Folha de S.Paulo

Non È un Paese Povero” (ou a Itália não é um país pobre).

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FOLHA

A morte de Vittorio Taviani em Roma, aos 88 anos, põe fim à dupla mais fértil da história do cinema. Foram mais de 20 filmes em parceria com o irmão Paolo. Colaboraçã­o complexa, mas de rara constância e entendimen­to mútuo.

Em resposta a um jornalista que perguntara qual a tarefa de cada um dos irmãos, na direção e na escrita, um deles respondeu: “Nós somos que nem o café com leite. Impossível definir onde termina o café e onde começa o leite”.

Daí surgiu uma das obras mais significat­ivas da geração italiana que começa a filmar nos anos 1960 na Itália.

Ela tem início com a colaboraçã­o entre os cineastas nascidos em Pisa, na Toscana, e seu amigo Valentino Orsini, também de Pisa.

Juntos, os três montarão peças de teatro e se lançarão no cinema com “Un Uomo da Brucciare” (um homem em chamas, 1962) e “Os Fora-daLei do Casamento” (1963).

Tome-se, porém, o título do documentár­io feito em colaboraçã­o com Joris Ivens (1898-1989) e encontrare­mos a preocupaçã­o política que norteia seu trabalho: “L’Italia CRISE DA ESQUERDA Já no início de carreira encontram a esquerda em crise —em “Os Subversivo­s” (1967) militantes de esquerda discutem suas escolhas e rumos após o enterro do velho líder comunista Palmiro Togliatti.

Uma prefiguraç­ão do Maio de 68, talvez. Mas tanto “Allonsanfá­n” (1974) como “Pai Patrão” (1977) dão sequência a seu trabalho crítico. Esse último, Palma de Ouro em Cannes, será seu primeiro grande sucesso internacio­nal.

A trajetória de Gavino, menino do sul da Itália que deve abandonar os estudos para ajudar o pai no trabalho diário é recebida como uma renovação na perspectiv­a do olhar de esquerda. Os Taviani observam mais o concreto do que ideias abstratas.

Segue-se outro triunfo em Cannes com “A Noite de São Lourenço”, (1982), reconstitu­ição de um massacre praticado por nazistas na Toscana, no fim da Segunda Guerra.

No que tem de melhor como em suas fraquezas, o cinema dos irmãos Taviani refletiu em grande medida a crise do pensamento de esquerda desde os anos 1960.

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