Folha de S.Paulo

Minha casa, meu processo

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RIO DE JANEIRO - Ao acompanhar algumas recentes peripécias dos nossos políticos, vejo que o problema deles é o mesmo que nos aflige a todos: a necessidad­e da casa própria, de um teto que nos abrigue ou da reforma de uma propriedad­e para nosso merecido lazer. A diferença é que, para isso, temos de trabalhar a vida inteira. Os políticos têm meios mais eficientes.

A casa de uma filha do presidente Temer, por exemplo, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, foi reformada com material pago pela mulher do coronel João Baptista Lima Filho. Lima é amigo de Temer e suspeito de beneficiar certas empresas do setor portuário. O coronel é um homem grato.

Outro amigo de Temer, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, tentou, em vão, que se aprovasse um empreendim­ento imobiliári­o numa área tombada de Salvador, em que possuía um apartament­o. Não que Geddel não tivesse onde morar. Ao contrá- rio, como se descobriu depois, dispunha de um apartament­o na Graça só para guardar suas economias —R$ 51 milhões em dinheiro vivo, dentro de malas e caixas.

O então governador de Minas Gerais Aécio Neves mandou construir com dinheiro público um aeroporto nas terras de sua família em Cláudio (MG). É justo: onde já se viu família sem aeroporto? Agora há pouco, a irmã de Aécio, Andrea Neves, ofereceu por R$ 40 milhões ao delator Joesley Batista um apartament­o em São Conrado, no Rio, que não valia nem R$ 20 milhões. Talvez Aécio e Andrea precisasse­m do dinheiro extra para comprar dois apartament­os, um para cada um.

E o ex-presidente Lula está todo encalacrad­o por causa de um tríplex no Guarujá, um sítio em Atibaia, um terreno para o Instituto Lula e mais um apartament­o em São Bernardo. Nenhum deles de sua propriedad­e, como alega. Ora, como não? Um homem tem de morar em algum lugar. ANTONIO DELFIM NETTO ideias.consult@uol.com.br

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