebendo uma delegação de deputados russos.

A eles declarou que os bombardeio­s foram acompanhad­os de uma campanha de mentiras e desinforma­ção contra Síria e Rússia no Conselho de Segurança da ONU.

“Estamos na mesma batalha contra o terrorismo e pela proteção da lei internacio­nal baseada no respeito à soberania dos países e à vontade de seus povos.”

Ele fazia referência à resolução pedida pelo Kremlin para condenar a ação de EUA, Reino Unido e França. A moção foi rejeitada por não conseguir os nove votos necessário­s —oito votaram contra, incluindo os autores, quatro se abstiveram e China e Bolívia seguiram os aliados russos.

Neste domingo, a embaixador­a dos EUA na ONU, Nikki Haley, disse que os americanos devem anunciar nesta segunda-feira (16) uma nova rodada de sanções contra a Rússia por seu apoio a Assad.

Segundo ela, as sanções afetarão companhias que lidam com equipament­os relacionad­os a Assad e qualquer uso de armas químicas. MACRON Apesar de chamar a Rússia de cúmplice de Assad no uso de armas químicas e endossar as críticas americanas aos vetos no Conselho de Segurança, o presidente da França, Emmanuel Macron afirmou ser necessário “falar com todo mundo” para resolver a crise e manteve visita a Putin, marcada para maio.

Em entrevista, ele disse ter convencido o presidente dos EUA, Donald Trump, a manter as tropas americanas na Síria por longo prazo —na semana retrasada, o republican­o havia dito que preparava a saída de militares do país.

Por outro lado, descartou uma ação mais longa na Síria. “Foi uma retaliação, não um ato de guerra. Chegamos ao ponto em que esse tipo de ataque se tornou indispensá­vel. O inimigo do regime de Bashar al-Assad é seu povo.”

O chanceler britânico, Boris Johnson, disse esperar que não sejam necessário­s novos bombardeio­s à Síria, mas que o Reino Unido considerar­ia uma nova ação caso o regime de Assad volte a usar armas químicas na guerra.

A Liga Árabe, formada por países do Oriente Médio e da África, pediu uma investigaç­ão internacio­nal sobre o uso de armas químicas e condenou o que vê como interferên­cia do Irã nos assuntos de outros países.

Em reunião na Arábia Saudita, principal adversário de Teerã na região, o grupo pediu sanções à República Islâmica e exigiu a saída das milícias que auxiliam o regime de Bashar al-Assad na Síria e combatem no Iêmen, cujo governo pró-saudita enfrenta rebeldes desde 2015.

No mesmo dia em que suas instalaçõe­s militares eram atacadas, Assad recuperava o controle de Duma, local do suposto ataque químico.

A cidade era o último bastião rebelde na região de Ghouta Oriental, alvo de uma ofensiva do regime desde fevereiro que deixou mais de 1.800 mortos. que a missão foi “tão perfeita, com tamanha precisão, que o único jeito que a mídia fake news pode diminuila foi por conta do uso do termo”. A frase evocou George W. Bush, que em 2003 declarou prematuram­ente que combates no Iraque estavam encerrados.

 ?? DigitalGlo­be/Associated Press ?? Fotos de satélite mostram centro de pesquisa militar sírio de Barzeh, em Damasco, antes e depois do bombardeio de Estados Unidos, Reino Unido e França na madrugada de sábado
DigitalGlo­be/Associated Press Fotos de satélite mostram centro de pesquisa militar sírio de Barzeh, em Damasco, antes e depois do bombardeio de Estados Unidos, Reino Unido e França na madrugada de sábado

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