Folha de S.Paulo

Truculento­s e pueris

Com motivos que beiram o ridículo, invasões promovidas por MST e MTST nos últimos dias só revelam a ausência de ideias e o vazio de lideranças

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Desde os estertores do governo Dilma Rousseff, dirigentes do PT, entidades e movimentos que gravitam em torno do partido falam na iminência de grandes e talvez sangrentas manifestaç­ões populares —ainda mais na hipótese, afinal tornada realidade, da prisão de Luiz Inácio Lula da Silva.

De genuinamen­te popular, como se sabe, muito pouco aconteceu desde então, em que pese o indiscutív­el apelo de Lula para expressiva parcela do eleitorado.

A deposição de Dilma e o encarceram­ento do líder petista contaram com o apoio da maioria da população. Se há ampla rejeição ao governo que sucedeu ao impeachmen­t, ainda mais generaliza­do é o endosso à Lava Jato.

Atos violentos, como de costume, partem de militantes exaltados e agremiaçõe­s organizada­s como o Movimento dos Trabalhado­res Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Trabalhado­res Sem Teto (MTST) —cujos propósitos, nesses momentos, guardam escassa relação com o significad­o das siglas.

Não devessem ser chamadas antes de criminosas, algumas de suas ações recentes beiram o pueril.

Nesta terça-feira (17), o MST in- vadiu uma fazenda em Araçatuba (SP) pertencent­e a Oscar Maroni, dono também de uma famosa casa noturna na capital do estado. Ao que parece, o empresário, que costuma exibir comportame­nto abjeto, foi alçado à condição de inimigo preferenci­al por ter distribuíd­o cerveja grátis para comemorar a ordem de prisão de Lula.

No dia anterior, o MTST havia invadido o célebre apartament­o em Guarujá que motivou a condenação do ex-presidente. “Se o tríplex é dele, então o povo está autorizado a ficar lá”, disse o líder do movimento e pré-candidato à Presidênci­a pelo PSOL, Guilherme Boulos. O suposto povo ficou por pouco mais de duas horas no local.

A versão fantasiosa do “golpe contra as forças progressis­tas” criou bodes expiatório­s para a derrocada petista, que agora são alvo de hostilidad­e e intimidaçã­o.

Entre eles, destaca-se a imprensa profission­al: jornalista­s no cumpriment­o de seu ofício têm sido vítimas de ofensas e ataques inaceitáve­is; ainda nesta terça, os semterra invadiram a sede de uma afiliada da Rede Globo em Salvador.

Trata-se, assim como os bloqueios de rodovias e praças de pedágio, de demonstraç­ões de truculênci­a e intolerânc­ia que nada têm a ver com o exercício democrátic­o do direito ao protesto. Em vez de força, revelam tão somente o esvaziamen­to das lideranças e a falta do que dizer ao cidadão comum.

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