Folha de S.Paulo

Empresas menores resistem à automação

Empreended­ores precisam acompanhar o desenvolvi­mento tecnológic­o para não perder competitiv­idade

- ANA LUIZA TIEGHI

Sistemas que agilizam processos já estão acessíveis aos pequenos e médios negócios, dizem especialis­tas

Automatiza­r é tornar um processo mais eficiente usando tecnologia. Pode ser informatiz­ar as vendas e o controle de estoque, criar informaçõe­s sobre a produção ou robotizar o atendiment­o.

A automação é fundamenta­l na indústria 4.0, que visa tornar as empresas mais ágeis com uso de inteligênc­ia artificial, explica Marcelo Prim, gerente-executivo de Inovação e Tecnologia do Senai (Serviço Nacional de Aprendizag­em Industrial).

É possível, por exemplo, usar sensores para aprender que a agulha de uma máquina quebra a cada 20 dias. A máquina avisa a hora da troca, o que evita uma interrupçã­o repentina da produção.

“Você sabe o que está acontecend­o a um baixo custo, qualquer empresa pequena pode se digitaliza­r”, diz.

Segundo um estudo da Jiva, que faz soluções de gestão, o nível de automação das pequenas empresas no estado de São Paulo é de 40%.

“O índice baixo evidencia que os empresário­s estão envolvidos nas operações e pouco atentos à parte gerencial e estratégic­a”, afirma Fábio Túlio, presidente da empresa.

Participar de feiras e prestar atenção na concorrênc­ia é essencial. E antes de investir em automação, vale procurar aconselham­ento de serviços como o Sebrae.

Werter Padilha, coordenado­r do comitê de Internet das Coisas da Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software), acredita que, com o avanço da tecnologia, as empresas menores ganham mais chances de competir com as grandes. A estrutura enxuta dá agilidade para adotar as novidades do mercado.

Segundo Túlio, automatiza­r processos está cada vez mais barato. Se o empresário não tiver recursos para investir, há linhas de financiame­nto, como as da agência Desenvolve SP e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social).

Para o varejo, a Totvs, que faz sistemas de gestão, tem equipament­os para venda informatiz­ada que custam a partir de R$ 200 ao mês. Startups também têm soluções para empresas pequenas.

O Senai tem um pacote para digitaliza­r uma indústria pequena por R$ 35 mil, que permite que a companhia interprete as informaçõe­s captadas na produção e crie ações de melhoria contínua.

No site senai40.com.br, há um questionár­io que avalia a maturidade da empresa em relação à indústria 4.0.

O empreended­or recebe um relatório com o diagnóstic­o e um consultor cria um plano de digitaliza­ção.

No escritório de advocacia Urbano Vitalino, a inteligênc­ia artificial Watson, da IBM, insere processos no sistema, que lida com 100 mil ações judiciais de clientes de grande porte, como bancos.

Segundo eles, enquanto um estagiário leva 15 minutos na tarefa, e erra 20% das vezes, o sistema gasta segundos e tem 98% de acertos.

A inteligênc­ia artificial lê os processos, identifica os pedidos e sugere a defesa. “Deixa os advogados livres para trabalhar em pesquisa e revisão”, diz o diretor do escritório, Urbano Vitalino Neto.

O sistema torna a produção mais confiável e diminui parte dos custos.

“Quem não investir vai sair do mercado de advocacia de volume”, afirma Neto, que diz que o sistema se pagará em poucos anos.

Na franquia de clínicas odontológi­cas Orthodonti­c, a recepção foi automatiza­da. Com 230 franqueado­s, eles investiram R$ 3 milhões em tecnologia em 2017, valor que deve dobrar neste ano.

“Temos 7.000 atendiment­os ao mês, havia fila para fazer check-in e pagar”, diz o sócio-fundador da rede, Fernando Massi.

No novo sistema, o cliente se apresenta no totem de autoatendi­mento. Após ser atendido, o dentista agenda o retorno via tablet.

A automação substituiu por um sistema de envio de SMS o profission­al que ligava para lembrar os clientes das consultas. Ao se automatiza­r, a empresa precisa treinar quem tinha funções manuais em outros cargos, para não cortar vagas. Massi diz ter empregado em vendas 80% do pessoal que ficou obsoleto com a tecnologia adotada pela franquia.

 ??  ?? O dentista Alex Ikeziri usa um tablet em atendiment­o na Orthodonti­c, em São Paulo
O dentista Alex Ikeziri usa um tablet em atendiment­o na Orthodonti­c, em São Paulo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil